Atualidades – O Aniversário do Profeta

Atualidades – O Aniversário do Profeta

”Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. 

Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval.  

Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: ô jardineira por que estas tão triste? Mas o que foi que aconteceu….Tú és muito mais bonita que a camélia que morreu… Brinque meu povo querido! 

É verdade que quarta-feira a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!” DOm Helder Camara – 1.2.1975

Esse era o pensamento daquele que foi considerado um dos grandes profetas do século XX: Dom Helder Camara.

De baixa estatura, corpo magro e aparência frágil, ele foi um gigante na luta em defesa dos direitos humanos. Seus gritos em defesa da democracia e liberdade de seu país, à época refém de uma ditadura sanguinária e cruel, ecoaram mundo afora. Defender a vida com dignidade foi sua missão de vida.

Sua luta, suas ações, seus escritos, ainda hoje são motivo de polêmicas, às vezes até de xingamentos infundados, mas, acima de tudo, são o alimento, o reforço, o estímulo, para os que acreditam que todas as pessoas têm direito à vida e à vida em abundância. São, digamos assim, o combustível para a defesa dos que acreditam que o pão deve estar em todas as mesas, porque pobre ou rico, branco, preto ou amarelo, morando em mansões ou nas ruas, cada ser humano tem direito a se alimentar e a, ao menos, sobreviver, ainda que seja com o básico para a sua subsistência.

Para quem lidava com reis, governantes, celebridades ou com os despossuídos da terra, a vida precisa ser sempre celebrada, para que seu exemplo continue sendo luz para o caminho dos que acreditam que um novo mundo possível.

Foi com muita alegria e em ritmo de carnaval que os 114 anos de nascimento de Dom Helder Camara foram comemorados, na terça-feira, 7 de fevereiro, na igrejinha das Fronteiras.

O primeiro aniversário natalício do Dom presencial, depois dos tempos mais difíceis da pandemia, foi do jeito que ele gostava, igreja cheia, animada, e, no final, um pouco de carnaval.

Irmã Vanda, presidente do Conselho Curador do IDHeC, leu o pequeno poema que inicia esse texto, fez a acolhida, agradecendo a presença de todos e todas e convidando para a participação na Celebração Eucarística e, ao término da celebração, uma apresentação do Bloco da Saudade.

Presidida pelo capelão das Fronteiras, Pe Fabio Potiguar dos Santos, a missa foi concelebrada pelos padres Mota, Natal, Creomides e Alain, pelo diácono Antonio Sebastião e pelos seminaristas Ítalo e João Vítor.

À frente dos celebrantes, na entrada, um Cartaz da Cáritas Brasileira dizia: “nenhum direito a menos” e o estandarte do bloco Ano 2000 sem Miséria, resumiam o sonho de Dom Helder de que o mundo fosse um lugar melhor para todos e todas.

O Pe Alain, de 92 anos, foi ordenado por Dom Helder e conviveu com ele, durante seu arcebispado, trabalhando junto aos excluídos da sociedade.

Após a partilha eucarística,  Antonio Carlos, diretor-executivo do IDHeC, falou um pouco sobre o sonho de Dom Helder do fim da miséria, sonho ao qual dedicou toda a sua vida, e convidou dois jovens representando os 100 jovens que hoje que são assistidos pela Casa de Frei Francisco, para ler a crônica Carnaval, escrita por Dom Helder em 6 de fevereiro de 1978 e, finalizando , o poema Morreu em Pleno Carnaval, escrito na madrugada de 7 para 8 de fevereiro, em 1986.

CARNAVAL

Segunda-feira, 6.2.1978

Meus queridos amigos

Que me perdoem irmãos católicos para quem o Carnaval seja sinônimo de pecado e de maldição. Carnaval. Sei que há abusos no Carnaval. Mas onde é que não pode haver abuso? Acho um erro criar nas crianças e nos jovens a impressão de que alegria é pecado, ou, pelo menos, de que festa é um perigo, pelo menos festa com dança, da qual é quase impossível sair sem pecar.

Nosso Senhor foi a uma festa de casamento em Canaã. Foi com os apóstolos. Lá encontrou Maria, sua Mãe e nossa Mãe. Que era festa era! Pelo menos, uma certeza podemos ter: havia bebida. É um encanto ver Nossa Senhora lembrar a Cristo que o vinho estava acabando. Era uma sugestão para que Ele, com seu poder, evitasse o vexame da família quando não houvesse mais bebidas para os convidados.

Acho uma delícia que o primeiro milagre de Cristo, feito a pedido de Nossa Senhora, tenha sido, não para fazer o vinho sumir, mudando vinho em água, mas mudando água em vinho. Cristo deixou claro, para sempre, que é possível ir a festas, alegrar-se, até beber (desde, naturalmente, que não se chegue a perder a cabeça), sem pecar.

Conheço pessoas numerosas que brincam o Carnaval inteiro, até a manhã da quarta-feira, sem maldade, sem malícia e sem pecado. Nada como respeitar as preferências de cada um. Quer aproveitar os dias de Carnaval e recolher-se, meditar e rezar? Ótimo. Cuidado apenas para não ficar julgando e condenando quem preferiu brincar o Carnaval. Não somos juízes. E não podemos julgar ninguém.

Quer aproveitar os dias de Carnaval e cair na brincadeira? Ótimo, desde que esteja alerta para não perder a cabeça e exceder-se e derrapar! Quando ouvir cantar: “vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval”, não guarde a ideia errada de que nos três dias da folia do Carnaval tudo é permitido, vale tudo…

Seja você, no Carnaval ou fora do Carnaval, brincando na rua ou em clube, ou fazendo retiro. Você não precisa de fiscais ou de amas- secas. Sabe de sobra o que pode e o que não pode ser feito. E isto não por imposição dos outros, por exigência de fora. Lucidamente.

Questão de convicção, de visão de vida, de amor…

MORREU EM PLENO CARNAVAL

fantasiado…

Chegou ao Céu,

meio sem jeito

achando

que da porta não passaria…

Juntou foi Amigos,

pedindo

que dançasse um frevo…

E sorrindo, bondosa,

chegou Nossa Senhora

com uma sombrinha

indispensável para a Frevança…

Viamão, 7/8.2.1986.

Ao final da celebração, os representantes do Bloco da Saudade foram convidados a se apresentarem e, em seguida, convidaram os presentes para, no pátio das Fronteiras, prestarem uma homenagem ao Dom, como sempre faziam, todos os anos, enquanto ele ainda caminhava conosco, no dia de seu aniversário.

Foi uma celebração da vida de um profeta, cujas sementes de sabedoria continuam sendo semeadas e florescendo nos corações e mentes das pessoas de boa-vontade, que acreditam que o Reino de Deus está sendo construído, em cada gesto de amor, de carinho, de acolhida e, acima de tudo, de partilha.

Amanhã postaremos mais imagens dessa bela celebração.

Um bom carnaval para vocês. Divirtam-se com a consciência de que o seu limite é o respeito ao próximo.

Agradecemos a Iraneide Vitória da Vitória Click as maravilhosas imagens que ela captou e nos enviou.

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