Causos do Dom: A família de Dom Helder era pobre?
Colaboração de Pe. Ivanir Antonio Rampon
Grande parte dos santos e santas vieram de famílias pobres que cultivavam intensamente as virtudes teologias – a fé, a esperança e o amor. Outros santos nasceram no seio da nobreza ou da burguesia, mas fizeram uma opção por viver o Evangelho na pobreza e, muitos deles, com os pobres. E a família de Dom Helder, era pobre ou rica?
Estudiosos de Helder afirmam que era pobre. O próprio Dom Helder conta que, certa vez, viu sua mãe chorar, porque faltavam alimentos. Dona Adelaide também lhe ensinou que “eu gosto, eu não gosto disto” é luxo de gente rica. Como ele não gostasse de comer nabos e um dia não queria comê-los, sua mãe lhe disse: “Helder, gostar ou não gostar é coisa de gente rica; come um pouquinho e verás que é bom”.
Outros estudiosos helderianos afirmam que o menino cresceu em um ambiente moralmente sadio, “dentro de uma discreta pobreza”, em que se respirava amor e espírito de serviço à humanidade. Dom Helder diz que sua família vivia de uma forma modesta. Quando ele entrou no Seminário, os pais conseguiram pagar somente a metade de seus estudos, precisando de ajuda da Pia Obra para as Vocações.
Por outro lado, o seu pai era formado em jornalismo e trabalhava como contador em uma das principais casas comerciais do Ceará. O emprego lhe permitia ter boas condições econômicas para formar uma família, possibilitando até colégio privado para os filhos, embora a possibilidade de se tornar proprietário de loja ou de terras fosse remota. Somente depois de 35 anos de trabalho, seus pais conseguiram comprar, a preço simbólico, a casa que o comerciante Boris lhes alugava.
A mãe era professora, quando a maioria da população era analfabeta. O tio era literato, escrevia teatros, conhecia literatura, inclusive a francesa, levava o menino para ensaios e cafés e contribui para despertar o gosto pelas artes e línguas. Seu padrinho de batismo foi o vice-Governador do Ceará casado com a filha do Governador.
Diante dessas observações, podemos dizer que, pelo contexto da época, a família era de “classe média” ao menos do ponto de vista cultural, pois apesar das dificuldades econômicas, tinha alto grau de instrução acadêmica, o que não era possível aos pobres do Ceará no início do século passado: a maioria, inclusive, eram analfabetos.
Aos 14 anos, quando ingressou no Seminário da Prainha, Helder logo se distinguiu dos colegas, quase todos vindos do interior do Ceará, sem terem tido as mesmas oportunidades que ele, pois sua mãe era professora, o pai colaborador de jornal, contava com tios laureados, jornalistas, políticos e seu irmão Gilberto frequentava ambientes literários em Fortaleza.
Ivanir Antonio Rampon. O caminho espiritual de Dom Helder Camara. São Paulo: Paulinas, p. 13-14 e 17.
Outras fontes:
Dom Helder Camara. Le conversioni di um vescovo. Torino: Società Editrice Internazionale. Prefazione di José de Broucker. [Original Lés conversions d’évêque: Editions Seuil, 1977].
Hélder Câmara. Chi sono io? A cura di Benedicto Tapia de Renedo presentazione di Ettore Mesina. Assisi: Cittadella Editrice, 1979.
Benedicto Tapia de Renedo. Hélder Câmara, signo di contradizione. Salamanca: Ediciones Sigueme,1974.
Benedicto Tapia de Renedo. Hélder Câmara: proclamas a la juventud. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1976.
Feliciano Blázquez. Ideario de Hélder Câmara. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1974.