Atualidades: A Homenagem que Virou Sinfonia
“A Marca de Deus Ficou nas Coisas…
(…) Quem tem ouvidos de ouvir
percebe ritmo
no canto das aves e no coaxar dos sapos,
que tem ouvidos de ouvir
acompanha, maravilhado,
a sinfonia universal
e percebe que só o pecado
é a negação do ritmo.
Dom Helder Camara – Rio, 18.04.1951”
Dom Helder contava que um dia, o padre suíço e também maestro, Pierre Kaelin, o procurou, querendo lhe fazer uma homenagem. Após o maestro lhe explicar como imaginava a homenagem, Dom Helder pensou e lhe disse que tinha uma ideia para a homenagem que ele queria. “Vamos fazer uma homenagem a união dos dois mundos, como hoje vemos dividido o nosso planeta: o mundo dos países ricos, o chamado primeiro mundo e o mundo dos países pobres, o chamado terceiro mundo. Pediu para o Pe. Kaelin aguardar e, dias depois, surgiu com o texto da Sinfonia dos Dois Mundos. Era o ano de 1979.
Quarenta e cinco anos depois, a Sinfonia dos Dois Mundos continua atual, em suas denúncias e em seu desejo de um mundo melhor.
Dom Helder escreveu uma longa meditação em Francês, onde dizia que a miséria gera violência, mas que a esperança renascerá com as crianças. É famosa a sua frase que diz que “Quanto mais negra é a noite, mais bela é a aurora”. E, essa meditação se tornou o texto da SINFONIA DOS DOIS MUNDOS, obra para orquestra, solista e coro. Em 1980 a Sinfonia dos Dois Mundos teve a sua estreia no Collegium Academicum em Genebra, Suíça, com o texto de Dom Helder em francês. Foi exibida 44 vezes em 14 países e em 39 cidades, em três continentes.
Dom Helder quando comentava a respeito da Sinfonia, costumava dizer que, por sua força e capacidade de conscientização, tinha mais peso que 50 conferências que fizesse pelo mundo, pois, em lugar de denunciar em conferências no exterior a prisão de políticos, a perseguição de religiosos, a falta de liberdade de expressão e a pobreza de grande parte da população do Brasil, através da Sinfonia ele chegava aos ouvidos, corações e mentes das pessoas.
A Sinfonia começa com o coro masculino cantando: “Para a segurança dita nacional, quantos povos são atravessados por uma espada enferrujada… Em nome da humanidade exila-se, tortura-se. Sob o peso das estruturas sucumbes, liberdade!”. Até os dias de hoje a Sinfonia é considerada um instrumento de exaltação à liberdade. Ela condena a tortura e o desrespeito aos direitos humanos, levando, ao mesmo tempo, a esperança de um mundo melhor.
A peça foi apresentada pela primeira vez no Brasil em 1985. Primeiro em João Pessoa- PB, no dia 07 de março, no Teatro Paulo Pontes. A coordenação dessas apresentações ficou por conta do então primeiro violinista da Orquestra Sinfônica da Paraíba, Rafael Garcia, tendo como narrador o próprio Dom Helder, com regência do paulista Ayrton Escobar. Os solistas foram Lenice Prioli (contralto) e Zwinglio Faustini (barítono) e os Coros Sinfônico e Infantil da Paraíba.
Dois dias depois houve a apresentação em Recife-PE, no Centro de Convenções. Para as apresentações foi dada nova redação ao texto de abertura”: “Por uma segurança que se diz nacional, quantos povos esmagados por botas pesadas. Em nome da humanidade, exila-se, tortura-se, sob o peso das estruturas, sucumbes, Liberdade!”.
Houve outras apresentações em Recife, como a que aconteceu em 2008, no teatro Santa Isabel, no 10º Virtuosi, em uma noite em homenagem ao Dom da Paz, com a orquestra Jovem de Pernambuco, desta vez sob a regência do maestro Rafael Garcia.
