Atualidades: Democracia, hoje e sempre!
“O povo junto para enfrentar construtivamente os problemas da comunidade é a riqueza autêntica das autênticas democracias. En- quanto o mundo inteiro, os governos, não acreditarem na capaci- dade do povo e tudo planejarem nos gabinetes, e tudo decidirem com técnicos e supertécnicos, o povo ficará marginalizado. Mas os governos serão os maiores prejudicados. Tudo que é resolvido para o povo, sem o povo, é artificial, não funciona… Quando aprenderemos a acertar o passo, quando aprenderemos a andar juntos?”
Esse texto foi escrito por Dom Helder Camara em 23 de setembro de 1976, portanto há 47 anos. E, como podemos observar, continua atualíssimo, aliás, como tudo o que Dom Helder escreveu. O texto faz parte da crônica Fazer com o Povo, escrita para o programa de rádio Um Olhar Sobre a Cidade.*
E, como em tantas outras ocasiões, é muito clara a preocupação do Dom com os excluídos, os invisíveis que a classe dominante subestima e não escuta.
Essa sua luta, pela garantia dos direitos para todos e todas, o levou a ser uma referência na luta pelos direitos humanos.
E, para lembrar a todo mundo esse bravo batalhador por uma vida digna para todos e todas, ao entrarmos no Memorial da Democracia, nos deparamos com sua foto, um grande poster, ao lado de Lampião, Ariano Suassuna, Gregório Bezerra e tantos outros que lutaram ao lado dos pobres, dos oprimidos.
O Memorial da Democracia, que funciona em um belo casarão dentro do Sítio da Trindade, teve sua ordem de instalação assinada no dia 24 de fevereiro de 2022.
Ele reúne os documentos, registros e informações coletados durante os trabalhos da Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Camara, criada pelo então governador Eduardo Campos, em 2012. Todo material poderá ser consultado gratuitamente, ficando à disposição de pesquisadores e da sociedade, contribuindo para a formação cidadã e fortalecimento da democracia.
Inaugurado em 29 de dezembro de 2022 o Memorial da Democracia de Pernambuco Fernando de Vasconcelos Coelho é um novo espaço físico no Recife para preservação da memória, das lutas por liberdade e por justiça social.
Na inauguração, o prefeito João Campos assinou termo de cessão do casarão do Sítio Trindade ao Governo do Estado por 30 anos. Todo o equipamento permanece sendo usado e administrado pela Prefeitura, incluindo as ações nos ciclos festivos e culturais da capital.
O Sítio Trindade é sinônimo de resistência. Por isso, a escolha do casarão da Prefeitura do Recife reforça a resiliência histórica à luta de Pernambuco. Tombado por sua importância cultural, o local já acolheu o Forte Arraial do Bom Jesus, no século XVII, foco de resistência contra os invasores holandeses. Seu chalé, entre 1960 a 1964, foi a sede do Movimento de Cultura Popular (MCP), que reuniu nomes como Paulo Freire, Abelardo da Hora e Francisco Brennand e teve as atividades encerradas após ser invadido por tanques na ditadura militar. O memorial foi construído com recursos do tesouro estadual.
O espaço dedicado à preservação da memória das lutas pela democracia conta com salas com exposição onde o visitante poderá acessar versões digitais do relatório final da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), com mais de 800 páginas, e os mais de 70 mil documentos coletados, entre prontuários, certidões de óbito, entrevistas e depoimentos. Está previsto ainda no equipamento uma biblioteca com títulos que convergem para a temática proposta pelo memorial, sala para palestras, debates e para exibição de filmes.
O conteúdo histórico do memorial é distribuído em cinco salas do casarão. Dedicada à memória dos que combateram a ditadura militar, aos que foram mortos ou desapareceram durante o regime de exceção (1964-1985), a sala de número 5 é considerada o ponto alto do equipamento. Ali, podem ser vistas imagens de flagrantes de repressão, de manifestações de ruas e referências aos 51 mortos e desaparecidos políticos em Pernambuco ou de pernambucanos vítimas do regime militar fora do Estado.
