A Estrela Foi Brilhar no Céu
De nome forte, que fazia jus a quem o portava, a grande estrela das arte e da cultura juntou sua alegria, sua vontade de ajudar a todo mundo o tempo todo, sua garra e seu amor pela família, pelos amigos e pelos companheiros e companheiras de caminhada, na Igreja e na Política e levou seu brilho lá pra cima, porque era chegada o momento de aumentar seu brilho e espalhar sua luz no universo.
Foram 92 anos de muita tinta gasta escrevendo a história de seu amado Pernambuco, fosse nas artes, fosse nas manifestações culturais, na vida pública ou na privada, Leda Alves encantou-se, deixando muita saudade, mas, ao mesmo tempo, espalhando sementes de amor e esperança pelo mundo, seguindo o que ensinava o seu muito querido amigo Dom Helder Camara, de quem esteve ao lado, praticamente, desde a sua chegada ao Recife, em abril de 1964,. Aprendeu com ele que a defesa vida deve estar sempre em primeiro lugar.
Embora tenha sido registrada por seu pai no dia 12 de fevereiro, sempre comemorou a data em que realmente nasceu, 17 de junho de 1931.
Conheceu seu marido na universidade. O amor teve início quando o teatrólogo Hermilo Borba Filho, ao fazer chamada, comentou: “Leocádia” Que nome forte”.
Formada em Arte Dramática pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fundou, junto com o Hermilo , o movimento Teatro Popular do Nordeste (TPN).
Desde o início, no Teatro Popular do Nordeste (TPN) e no Teatro de Arena, sempre ocupou cargos de muita responsabilidade e relevância, como na Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), na presidência da Fundação de Cultura Cidade do Recife, no Teatro de Santa Isabel, como presidente da Editora CEPE e secretária de cultura da cidade do Recife.
Dedicou boa parte de sua vida às artes cênicas, à valorização da cultura popular e às lutas políticas pela democratização do País, pela liberdade de expressão.
Sua história de vida é uma história de lutas e conquistas, de uma mulher corajosa, generosa, solidária, que partilhava com o coração e que defendia a cultura popular e a democracia, com igual dedicação e amor. Sempre encarou todos os desafios para que a arte e seus pensamentos políticos permanecessem. Feliz Idade Leda. Para você, todo o nosso carinho e admiração.
Sua força, sua garra, sua determinação nos inspiram e nos enchem de esperança, nessa longa e árdua caminhada em busca de construir um mundo melhor.
A comemoração de seus 90 anos era para ser uma grande festa, uma festa maior do que possamos imaginar, unindo fé, luta e arte. Deveria ser não apenas a celebração de seus 90 anos de vida, mas também uma celebração ao seu renascimento. Em dezembro de 2020, aos 89 anos de idade, Leda foi pega pela Covid e sobreviveu a ela, com algumas sequelas, inclusive no coração.
Ela sonhava com uma celebração na igrejinha de Dom Helder, e, em seguida, uma festa no pátio em frente à igreja, com a apresentação de todas as manifestações culturais que ela tanto amava. Mas essa pandemia cruel não permitiu. Em junho de 2021 ainda não era possível comemorar nada.
E, na manhã desse sábado, 5 de novembro, Leda cansou de esperar por essa comemoração e resolveu que era o momento de ir comemorar lá no céu, com Hermilo, Dom Helder e tantos amigos e amigas que, com certeza, aguardavam a sua chegada de braços abertos.
Não conseguimos comemorar os seus 90 anos, mas celebramos a sua vida, na missa da esperança, presidida por Dom Fernando e concelebrada por Pe. Fabio Potiguar, na capela do cemitério de Santo Amara, na manhã do domingo 6.
À tarde, já na Morada da Paz, o monge Marcelo Barros fez um momento de oração, iniciando o processo de despedida, um pouco antes da cremação.
Leda Alves foi uma daquelas pessoas que por onde passou deixou marcas profundas e positivas. Seu amor pelas pessoas e pela vida, foi um exemplo para todos os que tiverem o privilégio de conhecê-la e de conviver com ela.
Abaixo colocamos o poema que o seu querido amigo, Frei Betto, escreveu para ela e enviou, lá de Cuba, onde estava, no momento em que Leda fez a sua última viagem:
POEMA DE DESPEDIDA
Você pode derramar lágrimas porque ela se foi
ou alegrar-se por ela ter vivido.
Você pode fechar os olhos e desejar que ela volte
ou abrir os olhos e ver tudo o que ela deixou.
Seu coração pode estar vazio porque você já não pode vê-la
ou ficar repleto do amor que compartilharam.
Você pode voltar as costas
ao futuro e viver do passado
ou ser feliz no futuro por causa do passado.
Você pode lembrar-se dela e do que ela representou
para que ela permaneça.
Você pode chorar e fechar-se, isolar-se, virar as costas
ou fazer o que ela desejaria:
sorrir, abrir os olhos e prosseguir.
Viva Leda, fada das artes e da cultura!
A missa da Esperança será celebrada na próxima quinta-feira, dia 9 de novembro, às 19h, na igreja das Fronteiras, a igrejinha de Dom Helder.