Memória em Palavras: Sexta-Feira Santa – 04.04.1979

Memória em Palavras: Sexta-Feira Santa – 04.04.1979

Para o resgaste da memória dos escritos do Dom, Geraldo Frencken nos envia essa belíssima reflexão sobre a Semana Santa.

Dom Helder Camara

“Que Eu Aprenda, Afinal, Com A Paixão De Nosso Senhor Jesus Cristo, A Cobrir De Véus O Acidental E Efêmero, Deixando Em Primeiro Plano Apenas O Mistério Da Redenção!”

É difícil encontrar, no Brasil e em toda a América Latina, igreja ou capela antiga sem imagem da Paixão: o esquife com a imagem do Senhor morto; a imagem de Nossa Senhora das Dores; a imagem do Bom Jesus, com a cruz aos ombros.

E em vários lugares ainda se faz a Procissão dos Passos: a imagem do Cristo, acompanhada por multidão imensa, lembrando as passagens principais do caminho para o Calvário.

Permitam que eu deixe aqui duas lembranças fraternas para quem ver imagens assim ou participar dessas procissões.

A primeira lembrança é a de que só adianta nos comovermos diante da imagem de Cristo coroado de espinhos, coberto de suor e de sangue, se nos lembrarmos de que muito mais do que imagem, encontramos o Cristo assim em nosso caminho, todos os dias.

No ano passado, em nossa cidade, um ladrão entrou numa igreja, abriu o Sacrário, levou as ambulas em que estavam hóstias consagradas.

Mas o que interessava a ele eram as ambulas, com o interior banhado a prata ou ouro… As hóstias consagradas, ele as jogou na lama. Quando, horas depois as hóstias foram encontradas, mergulhadas na lama, houve um arrepio na cidade.

Que horror! Cristo na lama!

Houve quem lembrasse uma procissão de desagravo. Foi quando sementei: Como somos cegos! Nós temos Cristo na lama, de modo permanente, em volta de nós! Quanta favela, quantos barracos que não merecem o nome de casa, mergulhados na lama! Aqui está a primeira ideia que nos deve acompanhar sempre, mas, sobretudo durante a Semana Santa: ótimo contemplar a imagem do Bom Jesus dos Passos. Ótimo fazer a Via Sacra, e, fazendo a Via Sacra, contemplar o Bom Jesus dos Passos, se os nossos olhos se abrem para descobrir o Cristo vivo em quem está sofrendo, humilhado, oprimido…

Outra ideia importantíssima é não parar na Sexta-feira Santa. É verdade: Cristo sofreu, morreu, foi enterrado. Mas ressuscitou! Venceu a morte!

Não é um fracassado. Venceu nosso Libertador. E Ele quer que nós continuemos o seu trabalho para libertar o Mundo do pecado e das consequências do pecado, do egoísmo e das consequências do egoísmo.

Gravemos esta verdade: se cada um de nós fosse um pouco menos egoísta, o mundo mudaria!

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