Causos do Dom: A carona

Certa vez, Gilvan [sacristão da Catedral da Sé, Olinda – PE], esperava Dom Helder na porta da Catedral da Sé para mais uma celebração de Natal, observou que ele chegou num carro, acompanhado por quatro homens totalmente desconhecidos. Era mais uma carona, temida por amigos mais próximos preocupados com a segurança do arcebispo naqueles anos de chumbo.

O arcebispo desceu do carro tranquilamente se despedindo dos seus “novos amigos”. Percebeu a preocupação de Gilvan e relatou que, ao sair de casa, foi convidado pelos quatro homens a entrar no carro. Depois de muito insistirem, concordou em pegar uma carona até a Sé de Olinda.

No trajeto entre Recife e Olinda, um dos homens perguntou se “ele sabia quem estava naquele carro? ”

– Claro, sei muito bem. Vocês são quatro irmãos que tenho aqui nesse carro!

– Nós somos quatro oficiais do Exército!

– Não tem problema. Vocês continuam meus irmãos. Respondeu sem perder a tranquilidade nem temer ação contra a sua vida.

Depois de ouvir toda aquela história, Gilvan resolveu questioná-lo seriamente:

– O senhor não pode pegar qualquer carro. É um perigo. E se tivessem matado o senhor?

– Ah, Gilvan, seria uma beleza!

FILHO, Félix. Além das Ideias: histórias de vida de Dom Helder Camara. 1ª reimpressão. Recife. Cepe. 2016. p. 99-100