O Chão do Dom Reabre suas Portas
O ano de 2020 começou trazendo um grande susto para o IDHeC – Instituto Dom Helder Camara e, com ele, um grande prejuízo financeiro. Uma invasão ao Centro de Documentação inviabilizou a continuação do funcionamento do CEDOHC no local, após atos de vandalismo, destruição da fiação elétrica e roubo de equipamentos.
O acervo até então guardado no local foi levado para a Unicap, onde se encontra, até o momento, acondicionado em caixas, com todos os cuidados protocolares, aguardando a construção de um novo local, onde o acervo possa ser preservado com segurança.
Dois meses depois da invasão do CEDOHC, que deslocou, inclusive, funcionários e estagiários para a Unicap, fomos todos surpreendidos pela devastadora pandemia que acometeu o mundo, ceifou milhares de vida e, para cumprir com todos os protocolos sanitários, o Memorial Dom Helder Camara fechou as suas portas, inclusive para celebrações, que passaram a ser, por um longo período, apenas transmitidas pela internet.
Nesses dois anos e oito meses em que ficou fechado, após o enfrentamento de dois invernos rigorosos, quando chegou o tempo em que as visitas poderiam voltar, a umidade tinha feito estragos que precisavam de reparos urgentes.
Com a chegada do XVIII Congresso Eucarístico Nacional, também adiado por conta pandemia, não estar com o Memorial reaberto seria privar dezenas de pessoas de várias partes do Brasil de conhecerem o Chão do Dom. Era preciso recuperar o Memorial e reabrir as portas.
Através de um convênio com a FUDARPE, foi possível fazer as obras de manutenção, que foram desde troca de telhas à pintura das paredes, com impermeabilização e tratamento antimofo.
O convênio contemplou também obras de manutenção à Casa de Frei Francisco, que também sofreu com o desgaste causado pelos dois anos de pandemia,
Terminadas as obras, foi preciso realocar tudo que saiu do lugar, para os trabalhos serem realizados, tanto da Casa-Museu, quanto da Exposição Permanente.
Mas empenho, boa-vontade, esforço e carinho transbordavam entre os funcionários, estagiários, diretoria e Conselho, realizando um trabalho primoroso e em tempo recorde, para recompor os ambientes do Memorial, inclusive com limpeza e lavagem de todas as peças, inclusive de tecido, que fazem parte do acervo do Memorial
E assim, no dia 05 de novembro de 2022, pontualmente às 16h, as portas se abriram e o Chão do Dom voltou a se iluminar , com as volta das visitação.
O evento de abertura foi simples, mas significativo, na igreja das Fronteiras. Irmã Vanda, presidente do Conselho Cruador, fez a acolhida, a Conselheira Cylene Araújo leu o poema do Dom A CASA É A MESMA?
As paredes são as mesmas.
E as divisões.
E a cor.
Mas tudo isso
é o lado de fora.
Onde está
a alma da casa?
Onde estão as crianças correndo
em alegre vozerio?
Onde estão as suaves presenças
que docemente regiam o barco?
Onde está
o lado de dentro?…
Rio, 24.03.1959
Meditações do Padre José p. 3370
Em seguida Antonio Carlos Aguiar, diretor-executivo do IDHeC, fez uma breve explanação sobre o Memorial, sua importância, a importância das pessoas que por ali passaram e tomaram os cuidados necessários para que hoje possamos ter preservada a casinha em que o Dom morou por 31 anos e o seu acervo, com mais de 210 mil páginas de escritos.
O Grupo Vozes da Resistência, com Heloísa, Ramos e Adriano, animaram a plateia cantando músicas populares e também de Reginaldo Veloso. Levantou a planteia com Viver e Não ter a Vergonha de Ser Feliz, com todos cantando e celebrando aquela noite memorável.
Depois da música, Giselle Carvalho, coordenadora da Casa de Frei Francisco, fez uma pequena explanação do funcionamento e proposta da Casa e convidou três pessoas para darem seus depoimentos: Um jovem que passou pela casa e hoje está no programa Jovem Aprendiz, já em seu segundo ano, uma jovem que está na Casa esse ano e uma mãe, de cinco filhos, todos tendo passado pela Casa, a caçula ainda frequenta. Dona Eline emocionou a todos os presentes com seu depoimento sincero, emocionado, demonstrando o quanto passar pela CFF mudou a vida de seus filhos e de sua família.
Esses depoimentos foram muito importantes para que as pessoas pudessem ter uma noção mais real do que a CFF faz na vida das famílias e jovens que atende. Manter a Casa funcionando está cada vez mais difícil.
Por isso, depois desse momento tão intenso, o diretor cultural do IDHeC, Manoel Moraes lançou a campanha SOS Casa de Frei Francisco – Adote um Adolescente. Sobre a Campanha vamos falar mais adiante.
Encerrando as apresentações, tivemos a alegria de ouvir o tenor Jeferson Bento, que encantou a todos ao homenagear Dom Helder, cantando a Oração de São Francisco e a Ave Maria de Schubert.
E foi então chegado o momento de, oficialmente, reabrir as portas do Memorial. Filipe Xavier, historiador do CEDHOC e Vanuzia Brito, bibliotecária, convidaram os presentes para uma visita ao Memorial, começando pela Casa-Museu, onde as pessoas entraram pela porta da frente, como o Dom recebia as suas visitas.
O Memorial voltou a funcionar normalmente e encontra-se aberto para visitação de terça a sexta-feira, das 14h às 16h. É só chegar e conhecer.
Visitas de grupos, como escolas, por exemplo, é preciso entrar em contato para agendamento.
Caso ainda não conheça ou queira rever, o Chão do Dom lhe espera.
A cobertrura fotográfica é de Vitória Click