Homenagem: 59 Anos da Chegada de Dom Helder à Arquidiocese de Olinda e Recife

Homenagem: 59 Anos da Chegada de Dom Helder à Arquidiocese de Olinda e Recife

No dia 12 de abril de 1964, portanto quase duas semanas depois do golpe militar, Dom Helder Camara tomou posse como o sexto arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, iniciando uma nova fase na Igreja de nossa Arquidiocese. 

Ao desembarcar no aeroporto dos Guararapes Dom Helder se dirigiu, imediatamente, para a pracinha do Diário, onde era aguardado por uma multidão que queria ouvir sua mensagem. 

O início do discurso foi marcado por sua proposta de atuação como arcebispo de Olinda e Recife, voltado para a defesa dos direitos humanos. Sua fala no dia de sua chegada ficou conhecida como “Discurso de Posse”, que mostrou, logo de início, a tônica de como seria o seu arcebispado. 

Na madrugada do dia 14 de outubro de 1962, em Roma,  Dom Helder escreveu a sua primeira Carta Conciliar, dirigida à Família do São Joaquim, seus colaboradores na Arquidiocese do Rio de Janeiro, iniciando as famosas Cartas Conciliares, que, a partir de então, ele passou a escrever, diariamente, narrando o que vivenciava durante o Concílio Ecumênico Vaticano II.

A partir da madrugada do dia de sua posse, 12 de abril,  ele começou a escrever para o que ele chamou de a Família Mecejanense. Dom Helder chamou com vários nomes sua equipe de colaboradores mais próximos: Família do São Joaquim, Família Joanina, e, por últimno, Família Mecejanense, que tinha como destinatários simultaneamente os colaboradores da antiga Arquidiocese do Rio de Janeiro e os da nova Arquidiocese de Olinda e Recife.

Ao conjunto dessas cartas chamamos de “Cartas Circulares”. Até o momento, o IDHeC em parceria com a Cepe já publicou cinco volumes, totalizando 13 tomos.

No dia 12 de abril, quarta-feira última, para fazer a memória dessa data histórica, a vereadora Cida Pedrosa preparou uma belíssima Sessão Solene, celebrando os 59 anos da chegada e da posse de Dom Helder Camara como arcebispo de Olinda e Recife. E, como ela própria anunciou, iniciando as comemorações, no próximo ano, dos 60 anos do arcebispado daquele que, à sua passagem, deixou marcas tão profundas que não poderão jamais ser esquecidas.

Antes do início da Solenidade, a irmã Vanda presenteou CIda Pedros, , em nome do IDHeC, com um exemplar da Fotobiografia Dom Helder Camara – O Santo Revelado, que conta história de DOm Helder através de imagens.

A Sessão foi aberta pelo presidente da Casa de José Mariano, o vereador Romerinho Jatobá que convidou para compor a mesa a vereadora Cida Pedrosa, o Sr. Antonio Carlos Aguiar, diretor-Executivo do IDHeC e que estava representando o arcebispo Dom Fernando Saburido; a irmã Maria Vanda Araujo, presidente do IDHeC; o Pe Pedro Rubem, reitor da Unicap, a Srª Célia Trindade, vice-presidente do CENDHEC, o monge Marcelo Barros e a Srª Leda Alves.

Na plateia funcionários do IDHeC, membros da Diretoria, Associados e Conselheiros lotaram o plenário da Câmara Municipal do Recife, ao lado de admiradores de Dom Helder, discípulos, seguidores que têm na conduta do arcebispo, em sua luta pelos DIreitos Humanos e defesa do invísiveis da sociedade, o norte para suas próprias vidas.

O evento foi animado pela belíssima voz de Cynthia, acompanhada pelos integrantes do Grupo Vozes da Resistência Ramos, no violão e Glauber, na percussão.

As falas foram cada uma mais emocionante e significativa que a outra, narrando experiências, e passagens da vida do Dom, seu exemplo de vida e sua fé.

Em meio às Cartas Circulares, podemos encontrar algumas meditações escritas por Dom Helder, sob o nome de Pe. José.

José foi o nome que a mãe pensara em dar ao menino Helder. “José” representa no imaginário de Dom Helder, o Anjo da Guarda e Pe. José, um heterônomo, a parte mística e espiritual de sua alma, que o relembra, através de meditações ou reflexões, suas aspirações mais profundas na busca do ideal cristão. Os poemas- meditações, encontrados nas circulares 6ª e 7ª descrevem os sentimentos e aspirações que o dominavam naqueles seus primeiros dias vividos na Arquidiocese de Olinda e Recife.  As meditações começaram a ser escritas no dia 26.10.1945 e a última de que temos registro é de 14 de Abril de 1990, totalizando 7.547, distribuídas em 50 volumes.

A profundidade e a beleza dessas meditações podem ser sentidas nessas quatro meditações que colocamos abaixo e que foram lidas pelos meninos da Casa de Frei Francisco, encerrando as homenagens. 

MERGULHA, A FUNDO

nos planos divinos.

Mergulha o mais que puderes:

sem medo da massa líquida sobre teu corpo frágil;

sem medo de peixes vorazes que te devorem ou te mutilem;

sem medo de correntes submarinas que te arrastem, traiçoeiras…

Simplesmente sem medo. Quanto mais te entregares mais serás conduzido como criança

que Mãe solícita

envolve nos braços e leva

ao abrigo de todos e de tudo

Recife, 18/19.4.64

DESCUBRO, FELIZ,

que não é, de modo algum, um simulacro de interesse que sinto pelas criaturas.

Amo-as

do mais profundo de mim mesmo: como se as tivesse

arrancado do nada; derramado por elas todo o meu sangue; e vivesse apenas

para que tivessem vida e vida mais abundante… O mistério é simples:

és Tu, meu Deus Uno e Trino que amas teu universo

através de minhas entranhas…

Recife, 18/19.4.64 [fl. 4]

ESTOU FELICÍSSIMO.

Teus pobres descobriram nosso Palácio.

Entram sem medo.

Pisam firme como quem entra na própria casa.

Espalham-se

pelas salas numerosas. Sentem-se à vontade.

Ri a mais não poder encontrando um velhinho sentado, tranqüilo,

no trono

que não quis ocupar. Nunca entendi tanto O Cristo Rei.

Recife, 18/19.4.64

E agora uma meditação da 7ª Circular

ENTENDE E AMA

não só

as praias acolhedoras

que convidam ao descanso e despertam sonhos,

mas as praias ásperas que parecendo hostis são convite perene

à meditação

não tanto apenas

sobre as acolhidas diferentes que damos aos outros,

mas meditação sobre o mistério

das medidas estranhamente diversas aplicadas por Deus

às criaturas…

Recife, 20.4.64

Para complementar as falas, quem não podia estar presente, enviou seu depoimento por vídeo, como foi o caso de Zé Vicente, Chico Buarque, Chico Pinheiro, Pe Júlio Lancelotti, Frei Betto e Leonardo Boff.

Ao final da homenagem, os participantes foram presenteados por Cida com uma réplica da cruz peitoral de madeira, usada por Dom Helder.

A partir de agora, seguimos rumo às comemorações dos 60 anos do arcebispado de Dom Helder Camara.

Parabéns a Cida Pedrosa, ao seu assessor Wictor Santana e a todo o seu gabinete, que organizaram esta tão significativa homenagem a Dom Helder.

Nossos agradecimentos a @Vitória Click que nos presentou com uma cobertura completa do evento em fotos e vídeos.

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