Causos do Dom: Dom Jaime Camara nomeia seu parente para coordenar a ACB

por Pe. Ivanir Antonio Rampon

Em 1942, faleceu de modo repentino, por causa de um infarto, o Cardeal Leme. Será sucedido por Dom Jaime de Barros Câmara, proveniente da Arquidiocese de Belém, Pará. Dom Jaime chegou ao Rio de Janeiro com boas informações sobre o Pe. Helder e buscou aproximar-se deste, afirmando, com orgulho, que ele era seu parente, pois – dizia o Arcebispo – a família Câmara tinha uma única origem: três irmãos portugueses que vieram da Ilha da Madeira no século XVIII e que se dispersaram pelo Brasil.

Dom Jaime logo o desejou para Bispo Auxiliar, propondo-o à Nunciatura em 1946. O Cardeal fazia questão de levá-lo nas visitas pastorais e, em 1946, permitiu a exoneração do cargo no Ministério da Educação, a fim de que se dedicasse exclusivamente ao ministério sacerdotal nomeando-o para a missão de acompanhar a ACB – Ação Católica Brasileira – e organizar a Semana Nacional da entidade (de 31 de maio a 9 de junho de 1946). O Pe. Helder se apaixonou pelo movimento, colaborando nos diversos setores, sobretudo nas organizações femininas.

Em 1948, orientados pelos padres José Távora e Helder Camara, lideranças da ACB começaram a reestruturá-la, colocando em prática as ideias do padre belga Joseph Cardjin, segundo o qual o ser humano é, em grande parte, fruto do meio e não há profunda reforma espiritual nos indivíduos sem, concomitantemente, haver reforma no meio em que trabalham.

Com essas ideias, foi fundada, no Rio de Janeiro, a JOC – Juventude Operária Católica – composta por operários católicos militantes que deveriam converter para Cristo não só dezenas de colegas, mas o próprio mundo operário. Essa visão terá profundas repercussões no apostolado da ACB, nascendo, em seguida, a JAC, JEC, JIC e JUC (Juventude Agrária Católica, Juventude Estudantil Católica, Juventude Independente Católica, Juventude Universitária Católica).

Os militantes destes ramos especializados da ACB colocavam em prática o método ver-julgar-agir. O método revelou-se eficaz à medida em que ajudava os jovens a refletirem sobre sua própria realidade, identificando os problemas, dando um juízo à base dos valores evangélicos e tomando decisões operativas para tornar o país mais cristão.

A ACB (especializada), por sua pedagogia e espiritualidade encarnada, foi importante para o desenvolvimento espiritual do Pe. Helder, bem como para os rumos da Igreja no Brasil nas décadas seguintes.

Entre o Cardeal Jaime e Dom Helder se desenvolveu uma grande amizade e um não seria o que foi sem o outro. As grandes obras do governo pastoral de Dom Jaime foram coordenadas pelo Padre/Dom Helder. Porém sem o aval do Cardeal Camara, Helder não teria feito o que fez no Rio de Janeiro…

Pe. Ivanir Antonio Rampon

Algumas fontes:

Benedicto Tapia de Renedo. Hélder Câmara: proclamas a la juventud. Salamanca: Ediciones Sigueme, p. 17, 1976.

Dom Helder Camara. Le conversioni di un vescovo. Torino: Società Editrice Internazionale. Prefazione di José de Broucker, p. 123-126. [Original Lés conversions d’évêque: Editions Seuil, 1977].

Ivanir Antonio Rampon, O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p. 51-53; 85-89, 2013.

José Gonzáles, Helder Câmara: il grido dei poveri, Roma: Edizione Pauline, p. 79, 1970, 1976^4.

Marcos de Castro, Dom Helder: misticismo e santidade, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 78-79, 2002.

Martinho Condini, Dom Helder Camara: um modelo de esperança, São Paulo: Paulus, p.124-127, 2008.

Nelson Piletti e Walter Praxedes, Dom Hélder Câmara: entre o poder e a profecia. São Paulo: Editora Contexto, p. 159-166, 2008.