Causos do Dom – Francisco e Helder – Sintonia espiritual

Causos do Dom – Francisco e Helder – Sintonia espiritual

Colaboração: Pe. Ivanir Antônio Rampon

O Papa Francisco, nos seus doze anos de pontificado, realizou muitos gestos simbólicos de intensa força espiritual que foram captados por todo o mundo e divulgados pelos meios de comunicação. Desde o início do seu Pontificado, nos chamou a atenção as impressionantes semelhanças de tais gestos com ações realizadas por Dom Helder Camara e por outros bispos, presbíteros e religiosos que viveram intensamente o espírito do Concílio e/ou assumiram o Pacto das Catacumbas. Entre eles, havia uma profunda sintonia espiritual!

Dom Helder, por exemplo, quando assumiu a missão de Arcebispo de Olinda e Recife, desejava mudar-se do Palácio Episcopal de Manguinhos para morar numa casa simples, no meio do povo. Isto veio acontecer, alguns anos depois, quando se mudou para a Sacristia da Igreja das Fronteiras, local em que habitou até o seu falecimento. O Papa Francisco escolheu habitar a Casa Santa Marta, para estar mais perto das pessoas…

Chegando a Recife, Dom Helder, como primeira visita, quis encontrar-se com empobrecidos. De fato, no dia 14 de março de 1964, acompanhado de uma equipe da revista O Cruzeiro, visitou os chamados “Mocambos”, realizando assim, um primeiro de outros milhares de contatos. Nessa ocasião, os pobres lhe ensinaram que o termo “Mocambo” significa barraco e não favela como ele pensava. Em Recife, as favelas são chamadas de Morro, Alagado, Córrego. Ele também descobriu que os Alagados eram “muito pior do que as nossas [do Rio de Janeiro] mais tristes Favelas…” (Circular 3 de 14/15-4-64). O contato com o povo de Recife, especialmente dos Mocambos, deu-lhe conhecimento e forças para ser, com audácia e criatividade, ser um verdadeiro Pastor no “coração do subdesenvolvimento”. De fato, “vê-se a realidade melhor da periferia do que do centro” (Francisco).

Em sua primeira viagem fora de Roma (8 de julho de 2013), Francisco foi para Lampedusa, jogou no mar uma coroa de flores amarelas e brancas em memória dos migrantes mortos e celebrou uma Santa Missa com objetos litúrgicos sui generis: um simples báculo feito de madeira de embarcações naufragadas; um altar feito com pedaços de barca que transportara migrantes em busca de uma de vida digna; um ambão feito com um velho timão. Com estes símbolos, Francisco agradeceu a caridade e a misericórdia dos lampedusanos, mas também pediu perdão pela “globalização da indiferença” que há no mundo.

Dom Helder, que se dedicou na busca de uma Igreja pobre e servidora e de uma sociedade justa, fraterna, pacífica e ecológica acolha, no céu, o irmão e Papa Francisco que praticou e nos ensinou a Alegria do Evangelho, a Cultura do Encontro, a Revolução da Ternura, a Misericórdia, a Sinodalidade, o cuidado com a Casa Comum, a Fraternidade Universal, a Amizade Social… Que vivam a plenitude da sintonia espiritual!

Pe. Ivanir Antonio Rampon

Algumas fontes

Dom Helder Camara. Circulares Interconciliares, I – de 11/12 de abril a 9/10 de setembro de 1964. Obras Completas de Dom Helder, Recife: Cepe, 2009.

Francisco. “Vemos a realidade melhor da periferia do que do centro”. Papa Francisco é entrevista por moradores de favelas de Buenos Aires. La Cárcova News, publicada em IHU, 11.32015.

Ivanir Antonio Rampon. Francisco e Helder – Sintonia Espiritual. São Paulo: Paulinas, p. 19-25, 2016.

Ivanir Antonio Rampon. O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p.104, 2013.

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