E em 29 de dezembro de 2013, em uma apresentação da Sinfonia no Parque Dona Lindu, executada mais uma vez pela Orquestra Jovem de Pernambuco sob a regência do maestro Rafael Garcia, Fafá de Belém e Adriano Pinheiro foram os solistas e emocionaram o público presente, ao lado do narrador Frei Reinaldo.
No dia 25 de junho de 2017 foi a vez de São Paulo apresentar, pela primeira vez, integralmente, a Sinfonia dos Dois Mundos, para cantar a vida e celebrar a paz, prestando uma homenagem a Dom Helder Camara.
A realização da apresentação contou com o empenho e a dedicação do Pe. Luiz Baronto, que entrou em contato com o IDHeC – Instituto Dom Helder Camara, para obtenção das partituras, vídeo de uma apresentação da Sinfonia, entre outros detalhes.
E, na última sexta-feira, 12 de janeiro, foi a vez da cidade de Belém, comemorando os seus 408 anos de fundação, receber a apresentação da Sinfonia dos Dois Mundos., às 21h no Theatro da Paz.
Essa apresentação foi a realização de um sonho da cantora Fafá de Belém que, desde 1985, sonha em montar a Sinfonia.
AGRADECIMENTOS
Em uma de suas postagens no instagram, Fafá fez os merecidos agradecimentos: “Quero agradecer imensamente àqueles que toparam realizar este sonho comigo. À @equatorial.pa, que desde o primeiro momento abraçou a ideia e decidiu presentear nossa cidade com este Concerto. Ao @governopara pelo apoio, e ao nosso governador @helderbarbalho, que de pronto se dispôs a realizar este espetáculo complexo no Theatro da Paz nesta data, por meio da @secultpara e da #SECOMPA. Obrigada também ao @domhelderidhec pelo apoio cultural, desde o início.”
Aos agradecimentos de Fafá, o IDHeC soma os agradecimentos à jornalista Jô Mazzarolo, que fez a intermediação entre Fafá e a Comunicação do IDHeC e que, desde então, os contatos foram sendo mantidos, a parceria firmada e, finalmente, depois de digitalização e envio das partituras, feitos os devidos ajustes, o sonho se tornou realidade.
Nossos agradecimentos à equipe de Fafá, destacando aqui Rubi, com quem mantivemos permanente contato durante a produção da apresentação e que acolheu o IDHeC com todo carinho.
E nossos agradecimentos Fafá, por sonhar esse sonho e não desistir de realizá-lo. Foi um tributo ao talento e à luta de Dom Helder pela dignidade dos seres humanos. Uma homenagem a quem dedicou a vida à luta pela inclusão dos esquecidos por uma sociedade excludente e fechada nos valores materiais.
Ao lado de Fafá de Belém participaram desse grandioso espetáculo a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, o tenor paraense Atalla Ayan, do coral Carlos Gomes, do Coro Academico do IECG , o coroitacysilva e de Diogo Allmeida que teve a missão de fazer a recitação, papel que Dom Helder exercia nas apresentações da Sinfonia.
A apresentação das 21h foi transmitida, ao vivo, pelo canal do Youtube Fafá de Belém Oficial.
Às 18h houve uma apresentação extra, às 18h, para que todos quanto quisessem assistir, tivessem oportunidade. Ambas foram com entrada gratuita.
O IDHeC esteve muito bem representado na apresentação da Sinfionia dos Dois Mundos em Belém, coim a presenlça de sua diretora executiva Virgínia Pimentel, da presidente do Conselhio Curador Irmã Vanda Araujo, da conselheira Margarida Cabntarelli e da associada Teresa Duere, que foram recebidas com muito carinho por Fafá e sua equipe.
Após assistir à transmissão ao vivo, o historiador e escritor Eduardo Hoornaert envio uma mensagem dizendo “Assisti ontem à noite, embevecido, à ‘Sinfonia dos Dois Mundos’ de Dom Helder Camara, executada no Teatro de Belém sob os auspícios de Fafá de Belém. Ela citou diversas vezes o IDHeC e a parceria. Achei a execução muito boa e espero que você tenha igualmente tido a oportunidade de ver e ouvir.”
Se você não assistiu, ou quer rever, é só clicar no link abaixo:
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