Causos do Dom: Dom Helder Camara: da cruz peitoral dourada à cruz de madeira

Causos do Dom: Dom Helder Camara: da cruz peitoral dourada à cruz de madeira

Colaboração: Pe. Ivanir Antonio Rampon

No dia 20 de abril de 1952, Dom Helder foi Sagrado (Ordenado Bispo) na Igreja da Candelária, Rio de Janeiro. Ao final da Celebração o novo Bispo foi cumprimentado por seu padrinho de sagração e genro de Margarida Campos Heitor, Antonio Alves Sarda, diretor do Banco Português. Em seguida, vieram os familiares e amigos.

Ao cumprimentar o novo Bispo, Margarida Campos Heitor fez questão de apontar para a cruz peitoral, dando uma piscadinha, querendo insinuar uma cumplicidade entre os dois. A cruz era bem trabalhada, em alto relevo, e ela o presenteara há vários anos. Mas em um aniversário, distraído, ele a presenteou com a mesma cruz. Margarida, na ocasião, não só a recebeu, mas mostrou-se encantada.

Quando o Monsenhor foi eleito Bispo, Margarida a devolveu, comentando, amavelmente, o que se passara. Helder achava a cruz de bronze lindíssima, mas Dom Rosalvo, Arcebispo Auxiliar do Rio de Janeiro, exigiu que ela fosse banhada a ouro para que ficasse à altura da dignidade eclesiástica do futuro Bispo.

Anos depois, durante o Vaticano II, Dom Helder foi presenteado com uma cruz de madeira para simbolizar o seu engajamento em favor dos oprimidos. A cruz de madeira fora confeccionada pelas Irmãs de Foucauld.

Na 56ª Circular, de 28/29 de outubro de 1964, durante o Vaticano II, Dom Helder escreveu a então chamada Família Giovanina: “Quando me vi, em plena Vigília, com a Cruz e o cordão, enviados por uma Irmãzinha do Père Foucauld, senti uma alegria tão profunda, irrompendo tão de dentro; alegria tão pura, tão do céu, tão de Deus, com cheiro de bálsamo e gosto de maná, que cheguei a perguntar a José, os dois rindo de mim mesmo: ´será a isto que os Mestres da vida Espiritual chamam de êxtase!?´…”.

Em janeiro de 1965, em Recife, depois que o velho Amaro (82 anos) beijou a Cruz de madeira, Dom Helder perguntou-lhe:

– “Gosta desta Cruz?”

– “Gosto, Inhôr, sim. Foi em cruz de pau que pregaram Nosso Senhor. Dispois é que inventaram Cruz de ouro”.

No dia 11 de novembro de 2022, primeiro dia do 18º Congresso Eucarístico Nacional, acontecido na Arquidiocese de Olinda e Recife, o Arcebispo Dom Fernando Saburido deu um presente a cada bispo: uma réplica da cruz peitoral de madeira usada por Dom Helder. Na ocasião, Dom Fernando disse:

– “O Congresso Eucarístico traz esse apelo pelo verdadeiro amor, comprometido com os pobres, como no exemplo do ministério do nosso Servo de Deus dom Helder”.

Réplicas da cruz de Dom Helder estão sendo usadas por vários bispos. Outras réplicas estão sendo usadas por helderianos e helderianas no Brasil e no mundo afora.

Pe. Ivanir Antonio Rampon

Algumas fontes

Arquidiocese de Olinda e Recife. Bispos recebem réplica da cruz peitoral de Dom Helder na igreja catedral e mostram a unidade da Igreja em missa campal no pavilhão externo do Centro de Convenções. 11.11.2022 https://www.arquidioceseolindarecife.org/bispos-recebem-replica-da-cruz-peitoral-de-dom-helder-na-igreja-catedral-e-mostram-a-unidade-da-igreja-em-missa-campal-no-pavilhao-externo-do-centro-de-convencoes/

Dom Helder Camara, Circulares Interconciliares. De 23/24 de novembro de 1964 a 17/18 de abril de 1965. Recife: CEPE, v. II, t. II (organizador: Zildo Rocha), 2009.

Dom Helder Camara. Circulares Conciliares: de 10/11 de setembro a 7/8 de dezembro de 1965. Recife: Cepe, v. I, t. III, organizadores: Luiz Carlos Luz Marques e Roberto de Araújo Faria, 2009.

Ivanir Antonio Rampon, O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p. 58, 2013.

Nelson Piletti e Walter Praxedes, Dom Hélder Câmara: entre o poder e a profecia. São Paulo: Editora Contexto, p.190-191, 2008.

Deixe uma resposta