O Memorial da Democracia tem curadoria da socióloga Isa Grinspum Ferraz, também responsável pela curadoria do Museu Cais do Sertão, e a coordenação de conteúdos e roteiros do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Sobrinha do guerrilheiro Carlos Marighella, assassinado em 1969 por agentes do regime militar, Isa montou um roteiro para o Memorial da Democracia de Pernambuco em que o visitante conhece personagens importantes para a criação da ideia de um estado pernambucano, passando pelas lutas libertárias e contra a escravidão, a história e o propósito do MCP e enfrentamento ao regime de exceção implantado pelos militares em 1964.
Como também um resgate cultural, o projeto conta com réplica da escultura Torre Cinética e de Iluminação, de autoria de Abelardo da Hora, com oito metros de altura, a primeira grande escultura de grande porte feita no Brasil. Criada originalmente em 1961 e instalada na Praça da Torre, o monumento foi destruído em 1964 por censura artística, pelo Exército, por ter sido considerado subversivo e simbolizar a liberdade dos ventos. O local também conta com o Monumento que simboliza o processo de opressão e tortura, mas que também representa a luz e a esperança do espírito imortal é atemporal dos que lutam por liberdade, obra do escultor Jobson Figueiredo.
O Memorial recebe o nome do advogado, professor e político Fernando de Vasconcelos Coelho, que foi o coordenador geral da CEMVDHC, onde encerrou a vida pública. Fernando se destacou nas ações de combate à ditadura militar. Personalidade consagrada do estado, faleceu em 2019.
Ocupando 600 metros quadrados do casarão do Sítio da Trindade, o Memorial teve iniciadas, pelo Governo do Estado, as tratativas para um convênio de gestão coletiva. Atuarão em conjunto as Secretarias de Justiça e Direitos Humanos, Secretaria de Defesa Social, Secretaria de Comunicação, Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur) e Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe).
Com o convênio de cogestão, a SDS ficaria responsável pela segurança do espaço, a Cepe pela manutenção documental e limpeza, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos pela coordenação e a Empetur reforçaria as atividades culturais e de divulgação do patrimônio da cultura pernambucana. “A gestão ficará a cargo da Cepe até que o convênio seja firmado. Essa ação conjunta do Executivo e do Legislativo estaduais fortalece a importância do Memorial para a formação dos cidadãos, estímulo à pesquisa, salvaguardando ainda a história da democracia e de nossas lutas libertárias”, destaca o presidente da Cepe, João Baltar Freire.
No último dia 24 de fevereiro o Memorial recebeu a visita oficial da ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, em um evento privado, que contou com a presença de convidados. E, entre eles, associados do IDHeC como o Pe Pedro Rubens, o Pe Delmar Cardoso, Félix Batista Filho, Marcelo Santacruz, Roberto Franca, o monge Marcelo Barros, além do diretor Cultural Manoel Moraes, que integrou tanto a Comissão da Verdade Dom Helder Camara, quanto a comissão de instalação do Memorial e da coordenadora de Comunicação Rejane Menezes.
A Cepe se fez representar por seu presidente, João Baltar e Igor Bourgos. O PCdoB esteve representado através de Luciano e Lucy Siqueira e Wictor Santana. Foram várias e importantes as presenças entre os convidados, como demonstra a foto oficial.
A ministra Luciana Santos foi uma grande apoiadora e incentivadora da instalação do Memorial, durante sua gestão como vice-governadora. Impossibilitada de estar presente à inauguração por se achar já em Brasília, fez sua visita oficial, coincidentemente no dia 24 de fevereiro, um ano depois da assinatura do termo de instalação do Memorial.
Luciana recebeu uma homenagem por sua inestimável participação em tornar realidade o Memorial. A homenagem foi entregue pelo prof. Manoel Moraes.
Em sua fala a ministra disse que “O Memorial é um lugar para resgatar a memória e a verdade, um instrumento a mais para que o povo conheça sua história. Sobretudo em tempos de ataques à democracia, isso é muito valioso.
Agradeço demais a homenagem que recebi hoje, apenas cumpri o meu papel, contribuindo para que a luta de tantos brasileiros e brasileiras tenha esse reconhecimento. Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.”
O Memorial está aberto ao pública de terça a sexta-feira, das 11h às 17h.
*A crônica pode ser encontrada, junto com mais de 200 outras, no livro Queridos Amigos.
Fonte: Portal da Prefeitura da Cidade do Recife.