Memória em Palavras: A Atualidade dos Discursos de Dom Helder Camara ao Redor do Mundo – 1970 (VI)
Maneira prática de agir
A ‘Ação Justiça e Paz’ deseja exercer pressões morais libertadoras que ajudem, de modo pacífico, mas válido a:
- mudar as estruturas econômico-sociais e políticoculturais
dos países subdesenvolvidos; - levar os países desenvolvidos a integrar suas camadas
sub-desenvolvidas e a rever profundamente a política
internacional do comércio com os países
subdesenvolvidos.
….. …..
Eis algumas sugestões ligadas à documentação necessária sobre os países
subdesenvolvidos. No que diz respeito à América Latina, há neste continente um
verdadeiro colonialismo interno: alguns grupos de privilegiados, cuja riqueza é mantida
à custa da miséria de milhões de concidadãos.
Pergunta-se: - É real que ainda existe um Colonialismo Interno na América Latina? Em casa
afirmativo, como esta afirmação pode ser documentada? - Será que a África e a Ásia também sofrem com o Colonialismo Interno? Neste
caso, em que aspectos a realidade da África e da Ásia são diferentes? - Os países desenvolvidos têm diferenças na compreensão do termo “situação
sub-humana”. Para que esse termo possa ser usado com base objetiva nas pesquisas,
quais seriam os critérios mais verdadeiros e marcantes sobre os quais podemos nos
apoiar? O estado das habitações? Quantidade e qualidade de alimentação? Segurança
alimentar? Precariedade das vestimentas? Ausência de um mínimo de condições
educacionais? Ausência de um mínimo de condições para um trabalho humano que
seja digno? Falta de perspectivas e de esperança? Situação equivalente à escravidão?
Aqui estão algumas sugestões relacionadas com a documentação necessária
sobre os estratos subdesenvolvidos nos países ricos: - É verdade que mesmo os países mais ricos têm suas “áreas cinzentas”, seus
estratos subdesenvolvidos? Como isto pode ser demonstrado? - É provável que haja uma diferença real entre o subdesenvolvimento dos
países pobres e o subdesenvolvimento nos países ricos, mas também é provável que a
distância entre pobres e ricos, dentro dos países ricos, seja chocante. Como fazer com
que esta realidade seja vista e sentida?
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Finalmente, o que deveria a “Ação, Justiça e Paz” fazer e como deve agir na
esperança de atingir seus objetivos muito sérios e difíceis?
As “minorias abraâmicas”1 devem descobrir caminhos para reuniões: - com pessoas de liderança das classes privilegiadas, sempre que as
informações que se tenham recebido sejam válidas e o grupo tenha alguém com
autoridade moral reconhecida, capaz de apresentar as verdades mais duras com a
caridade mais autêntica. - com lideranças de diversas religiões. Os católicos da América Latina em
Medellín (Colômbia) e protestantes em Upsalla (Suécia) chegaram a conclusões muito
graves sobre as injustiças que constituem a violência n.º 1.
Em Beirute, católicos e protestantes assinaram em comum um documento
importante sobre a Justiça em dimensão planetária.
Sem dúvida, no seio de outras religiões, há movimentos semelhantes. Soou a
hora de conseguir que cada religião reencontre, em seus textos sagrados, verdades
capazes de encorajar a promoção humana das pessoas que, mesmo no mundo atual,
ainda são consideradas excluídas. É preciso tocar igualmente na consciência dos ricos.
É preciso mobilizar, em geral, as escolas, em particular, as universidades.
(Discurso na abertura da Ação, Justiça e Paz para o plano mundial. Recife
31.1/1.2 1970. Em: DOM HELDER CAMARA, Circulares Ação Justiça e Paz.
Volume V – Tomo I, p.p. 322-324. (Editora CEPE, Pernambuco, 2022)