Roger Bourgeon: “Dom Helder, o senhor denuncia sempre as sociedades multinacionais. Poderia explicar-nos de que maneira constituem um risco de tornar mais pobres aqueles que já o são?”
Dom Helder – As sociedades multinacionais são sempre empresas onde o homem não conta, a não ser pelo que possa produzir. Como ocorre com todas as demais companhias capitalistas, seu princípio fundamental é a maximização dos lucros. Para eles, no entanto, esse princípio não se vê de modo algum subordinado às exigências ou limitações de responsabilidade social.
Quando constatam que as fontes de lucro se esgotam numa dada região, simplesmente a abandonam e saem em busca de outra. Seus centros de decisão se localizam com frequência à grande distância desses locais, cujos problemas humanos ignoram solenemente, pois apenas lhes interessa o exame de relatórios e balanços, de números impessoais. Encontro-me frequentemente com diretores ou gerentes de fábricas subordinadas às multinacionais, e eles me dizem sempre que não têm, quer o direito, quer os meios para tomada de providências que lhes pareçam justas e humanas, porque os verdadeiros patrões não são eles, mas figuras distantes, invisíveis. Muitas vezes ignoram quem sejam eles, ou onde se encontram….
Para as sociedades multinacionais, as fontes que proporcionam lucro maior são evidentemente aquelas onde a matéria-prima e a mão-de-obra custam menos. É óbvio que tais fontes se encontram sempre nos países pobres. O lucro maior, no entanto, não tem qualquer relação com a utilidade do produto para a nação fornecedora. Na realidade, ele será sempre, quase sempre vendido em outros países, cujo poder de compra seja mais forte. Além disso, ele jamais será reinvestido se puder encontrar melhores setores de investimento no exterior, o que quase sempre ocorre. A lógica cruel demonstra que os países pobres arcam antes com os custos do que com as vantagens da exploração de suas riquezas naturais.