Memória em Palavras: A Atualidade de Discursos de Dom Helder Camara
ao Redor do Mundo – 1970 (IV)
Ação Justiça e Paz
Seus objetivos e sua mística: a Ação Justiça e Paz se define por si mesma e em seu nome já traz os seus objetivos:
- Ação: não se trata somente de pensamento, teoria, discussão,
contemplação; - Justiça: há injustiças em todas as partes e há necessidade de
justiça; - Paz: a justiça é a condição, o caminho, a estrada. Somente
passando pela justiça, se chaga à paz verdadeira e durável.
Todas as pessoas que no mundo inteiro têm fome e sede de justiça estão
convidados a caminhar juntos: - as pessoas oprimidas, injustiçadas, países sub-desenvolvidos e camadas subdesenvolvidas
de países ricos; - os que pertencem às classes privilegiadas dos países pobres ou às classes ricas dos
países ricos, que não aceitam mais a injustiça e a reconhecem como sendo a violência
n.º 1; - os técnicos capacitados a compreender a gravidade da distância sempre maior entre
o mundo desenvolvido e o mundo sub-desenvolvido e que, por natureza e vocação,
preferem a pressão moral libertadora à violência sangrenta.
Há pessoas que, mesmo tendo optado pela violência armada, começam a se
perguntar se a violência dos pacíficos não seria a verdadeira solução.
Há pessoas que são ou eram até ontem autoridades e que respondiam à
violência com violência (talvez mesmo sem torturas), mas agora percebem a urgência
da violência dos pacíficos para exigir justiça, sem cair na violência armada e no ódio.
…..
Na sua própria religião, cada pessoa descobrirá a mística necessária para se
doar à justiça como condição para a paz. Com o caminho da Ação de Justiça e Paz, um
dia será uma riqueza espiritual reunir de todos os Livros Sagrados, as exortações,
exigências e orações relacionadas com a justiça. Também nesta linha, os exemplos
trazidos pelos grandes exemplos e modelos, dentro das várias religiões.
Para algumas religiões, a palavra justiça, de tal forma pressupõe todas as
virtudes, que aparece como o sinônimo de santidade.
Quanto à paz, sabe-se que existem pazes que são falsas. Estas lembram os
pântanos sob a luz. A paz que nos fala, que nos toca e pela qual estamos determinados
a nos sacrificar supõe o direito de cada um ser plenamente respeitado: o direito de
Deus e o direito do ser humano. Não só de muitos outros homens: o direito de cada
um e de todos os seres humanos.
Muito vago? Vago demais?
Deus que ama a paz e sabe que ela é fruto da justiça ajudará as pessoas de boa
vontade. O seu Espírito soprará sobre a terra, como na origem da criação ele soprou
sobre as águas. Aquilo que agora parece vago vai ficar mais preciso. O que parece
obscuro se esclarecerá. E os movimentos que parecem sem chefe, sem condutores e
sem guia, serão conduzidos diretamente pelo Senhor.
(Discurso na abertura da Ação, Justiça e Paz para o plano mundial. Recife
31.1/1.2 1970. Em: DOM HELDER CAMARA, Circulares Ação Justiça e Paz.
Volume V – Tomo I, p.p. 320-321. (Editora CEPE, Pernambuco, 2022)