Causos do Dom – Ano Santo de 1950: Monsenhor Helder organiza a Primeira Peregrinação Oficial Popular para Roma
Colaboração de Pe. Ivanir Rampom
Estamos celebrando o Jubileu dos 2025 anos do nascimento de Jesus Cristo proclamado pelo Papa Francisco e tendo por tema “Peregrinos de Esperança”. Recordamos que Dom Helder foi o organizador, no Brasil, das atividades do Ano Santo de 1950. Neste e no próximo texto, comentaremos um pouco da atuação do Monsenhor Helder.
Em 1948, Helder foi nomeado Monsenhor da Arquidiocese do Rio de Janeiro por Dom Jaime Câmara e, no final de 1949, o Cardeal o encarregou de ajudar o Bispo Auxiliar, Dom Rosalvo Costa Rego, a organizar as solenidades decorrentes do Ano Santo – 1950. Na verdade, Dom Rosalvo estava doente e idoso, precisando de um padre jovem e dinâmico para garantir as celebrações e Dom Jaime, não teve dúvidas, que este deveria ser o Pe. Helder.
Um sacerdote italiano, Angelo Orazzi – que havia muito tempo ajudava a Arquidiocese e que, em 1925, fizera parte de uma peregrinação a Roma –, sugeriu ao Monsenhor Helder uma nova peregrinação. O Monsenhor convenceu Dom Rosalvo a conversar com o Presidente da República, Eurico Gaspar Dutra, para conseguir uma frota marítima. Estando próximas as eleições, o Presidente não hesitou e associou oficialmente o Brasil nas celebrações do Ano Santo, o que possibilitava a viagem de funcionários públicos.
Enquanto era reformada, a nave para 800 pessoas foi visitada muitas vezes pelo Monsenhor Helder e por Bispos brasileiros – o que servia de campanha para a divulgação na imprensa. Helder convidou Aglaia Peixoto, voluntária da Ação Católica Brasileira, para ajudá-lo nas orientações que se deveria dar nos 22 dias de viagens – e ela fez um ótimo trabalho.
A viagem recebeu o pomposo nome de Primeira Peregrinação Oficial Popular a Roma. Como as inscrições chegaram a 1.300, para não frustrar ninguém Monsenhor Camara prometeu uma segunda viagem – a qual o Pe. Orazzi se empenhou de realizar em setembro. Mesmo assim, aconteceram certas tensões, e quando a nave partiu do Rio de Janeiro para buscar os passageiros de Santos já estavam a bordo 800 pessoas.
O Monsenhor ajudava o grupo, recordando que não se estava fazendo turismo, mas peregrinação, justificando-se os sacrifícios e a falta de muito conforto. Houve estudos, orações, encontros, atividades recreativas e brincadeiras em grupo. Vários filmes foram exibidos como, por exemplo, sobre o Santo Sudário, as aparições de Nossa Senhora de Fátima e histórias de Santos.
Diversos causos se contaram dessa viagem, da qual surgiram amizades duradouras. Monsenhor Helder, que alegremente circulava entre os peregrinos, teve de mudar o regulamento – o qual proibia mulheres de usar calças – porque uma enfermeira, apoiada por muitas mulheres, se queixou dos olhares lascivos.
Também recebeu uma revelação imprevista de cinco moças: elas lhe revelaram que eram prostitutas e estavam na peregrinação para ganhar dinheiro e conhecer Paris. No entanto, vieram lhe falar porque sabiam que iam ser compreendidas; o padre poderia ficar tranquilo, pois nada iria acontecer na viagem.
A fama da bondade do Monsenhor Helder crescia tanto que um grupo de jovens teve a coragem de jogá-lo na piscina vestido com a batina para comemorar, alegremente, a passagem da linha do Equador.
Pe. Ivanir Antonio Rampon
Algumas fontes:
Dom Helder Camara. Le conversioni di un vescovo. Torino: Società Editrice Internazionale. Prefazione di José de Broucker, p. 137-140. [Original Lés conversions d’évêque: Editions Seuil, 1977].
Ivanir Antonio Rampon, O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p. 53-55, 2013.
Nelson Piletti e Walter Praxedes, Dom Hélder Câmara: entre o poder e a profecia. São Paulo: Editora Contexto, p. 169-174, 2008.