O Tombamento do Legado
Vivemos nessa semana que passou um daqueles momentos em que o legado deixado por um profeta se fez presença mais forte na lembrança de na vida das pessoas.
Claro que não estamos falando de um profeta qualquer. Estamos falando de um profeta que, nascido no Nordeste do Brasil, atravessou fronteiras e virou um cidadão do mundo.
Helder Pessoa Camara foi uma dessas pessoas que se lhe amarrassem as mãos, teria dificuldade em dar vida às suas palavras. Seus gestos largos, suas mãos que se elevavam aos céus para falar das coisas terrenas, eram uma marca registrada.
Esse profeta deixou um legado, com mais de 210 páginas de escritos, entre discursos, homilias, crônicas para seus programas de rádio, livros e as meditações do Pe José, só elas, compostas por mais de 7 mil páginas de pequenos poemas.
Um legado que, se existe hoje, na sua totalidade e integridade, se deve ao zelo e ao carinho de algumas pessoas, que , em sua fala de reabertura do Memorial Dom Helder Camara, Antonio Carlos fez questão de citar.
A começar por Zezita Duperont, secretária de Dom Helder desde o momento em que ele chegou ao Recife e que, com sua organização e carinho, deu o pontapé inicial para a preservação do acervo que, naquele momento, ela não fazia ideia a que número chegaria. Ao lado, duas outras queridas amigas do Dom deram e continuam dando a sua contribuição para a preservação desse acervo: Lucinha e Christina.
De 1964 a 1999, foram três décadas e meia de produção de escritos e de zelo em sua preservação, do qual fez parte o nosso inesquecível Comblaim.
Antes mesmo da estruturação do CEDOHC, essas pessoas já citadas e outras que agora citaremos, foram dando forma ao Centro de Documentação , até que ele chegasse ao que é hoje, uma fonte de pesquisa inestimável para quem estuda Dom Helder e a história da Igreja no Brasil e no Mundo.
Maria de Jesus um pouco mais para trás, Maria Helena em tempos mais recentes e Vanuzia, atualmente, são as bibliotecárias que escreveram e escrtevem essa história, ao lado dos historiadores Luis Carlos Marques e Lucy Pina e, atualmente, Filipe Xavier.
Atualmente indisponível para consulta presencial, o acervo encontra-se acondicionado em caixas, devidamente catalogados e dentro de todos os padrões de preservação, nas dependências da Unicap – Universidade Católica de Pernambuco.
Como todos devem se lembrar, a mudança aconteceu em abril de 2020, após uma invasão ao Centro de Documentação, que inviabilizou a permanência de tão valioso acervo.
Através do portal da Cepe – http://www.acervocepe.com.br/acervo/idhec—instituto-dom-helder-camara – uma parte desse acervo pode ser acessada. São mais de 63 mil páginas já digitalizadas. O objetivo é ter todo o acervo digitalizado e disponível para consulta,
No último dia 4 de novembro, tivemos a alegria de ter assinado pelo governador Paulo Câmara, o decreto que autoriza o tombamento do acervo de Dom Heler Camara. A cerimônia aconteceu na Salão das Bandeiras, no Palácio do Campos das Princesas.
Além do governador Paulo Camara, a mesa foi composta pelo diretor-executivo do IDHeC Antonio Carlos Aguiar, pelo chefe dde gabinete do governador Marcelo Canuto, pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando, pelo presidente da Fundarpe Severino pessoa, Pela COnselheira do TCPE Teresa Duere, Pelo secretário estadual de cultura Oscar Barreto, pela presidente do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural Margarida Cantarelli, pelo deputado estadual João Paulo, e pelo Secretário de Desenvolvimento Social de Pernambuco Edilázio Wanderley;
A fala de abertura couve a Antonio Carlos Aguiar, que agradeceu todos que ajudaram o IDHeC, na preservação desse acervo, lembrando o secretário de Cultura anterior, Gilberto Freyre Neto e ex-presidente da Fundarpe, Mario Canuto, bem como ao atual presidente, Severino Pessoa.
Presente ao ato da assinatura, Leda Alves recebeu os agradecimentos e a homenagem do IDHeC, por todo o apoio dado na publicação das Cartas Conciliares.
E finalizou lendo um trecho de uma Carta Conciliar, a 354ª. escrita em 28.1.1968, onde Dom Helder, onde Dom Helder relata, à sua querida Família Mecejanense, as razões de seu desejo de mudança de local de moradia.
“Permitam que recorde e resuma a novela de minha mudança:
• desde a chegada, em abril de 1964, o Palácio de Manguinhos deixou-me a impressão de Casa imensa, latifúndio de vez que se destinava apenas a residência do Arcebispo e de seu Auxiliar. A impressão se agravou, quando foi possível concretizar o velho plano do Auxiliar [D. José Larmatine], de residir, nos fundos do Palácio, com sua Maezinha. Foi quando surgiu o slogan: é casa demais para um bispinho só;
• tentei, de maneiras várias, encher, um pouco, Manguinhos. Trouxe a Cúria para dentro de Casa; ocupei a antiga sede da Cúria ao lado do Palácio, com seis Organizações apostólicas que estavam sem sede; coloquei, dentro do próprio Palácio, a Operação Esperança e o Banco da Providencia;
• houve a experiência de abrir os jardins do Palácio às crianças e os salões às Noitadas;
• aos poucos, consegui livrar-me das duas Salas de Trono;
• durante a Cheia de 1966, Manguinhos viveu dias de plenitude. Mesmo em tempos comuns, o Povo o invade, sobretudo nas tardes de terças e de sextas-feiras;
• quando consegui abrir, escancarar os portões que dão acesso ao Palácio, houve queixa de que os jardins da Casa passaram a ser abrigo de maloqueiros, ladrões, desocupados e cenário de grossas imoralidades. Foi preciso, então, aceitar a figura incrível do Vigia.
• vivi entre o sofrimento de ver, mesmo em noites de chuva, u’a média de 15 Pobres dormindo pelas varandas do Palácio (não pude repetir a façanha de fazê-los entrar, dada a alegação de que receber 15 na terça–feira, seria contar na quarta-feira com 40 e na quinta-feira com 100) e o sobressalto de ver um Vigia, armado, disparar contra Cristo na pessoa do Pobre…
E a carta segue, com todo o planejamento do Dom para ocupação do Palácio, quando ele se mudasse, como era o seu desejo para uma casa pequena e pobre.
Seguiram-se as falas de Margarida Cantarelli, Dom Fernando Saburido e, por fim, do governador.
Vários integrantes do IDHeC compareceram à cerimônia, como a presidente do Conselho Curador, Irmã Vanda Araújo, a vice-presidente Elizabeth Barbosa, os diretores Manoel Moraes, Chritisna Ribeiro, Edelomar Barbosa, alguns funcionários, Giselle Carvalho, Filipe Xavier, Vanuzia Brito e alguns jovens da Casa de Frei Francisco. Também vários associados estavam presentes como Hercílio e Maria Helena, Verônica, Luis Carlos, Pe Delmar Cardoso, Harlan Gadelha, Cylene Araújo, Leda Alves
A cerimônia foi encerrada após a assinatura do decreto.
A cobertura fotográfica foi feita por Vitória Click.