Causos do Dom: Por que Dom Helder decidiu fazer Vigílias?
Pe. Ivanir Antonio Rampom
Ao final do curso de Teologia, Helder passou por uma forte crise vocacional. Angustiava-se pelo fato de encontrar-se próximo da ordenação sacerdotal. Estava chegando o momento de realizar o ideal vocacional de sua vida, mas, pensava ele, também poderia contribuir mais com a Igreja canalizando sua inquietude intelectual e ação política sendo um leigo à altura de Jackson de Figueiredo e Alceu Amoroso Lima.
Depois de meses de oração, de conselhos da mãe, de conversas com o reitor e amigo Pe. Tobias, convenceu-se de que não deveria frustrar seu ideal de infância e juventude. Então decidiu que, como sacerdote, não se deixaria engolir pela vida, mas transformaria tudo em oração.
Decidiu, então, que faria encontros pessoais com Deus para salvar a unidade: dedicaria uma parte da madrugada para oração, reflexão e avaliação de sua missão. Não queria viver como um ativista ou fragmentado, “quebrado”, mas queria viver sua vocação e missão com profunda intensidade: “Este é o segredo, a alma de minha vida: creio que uma das coisas mais importantes da própria vida é salvar nossa própria unidade”.
Dessa forma nasceram as Vigílias que, agora mais conhecidas através da publicação das Circulares, revelam melhor a face e a mística de Dom Helder. O hábito ou a fidelidade às Vigílias foi constante em sua vida. Ele considerava a constância nesses momentos intensos de oração como um dos maiores dons que Deus lhe havia dado. Não as considerava penitência, mas uma “conversa de camaradas”.
Ele disse: “Não me dou à penitência… não sou homem de autoflagelações. Em vez disso, acordo-me todas as madrugadas, às duas horas, e me entrego à Vigília. Minha Vigília é uma conversa com Deus, uma conversa de camaradas que não devem ter formalismos nem cerimônias um com o outro”.
A maioria das Circulares foram escritas durante as Vigílias e, em muitas das Circulares, o assunto é sobre a importância de fazermos Vigílias…
A Vigília era tão importante em sua vida a ponto de se perguntar: “Que seria de mim sem a Vigília?…”.
Pe. Ivanir Antonio Rampon
Algumas fontes
Dom Helder Camara. Diversos tomos das Circulares Conciliares, Interconciliares, Pós-Conciliares e Ação Justiça e Paz. Recife: CEPE.
Ivanir Antonio Rampon, O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p. 28 e 211ss, 2013.
Benedicto Tapia de Renedo. Hélder Câmara: proclamas a la juventud. Salamanca: Ediciones Sigueme, p. 12, 1976.
Hélder Câmara. Chi sono io? A cura di Benedicto Tapia de Renedo, presentazione di Ettore Mesina. Assisi: Cittadella Editrice, p. 22, 1979.
José Cayuela. Hélder Câmara – Brasil: ¿un Vietnam católico? Santiago de Chile – Buenos Aires – México – Madrid – Barcelona: Pomaire, p. 160, 1969.
Maria Bernarda Potrick. Dom Helder, pastor e profeta, São Paulo: Edições Paulinas, 1983, 19842.
Nelson Piletti e Walter Praxedes, Dom Hélder Câmara: entre o poder e a profecia. São Paulo: Editora Contexto, p. 77-79, 2008.