Causos do Dom: Conversa com o reitor do seminário
Por volta de 1930, poucos meses antes da ordenação sacerdotal de Helder, o reitor do Seminário de Fortaleza, Tobias Dequidt, faz uma ronda de inspeção na sala de aula dos seminaristas, abre com chave a escrivaninha do seminarista Helder e descobre que o candidato escreve poemas. Ele os retira e sai de mansinho. O seminarista não reage. Intrigado, o Reitor chama Helder para uma conversa.
“Você não sente falta dos seus papéis? ”
Padre reitor, não fui procura-lo porque lhe tenho um grande respeito. Acho que o senhor se sentiria mal em reconhecer que, de madrugada, como um ladrão, foi até a sala de aula com um lampião para abrir a minha mesa e levar os meus papéis. Não, não. Não quero submetê-lo a essa humilhação.
“Venha cá. Você tem razão. Realmente é algo vergonhoso e não o farei de novo. Olhe, meu filho, em seu armário estavam esses poemas…”
Vamos fazer um pacto de honra: até a minha ordenação não voltarei a fazer o que o Senhor chama de poesia e que eu chamo de meditações.
“Está aqui a sua chave”.
Não, não quero isso só para mim. Não aceitaria um privilégio desses.
“Tudo bem, hoje mesmo vou devolver a chave a todos os seminaristas” (Piletti, pp. 60-61).
Hoornaert, Eduardo. Helder Camara: quando a vida se faz dom. São Paulo: Paulus, 2021.p.173-174. (Coleção Teologia da Vida)