Memória em Palavras: O Sentido das Perseguições a Dom Helder e a Operação Esperança

Memória em Palavras: O Sentido das Perseguições a Dom Helder e a Operação Esperança

Depoimento de Herlinda Borges – parte da equipe da Operação Esperança nos anos de 1971 a 1974.

Dom Helder Câmara, liderança mundial contra o autoritarismo foi autêntico defensor dos Direitos Humanos, em toda sua trajetória, em especial durante a Ditadura Militar.

Dom Hélder por ser um dos principais protagonistas da história da Igreja no Brasil e na América Latina no século XX, bem como incansável lutador contra as injustiças sociais, além de referência mundial em defesa dos direitos humanos foi um dos perseguidos opositores dos 21 anos de ditadura militar no país.

Dom Hélder sempre lutou em favor dos despossuídos, empenhado que estava em construir esperanças. Frente a Diocese de Olinda e Recife, logo se pôs a indagar o Exército sobre a violação dos direitos humanos mediante práticas de perseguição e tortura contra os opositores do regime.

`A semelhança das iniciativas que liderava quando bispo no Rio de Janeiro, Dom Hélder criou, em Recife, um projeto de ajuda às vítimas das enchentes ocorridas no ano de 1965. Dessa ampla campanha, nasceu a Operação Esperança, que se transformou numa entidade registrada em cartório. Com o passar do tempo a entidade ampliou a atuação para as áreas rurais.

Graças a esse trabalho em morros e alagados do Recife e região metropolitana, a entidade se tornou conhecida no mundo inteiro. Isso foi ao mesmo tempo uma espécie de proteção contra as investidas da ditadura na seara plantada pelo bispo, como também uma ferramenta importante para que o povo do nordeste passasse a fortalecer suas organizações e reivindicar seus direitos.

O desafio mais humano é a capacitação e organicidade de grupos em comunidades. Para isto Dom Helder tinha uma equipe inter profissional, que atuava nas comunidades junto às lideranças locais para ampliar suas formas de organizações desde pequenos grupos, associações, conselhos, dentre outras.  Diferentes cursos profissionais capacitavam grupos de jovens e adultos. Muitos destes grupos foram fechados devido a perseguições aos seus instrutores.

Como membro da equipe da Operação Esperança, Maria Herlinda Borges, dou o meu testemunho o quanto era tenso, doloroso e triste, perceber e sentir o risco ao sair do Palácio do Bispo, nas tardes, após reunião com Dom Hélder, onde sabia-se que em frente um carro com a polícia, levava um preso político, sobre tortura, que era obrigado a apontar a próxima vítima, um dos seus colegas, ao sair do arcebispado, local de trabalho junto a equipe que atuava na Operação Esperança. Certa vez eu e Tereza Duere quase fomos levadas, numa dessas investidas ainda dentro dos muros do palácio, voltamos correndo e comunicamos a Dom Helder, que um homem puxava Tereza, que conseguiu se soltar. Noutro momento após reunião com o Dom, o Vieira e o Dida foram apanhados e levados próximo ao Arcebispado, Vieira, que trabalhava no engenho taquari, foi brutalmente torturado para detalhar um esquema da metodologia que desenvolvia o qual encontrava-se em seu bolso, para discutir com a equipe, na reunião seguinte. Dida um jovem que atuava nos serviços gerais o acompanhava e foi preso também e sua tortura era saber que um certo dia iria ser jogado em alto mar, não voltaria mais. Amorim da equipe de educadores estava sendo perseguido e ameaçado, comunicou a Dom Hélder que estava na mira da polícia, Dom perguntou se ele queria sair do Recife para outro lugar dentro ou fora do Brasil, ele disse que tinha acabado de nascer seu filho e que preferia ficar, logo foi preso e sofreu indizíveis torturas. O engenheiro, José Raimundo oliva, professor nos cursos profissionalizantes de eletricidade e bombeiro hidráulico, certa vez dando aula no alto de Casa Amarela, observou um carro parado do lado de fora que seguramente o esperava.

Conseguiu escapar saindo rapidamente em seu fusca enquanto eles seguiam atrás, chegou no meu apartamento lívido, com muito medo. Estávamos noivos. Sugeri que ficasse comigo por uns dias e deixasse o carro na garagem, prevenindo sua prisão.

