Causos do Dom: Denunciar Sempre

Causos do Dom: Denunciar Sempre

Prof. Martinho Condini

Em 18 de maio de 2000, no Convento São Francisco, na cidade de São Paulo, o Cardeal e Arcebispo Emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns me concedeu esse depoimento sobre um acontecimento com Dom Helder.

“[…]. Eu tinha sido nomeado arcebispo de São Paulo, mas ainda não era cardeal, Dom Helder chegou aqui acompanhado de Dom José Maria Pires, bispo da Paraíba, com diversos líderes mineiros católicos, estavam em minha casa e discutíamos, numa reunião normal, o que se podia fazer para evitar excessos dessa chamada revolução de 1964. Neste momento chegou a notícia de que haviam prendido um padre e uma assistente social. Deixei passar a reunião até ao meio-dia e, enquanto os outros foram para o refeitório e depois descansar um pouco, porque iríamos recomeçar às duas horas, fui para a cadeia, para a prisão. Fui travestido de todas as insígnias de arcebispo e encontrei na porta um senhor que era da região norte, meu conhecido, e eu disse para que ele abrisse depressa para eu poder entrar. E quando ele abriu, num movimento espontâneo, eu entrei e logo saltaram em cima de mim seis ou oito militares. Perguntaram o que eu fazia ali dentro, e eu disse para se ajoelharem, pois estavam diante de um bispo, e todos os presos pela Constituição brasileira tem direito à assistência religiosa. “É sábado, eu quero dar assistência religiosa e quero entrar. ” Eu tinha levado a Constituição do Brasil e a abri exatamente no artigo em que dizia que todos tinham direito à consciência religiosa. “Se vocês não me deixarem entrar, vou denunciá-los. ” Eles me deixaram entrar. Vi o padre, a assistente social, os dois estavam feridos, machucados. “Mas eu quero ver os outros presos”, e vi uma porção de presos, pois estavam lá dentro. Então voltei e contei esse caso para os que estavam reunidos. Dom Helder disse: “É denunciando que essas pessoas desistem de fazer as obras más contra os prisioneiros, nunca devemos deixar passar um ferimento ou uma violação da dignidade humana sem denunciá-la. ””

CONDINI, Martinho. Dom Helder Camara um modelo de esperança. 3ª Ed. São Paulo: Paulus Editora. 2013. p.152-153.  

Deixe uma resposta