Causos do Dom: Visita Inesperada
Prof. Martinho Condini
Um velho e conhecido monsenhor da Arquidiocese de Olinda e Recife, no final de 1960, fazia questão de expor publicamente suas divergências ideológicas com Dom Helder. Não faltavam, logicamente, quem procurava o arcebispo para reclamar e pedir punição ou censura ao religioso. “Era um absurdo que o padre nem mesmo citasse o nome do arcebispo na Oração Eucarística durante a celebração das missas”, comentavam.
Era tanto a insistência que o arcebispo resolveu, num final de tarde, fazer uma visita inesperada ao monsenhor. Surpreso, o padre ficou sem saber muito que fazer. A presença do bispo em sua casa só podia para aplicar algum tipo de punição, quem sabe a transferência da paróquia que administrava há vários anos, pensou. Ao mesmo tempo, de estilo tradicional e conservador, ficou comovido com a visita do arcebispo.
– A que devo a honra da sua visita? Perguntou, sem conter sua admiração pela inesperada chegada.
– Meu irmão, eu vim aqui porque me contaram que você não gosta de mim, além de criticar meu trabalho à frente da Arquidiocese.
E antes que o monsenhor, ainda surpreso com aquela conversa, pudesse falar qualquer coisa, Dom Helder completou:
– Vim aqui para dizer-lhe que não acredito no que andam me contando. Eu não posso imaginar que um irmão de sacerdócio tenha algo contra mim e não venha me dizer pessoalmente.
Desconcertado com o rumo da conversa, o velho monsenhor ficou sem palavras. Depois desse encontro, até o final de sua vida, tornou um grande amigo e confidente do arcebispo.
FILHO, Félix. Além das Ideias: histórias de vida de Dom Helder Camara. 1ª reimpressão. Recife. Cepe. 2016. p.66