Nossa comunicação precisava ser bem cuidadosa. A desinformação, a difamação e a calúnia campeavam.

Esse trabalho de conscientização e organização popular prosseguiu ao longo de 20 anos, sempre sobre a mira da ditadura. Havia acirrado o confronto entre os militares e a igreja – a qual contava com outras lideranças tão ativa quanto Dom Hélder – em razão de discordâncias ideológicas e de valores éticos e morais. Isso implicava ameaças, perseguição política e patrulhamento ideológico. Muitos da equipe se retiraram desta situação. O bispo de Recife e Olinda seguiu com suas convicções. Ele foi perseguido, também, porque se recusava a participar das comemorações de aniversário da chamada “revolução” (que era como os militares chamavam o golpe).

Ao denunciar as torturas no Brasil em 1970, no Palácio dos Esportes em Paris, Dom Hélder foi extremamente perseguido e caluniado. Perseguição que se seguiu e tinha em seus colaboradores um grande alvo como perseguições `a sua obra, `a sua pessoa. Um dos casos bastante violento e divulgado amplamente foi do seu colaborador Padre Henrique. A elite brasileira utilizou todos os meios para denegrir a imagem do arcebispo de Olinda e Recife. Acusavam o Dom de ser comunista e subversivo. O regime militar muitas vezes o acusou até de contrabandear armas para os grupos de guerrilha contra a ditadura.

O diálogo com os militares ficou ainda mais difícil após o decreto do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968. As paredes da Igreja das Fronteiras, onde morava Dom Hélder, foram metralhadas pelo grupo de direita denominado Comando de Caça aos Comunistas (CCC).

O patrulhamento acentuado estendeu-se até ao ano de 1977. fora do país sua voz era ouvida, nos anos de 1970, ele fez centenas de pronunciamentos no exterior.

 A retaliação psicológica e moral foi tamanha, que o governo militar chegou a engendrar um boicote para que ele não fosse agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, por quatro vezes indicado.

Depoimento de Herlinda Borges – parte da equipe da Operação Esperança nos anos de 1971 a 1974.

Dom Helder Câmara, liderança mundial contra o autoritarismo foi autêntico defensor dos Direitos Humanos, em toda sua trajetória, em especial durante a Ditadura Militar.

Dom Hélder por ser um dos principais protagonistas da história da Igreja no Brasil e na América Latina no século XX, bem como incansável lutador contra as injustiças sociais, além de referência mundial em defesa dos direitos humanos foi um dos perseguidos opositores dos 21 anos de ditadura militar no país.

Dom Hélder sempre lutou em favor dos despossuídos, empenhado que estava em construir esperanças. Frente a Diocese de Olinda e Recife, logo se pôs a indagar o Exército sobre a violação dos direitos humanos mediante práticas de perseguição e tortura contra os opositores do regime.

`A semelhança das iniciativas que liderava quando bispo no Rio de Janeiro, Dom Hélder criou, em Recife, um projeto de ajuda às vítimas das enchentes ocorridas no ano de 1965. Dessa ampla campanha, nasceu a Operação Esperança, que se transformou numa entidade registrada em cartório. Com o passar do tempo a entidade ampliou a atuação para as áreas rurais.

Graças a esse trabalho em morros e alagados do Recife e região metropolitana, a entidade se tornou conhecida no mundo inteiro. Isso foi ao mesmo tempo uma espécie de proteção contra as investidas da ditadura na seara plantada pelo bispo, como também uma ferramenta importante para que o povo do nordeste passasse a fortalecer suas organizações e reivindicar seus direitos.

O desafio mais humano é a capacitação e organicidade de grupos em comunidades. Para isto Dom Helder tinha uma equipe inter profissional, que atuava nas comunidades junto às lideranças locais para ampliar suas formas de organizações desde pequenos grupos, associações, conselhos, dentre outras.  Diferentes cursos profissionais capacitavam grupos de jovens e adultos. Muitos destes grupos foram fechados devido a perseguições aos seus instrutores.

