Palavras do Dom: Escravidão
Nos tempos da escravidão, o maior sonho de todo escravo era tor- nar-se livre, era obter sua carta de alforria. Oficialmente, a escravi- dão terminou. Mas quem não encontrou ainda situações muito pró- ximas de antes da Lei Áurea da Princesa Isabel? Quem pensa mesmo que é demagogia falar em condição sub-humana de vida? Quem reconhece que há situações de habitação, de comida, de roupa, de trabalho, que deixam saudade da antiga senzala? Quem não se de- frontou ainda com certas situações de encorajamento à promoção humana que dão a impressão de cartas de alforria que se preparam? Escravos… Escravidão… Além da escravidão pela miséria e pela fome, pela ausência de respeito aos direitos fundamentais da criatu- ra humana, já descobriram quanta escravidão de outros tipos, dei- xando a criatura de mãos e pés atados, de cabeça e coração subjugados, de vida acorrentada?
Quem não consegue livrar-se da embriaguez — pelo álcool ou pe- las drogas — está ou não em escravidão autêntica? Quem está preso a jogo de azar e vai metendo nas apostas o dinheiro que pode e que não pode, está longe de ser livre.
Olhem ao derredor: Quantas escravidões! Algumas conhecidas, outras inesperadas… Nós mesmos: Será que somos livres? Nenhuma escravidão pesa sobre nós? Nossas mãos estão livres ou algemadas? Temos a marcha livre ou nosso pé está amarrado? Nossa mente é livre, ou somos manipulados, ou limitados, ou teleguiados? Nosso coração tem amarras visíveis e amarras invisíveis? Com a ilusão de livre, ele é escravo?
Quem já viu, de perto, uma carta de alforria? Em que termos era redigida? Assinada por quem? Em papel ou pergaminho? Escravo ou escrava podia nem saber ler. Mas sabendo que naquele documen- to estava escrito e assinado que de agora em diante não haveria mais escravos, nem sei como não perdiam o juízo de tanta alegria!
O grande título de Cristo, além de Filho de Deus, é o título de Salvador, de Redentor, de Libertador. Ele veio libertar-nos de toda espécie de escravidão.
Das várias perguntas levantadas no programa de hoje, ao menos estas merecem aprofundamento:
Olhando em volta descobrimos ou não escravidões? Onde, quando e como ajudar a distribuir a irmãos e irmãs, gente como nós, filhos de Deus como nós, cartas autênticas de alforria?
Olhando dentro de nós, bem dentro, temos aparência de livres. Somos livres de verdade ou há escravidões pesando sobre nós e clamando pela riqueza de uma carta de alforria?