Memória em Palavras: Um Autêntico Cristão
Zildo Rocha
Como tem acontecido nestes últimos tempos, acordei hoje sob o peso de incertezas, inseguranças, insatisfações, como se tivesse sobre os ombros um grande bloco cinza, dificultando-me levantar e retomar o ritmo de minhas atividades.
Habitualmente reajo, inicio o ritual do asseio, levo os filhos ao colégio, assisto à Missa e as nuvens vão aos poucos se dissipando e as perplexidades diluindo-se na rotina do dia.
Hoje, talvez devido ao influxo de algumas palestras de John Main que tenho ouvido ultimamente em fita cassete, foi como se estivesse diante de mim, de maneira bem nítida, a palavra de Jesus: “se alguém quer ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, cada dia, e siga-me”.
Senti como uma exigência da minha condição de discípulo renunciar àquele estado letárgico, a um tempo sofrido e gostoso, de incerteza, insegurança, insatisfações, perplexidade, e pôr-me interiormente de pé, a caminho, no seguimento de Jesus. Pareceu-me isto um gesto de pobreza
interior. De deixar tudo e segui-lo.
Não seria, por outro lado, alienação? Adiar, ou deixar de lado, de maneira um tanto mágica, problemas não ou mal resolvidos, que em geral assomam ao primeiro despertar, como nossa realidade mais íntima?
O que me pareceu novo, entanto, na percepção de hoje, é que ao pôr-me interiormente de pé e a caminho, no seguimento de Jesus, eu devo “tomar minha cruz” e não alijá-la e não aliviar-me dela.
Pareceu-me que a Missa é exatamente esse momento, em que me uno a todos os que são discípulos, em todas as partes do globo, e aos que o foram, em todos os momentos da história, para, com eles, pôr sobre os ombros minha cruz que é a cruz de Jesus Cristo.
Encarar meus problemas, ou restos de problemas, de maneira ativa, buscando – lhes a solução, à luz da celebração da morte e ressurreição do Senhor, que dá o norte a todas as nossas perplexidades, por maiores que sejam.
(01 de setembro de 1992)