Causos do Dom: Ele Foi um Pai para Mim

Prof. Martinho Condini

Este causo é um depoimento de Gilvan [sacristão da Catedral da Sé de Olinda PE, que conviveu com Dom Helder por décadas.

“A Igreja pode não canonizá-lo, mas acredito que ele está no céu. É um santo”, afirma Gilvan.  Quando esteve doente recebeu várias visitas do arcebispo no hospital. “Sempre deixava um envelope com dinheiro, para as minhas despesas com remédios, debaixo do travesseiro”. Mas o arcebispo fazia questão de afirmar que era apenas um portador da generosidade. “Era sempre um amigo que pediu para entregar”, relembrou. Gilvan, na verdade, fazia de conta que acreditava no “amigo” que mandava a ajuda. “Era seu costume. Quando dava esmolas ou alguma gratificação procurava passar despercebido. Não gostava que ninguém soubesse”, afirma Gilvan.

Na Catedral, no alto da Sé em Olinda, que cuida até hoje com zelo e carinho, como se fosse a sua casa própria casa, Gilvan já participou do enterro de quatro bispos. O último, Dom Helder Camara.

Quando voltou de Roma, após participar do Concílio Vaticano II, o arcebispo confiou a Gilvan um paramento que havia recebido de presente do Papa Paulo VI.

– Quando eu morrer gostaria de ser sepultado com esta roupa. Vou confiar este presente em suas mãos.

As vestes litúrgicas ficaram guardadas por longos anos na sacristia da Catedral. Tão logo soube da morte do arcebispo, Gilvan, foi chamado para vesti-lo. “Ele foi enterrado simplesmente como viveu. Somente a batina, uma sandália de couro e o paramento que havia recebido do Papa”, recordou Gilvan.   

Seu túmulo, cuidado zelosamente por Gilvan, é visitado diariamente por fiéis, admiradores e turistas. Todos querem presar uma homenagem ao homem que foi símbolo da paz e da defesa dos oprimidos.

Gilvan continua cultivando sua amizade, gratidão e carinho para com o “Dom”, como seus amigos mais chegados gostavam de chama-lo. Todos os dias, em meio aos seus afazeres na administração da Sé, reza religiosamente um terço à beira do túmulo de Dom Helder. E, emocionado, confessa:

“Guardo tristeza e saudade. Ele foi um pai para mim”.

FILHO, Félix. Além das Ideias: histórias de vida de Dom Helder Camara. 1ª reimpressão. Recife. Cepe. 2016. p.100-101