Causos do Dom: O Direito de Dizer o Que Pensa
Prof. Martinho Condini
Monsenhor Severino Leite Nogueira, durante quase meio século pároco da Matriz de Santo Antônio, no centro de Recife, gozava de bastante prestígio entre as autoridades. Numa entrevista ao Jornal do Commécio, em 1969, afirmou que Dom Helder “defendia bandidos porque nunca foi vítima de seus atos”, concluindo de forma bastante perigosa para a época que “seria bom que fosse assaltado e torturado par não defender mais bandidos”. Muitos padres da Arquidiocese de Olinda e Recife não gostaram das críticas abertas e defenderam uma advertência ao padre.
Dom Helder negou-se a tomar qualquer atitude. Defendeu o direito de o monsenhor dizer o que pensava e lembrou um episódio bíblico em que o Rei Davi, ao ser interpelado por seu general que pretendia matar um homem que o insultava como sanguinário e atirava pedras na comitiva, respondeu: “Deixem que ele me amaldiçoe. Se Deus permitiu, o que adianta vocês proibirem? Deixem-no, talvez o Senhor olhe a minha humilhação e me restitua a paz” (2Sm 16,5-14). Mesmo sabendo que as acusações que lhe faziam eram injustas, Dom Helder concluiu:
– Aceito acusações do que não fiz para que Deus perdoe algum mal que fiz!
FILHO, Félix. Além das Ideias: histórias de vida de Dom Helder Camara. 1ª reimpressão. Recife. Cepe. 2016. p.106