Adeus Zezita Duperron
Maria José Duperron nasceu em Recife, em uma família com nove irmãs e um irmão. Seu pai, Braúlio Cavalcanti foi o primeiro prefeito de São José da Coroa Grande.
Estudou no colégio das Damãs Cristãs o primário, o propedêutico e contabilidade. Na Universidade Federal de Pernambuco cursou Biblioteconomia e Técnica de Administração. Como bibliotecária atuou na organização da biblioteca do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e no Departamento de Águas e Energia do Estado de Pernambuco, estruturando a biblioteca especializada de Engenharia e Eletricidade do órgão. Posteriormente ela foi secretária do reitor da Universidade Católica de Pernambuco.
Fez parte da Federação das Bandeirantes do Brasil, chegando a ser chefe do setor Nordeste da instituição e também coordenadora da Equipe Nacional de Planejamento. Como membro da FBB participou de treinamentos internacionais nos Estados Unidos, Porto Rico e Cuernavaca, no México. Representou as bandeirantes em vários congressos, seminários e conferências, tanto no Brasil como em outros países, como Estados Unidos, Argentina, Chile, Peru e Finlândia. Foi como treinadora da FBB que ela foi se familiarizando com os problemas sociais e despertando para as causas da miséria que prevalecia de forma quase generalizada na Região.
Sua militância como bandeirante a levou a apresentar vários trabalhos , destacando-se, entre eles, \”Terra dos Homens\”, um estudo sobre a realidade sócio-econômica-cultural do Nordeste e \”Nordeste: Desenvolvimento ou Crescimento Econômico?\”, apontando todas as causas que impediam o crescimento educacional dos gupos bandeirantes no Nordeste. Tudo isso lhe possibilitou uma tomada de posição política madura, sempre a favor dos oprimidos, dos mais necessitados. Durante o período da ditadura militar cooperou como militante política.
Dom Helder chegou ao Recife, para assumir a Arquidiocese de Olinda e Recife, em 11 de abril de 1964, logo após a instalação da ditatura militar.
Aqui chegando, precisava de uma secretária que fosse de sua total confiança, tanto no que dizia respeito à área política-religiosa quanto á sua privacidade. Indicada por Dom José Távora, então arcebispo de Aracaju a jovem Zezita, como sempre foi carinhosamente chamada, se enquadrou perfeitamente nas necessidades de Dom Helder de ter a seu lado uma profissional competente e de inteira confiança.
Dom Helder logo percebeu que havia encontrado a auxiliar certa. Zezita possuia várias qualidades que Dom Helder não tinha, sendo uma pessoa extremamente organizada e minuciosa no seu trabalho. Experiente e culta, sabia exatamente a hora de dizer não, sabendo, ao mesmo tempo, dizer sim, quando era necessário.
Durante três décadas Zezita organizou a agenda de Dom Helder, com eficiência e mão firme. Firmeza que gerou alguns descontentamento em algumas pessoas, mas cuja finalidade era garantir o bem estar do Dom.
Enquanto sua função de secretária era explícita, a sua principal função era mesmo a de assessora, a quem Dom Helder sempre procurava ouvir sua opinião sobre os mais variados assuntos. entretanto ela nunca se envolveu com nenhum assunto particular da Arquidiocese, nem na área administrativa, nem na área pastoral.
Zezita dedicou a sua vida a Dom Helder. Afirmou-se pela competência e dedicação total às tarefas que lhe cabiam. Solteira, sem filhos, tinha tempo de se dedicar de corpo e alma aos trabalhos que desenvolvia junto ao arcebispo, aglutinando para si, todas as energias emocionais e produtivas. A partir daí ciraram-se laços muito fortes entre ambos, tendo Dom Helder se tornado membro da família de Zezita.
Zezita proporcionou a Dom Helder o que todo homem público precisa para fugir da chamada \”solidão das multidões\”: uma família. E a família de Zezita o acolhei como a um grande pai, admirado e venerado.
Zezita organizou ainda muitas atividades no âmbito da Igreja, como por exemplo a Operação Esperança, estruturando os trabalhos junto às famílas que iriam residir nos engenhos adquiridos por Dom Helder. Participou de inúmeros contatos importantes em nível internacional, já que por sua qualificação e influência nas ações da Igreja, mantinha um amplo círculo de relações fora do País. Conversou pessoalmente com Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce,Eric Fromm, entre outras personalidades. Foi abençoada pelos papas Pio XII, Paulo VI e João Paulo II, em audiências privadas.
A aposentadoria de Dom Helder praticamente não alterou o relacionamento de Zezita com Domm Helder. Continuou a exercer o mesmo papel que sempre exerceu. As tarefas, é claro, diminuiram, mas continuo a ser secretária particular de uma personalidade internacional, ou, como podemos dizer, a principal assessora de um homem famoso em todo mundo.
Com a fundação, por Dom Helder, da Obras de Frei Francisco, passou a ser sua diretora-presidente. Com o falecimento de Dom Helder a Obras passou a se chamar Instituto Dom Helder Camara – IDHeC, do qual também foi a primeira presidente.
Zezita exerceu um trabalho incansável e inestimável ao lado de Dom Helder e continuou esse trabalho à frente do IDHeC.
Hoje, sua missão chegou ao fim. Uma missão cumprida com empenho e carinho. A ela prestamos toda a nossa homenagem e nosso agradecimento por tudo que ela fez pelo Dom e pelo Instituto Dom Helder Camara.
A diretoria do IDHeC presta sua solidariedade à família de Zezita por sua perda, que também é uma perda para todos que formam o Instituto Dom Helder Camara.