Como membro da equipe da Operação Esperança, Maria Herlinda Borges, dou o meu testemunho o quanto era tenso, doloroso e triste, perceber e sentir o risco ao sair do Palácio do Bispo, nas tardes, após reunião com Dom Hélder, onde sabia-se que em frente um carro com a polícia, levava um preso político, sobre tortura, que era obrigado a apontar a próxima vítima, um dos seus colegas, ao sair do arcebispado, local de trabalho junto a equipe que atuava na Operação Esperança. Certa vez eu e Tereza Duere quase fomos levadas, numa dessas investidas ainda dentro dos muros do palácio, voltamos correndo e comunicamos a Dom Helder, que um homem puxava Tereza, que conseguiu se soltar. Noutro momento após reunião com o Dom, o Vieira e o Dida foram apanhados e levados próximo ao Arcebispado, Vieira, que trabalhava no engenho taquari, foi brutalmente torturado para detalhar um esquema da metodologia que desenvolvia o qual encontrava-se em seu bolso, para discutir com a equipe, na reunião seguinte. Dida um jovem que atuava nos serviços gerais o acompanhava e foi preso também e sua tortura era saber que um certo dia iria ser jogado em alto mar, não voltaria mais. Amorim da equipe de educadores estava sendo perseguido e ameaçado, comunicou a Dom Hélder que estava na mira da polícia, Dom perguntou se ele queria sair do Recife para outro lugar dentro ou fora do Brasil, ele disse que tinha acabado de nascer seu filho e que preferia ficar, logo foi preso e sofreu indizíveis torturas. O engenheiro, José Raimundo oliva, professor nos cursos profissionalizantes de eletricidade e bombeiro hidráulico, certa vez dando aula no alto de Casa Amarela, observou um carro parado do lado de fora que seguramente o esperava.

Conseguiu escapar saindo rapidamente em seu fusca enquanto eles seguiam atrás, chegou no meu apartamento lívido, com muito medo. Estávamos noivos. Sugeri que ficasse comigo por uns dias e deixasse o carro na garagem, prevenindo sua prisão.

Nossa comunicação precisava ser bem cuidadosa. A desinformação, a difamação e a calúnia campeavam.

Esse trabalho de conscientização e organização popular prosseguiu ao longo de 20 anos, sempre sobre a mira da ditadura. Havia acirrado o confronto entre os militares e a igreja – a qual contava com outras lideranças tão ativa quanto Dom Hélder – em razão de discordâncias ideológicas e de valores éticos e morais. Isso implicava ameaças, perseguição política e patrulhamento ideológico. Muitos da equipe se retiraram desta situação. O bispo de Recife e Olinda seguiu com suas convicções. Ele foi perseguido, também, porque se recusava a participar das comemorações de aniversário da chamada “revolução” (que era como os militares chamavam o golpe).

Ao denunciar as torturas no Brasil em 1970, no Palácio dos Esportes em Paris, Dom Hélder foi extremamente perseguido e caluniado. Perseguição que se seguiu e tinha em seus colaboradores um grande alvo como perseguições `a sua obra, `a sua pessoa. Um dos casos bastante violento e divulgado amplamente foi do seu colaborador Padre Henrique. A elite brasileira utilizou todos os meios para denegrir a imagem do arcebispo de Olinda e Recife. Acusavam o Dom de ser comunista e subversivo. O regime militar muitas vezes o acusou até de contrabandear armas para os grupos de guerrilha contra a ditadura.

O diálogo com os militares ficou ainda mais difícil após o decreto do Ato Institucional número 5, em 13 de dezembro de 1968. As paredes da Igreja das Fronteiras, onde morava Dom Hélder, foram metralhadas pelo grupo de direita denominado Comando de Caça aos Comunistas (CCC).

O patrulhamento acentuado estendeu-se até ao ano de 1977. fora do país sua voz era ouvida, nos anos de 1970, ele fez centenas de pronunciamentos no exterior.

 A retaliação psicológica e moral foi tamanha, que o governo militar chegou a engendrar um boicote para que ele não fosse agraciado com o Prêmio Nobel da Paz, por quatro vezes indicado.

Um comentário sobre “Memória em Palavras: O Sentido das Perseguições a Dom Helder e a Operação Esperança

  1. Parabéns Herlinda por sua trajetória de adesão aos que buscam garantir condições dignas de vida para as pessoas do nosso país, tão bem representada neste depoimento tocante profundo em defesa da democracia brasileira .

Deixe uma resposta