Poema da Missa: Sementes
No dia 29 de agosto de 1978, há exatos 46 anos, na manhã de uma terça-feira, Dom Helder leu, em seu programa diário de rádio Olinda, Um Olhar Sobre a Cidade, a belíssima crônica Sementes.
Logo no primeiro parágrafo ele diz? Divino Semeador, Tu me perguntas que sementes desejo para espalhar pela Terra? Sementes de paz!
Fala um pouco sobre a falta de paz no mundo e continua perguntar que sementes deseja espalhar pela Terra. Vai justificando porque precisa deseja espalhar aquela semente e passa para outra e mais outra.
Que sementes o Dom desejaria espalhar pela Terra? Sementes de Amor, de Compreensão, de antiegoísmo, de esperança e de Fé.
Ele finaliza a crônica dizendo: “Fala-se em liberdade. E há liberdade, ou aparente liberdade, sem igualdade? Fala-se em igualdade. E há igualdade, ou aparente igualdade, sem liberdade? Para haver, de verdade, liberdade e igualdade, só havendo antes verdadeira fraternidade. E só haverá fraternidade autêntica, isto é, os homens só serão mesmo irmãos entre si, quando viverem a realidade que a fé ensina, que sois Pai de todos nós, de todos, o que a todos nos torna irmãos.”
Aos 34 anos de idade, no manuscrito inédito A Escolha de Deus, de 1943, Dom Helder escreve:
“Passarei pela vida sem deixar nenhum sinal mais forte, marca nenhuma duradoura e inesquecível. Não escreverei a Suma Teológica, nem a Divina Comédia. Não serei São Vicente de Paula, nem São João Bosco. Olharei de longe São Francisco Xavier sem poder imitá-lo. Mais de longe ainda São Francisco de Assis. Escreverei uns artiguinhos quaisquer em duas ou três revistas. Talvez deixe uns dois livros, que umas duzentas pessoas cheguem a ler. Pregarei alguns sermões mais ou menos louvados. E morrerei. No meu enterro alguém comentará que eu não produzi o que podia produzir.”
A meia tonelada de escritos enviada ao Vaticano para a continuidade do processo de beatificação e canonização é uma prova concreta de que, na verdade, não foram apenas alguns artiguinhos e que não foram apenas duzentas pessoas que talvez os tenham lido.
Espalhou sementes pela Terra, através de seus escritos e através de ações concretas. Essas sementes foram plantadas e, desde então vêm frutificando, se espalhando e frutificando mais e mais.
Queremos citar aqui apenas alguns frutos das sementes que ele plantou e continuam frutificando: A CNBB, O Encontro de Irmãos, a Cáritas, O Movimento de Cursilho, a Comissão de Justiça e Paz, o Centro Dom Helder Camara de Estudo e Ação Social – CENDHEC e os Trapeiros de Emaús. Sem esquecermos do Tururu e dos engenhos comprados através da Operação Esperança: Ipiranga, Taquari e Guaratama, iniciando a sua própria Reforma Agrária. E esse abençoado chão onde estamos agora, onde funciona o Instituto Dom Helder Camara, sua ultima semente plantada, em 1984, junto com a da Casa de Frei Francisco.
Hoje, 25 anos depois de sua Páscoa, meu caro amigo Dom Helder, você foi além, muito, muito além de suas pretensões. Suas palavras se misturaram bem mais do que você previa e ganharam o mundo.
As sementes que você plantou, germinaram e permanecem frutificando até hoje.
Quem diria que aquele “bispinho” iria tão longe?