Homenagem a Reginaldo Veloso: E Lá se Vai Mais um Guerreiro

Homenagem a Reginaldo Veloso: E Lá se Vai Mais um Guerreiro

Há quem diga que quando alguém morre a pessoa se acaba. Há quem diga que os cristãos acreditam na ressureição… e que eles acreditam em alguma coisa pra depois dessa vida. Eu queria dizer que a ressureição está aqui! Matam e a vida continua. Matam pra calar a voz da verdade, a luta pela justiça.. e a luta continua! É isso a fé de na ressureição!” *Padre Reginaldo.

Em 1979, o Pe Reginaldo Veloso gravou o álbum “Canto do Chão”. A respeito do álbum e da inspiração de Reginaldo, Dom Helder escreveu o seguinte comentário:

“O Pe Reginaldo Veloso tem o carisma indiscutível do Canto Pastoral. Quem canta um de seus cantos – e quem não conhece o seu “Vinde Santo Espírito” e “da Cepa Brotou a Rama”? … logo percebe que Deus lhe deu o dom de ligar a Palavra Divina, dita ontem, e que se acha no Livro Santo,  com a palavra que o Deus vivo continua dizendo e que se acha, viva, nos acontecimentos do dia a dia …

Percebe, também, com seu canto, tendo raízes profundas no Nordeste brasileiro, se abre à sensibilidade universal.

É fácil prever que O Canto do Chão tem tudo para  vencer no Brasil … e no Estrangeiro!”

+Helder Camara, Arcebispo de Olinda e Recife

Estranhamente a seu hábito de datar tudo que escrevia, dessa vez, Dom Helder não colocou data. Mas, imaginamos que tenha sido por volta do final dos anos 1970, uma vez que o disco ao qual ele se refere, O Canto do Chão, foi lançado em 1979.

E, assim, iniciamos a nossa homenagem ao presbítero das CEB’s, como gostava de ser chamado, Reginaldo Veloso. Um alagoano que foi adotado pelo Recife e que aqui fez sua morada, como pastor e, posteriormente como esposo de Edileuza e pai de João José.

Depois de ter estudado por 8 anos, regressou ao Recife, ordenado padre, em 1966 e foi acolhido pelo arcebispo Dom Helder Camara, tendo sido pároco de Santa Maria, na Macaxeira, durante dez anos e

Em maio de 1978 tornou-se pároco do Morro da Conceição, onde desenvolveu um trabalho com as comunidades na linha da libertação.

Foi incansável em seu trabalho junto às Comunidades Eclesiais de Base, que tinha por objetivo organizar as comunidades, para melhorar as condições de vida nos bairros mais pobres, em questões como o direito à moradia e aos serviços públicos.

“Comunidade Eclesial de Base é quando as famílias se sentem a grande família de Deus, e procuram viver mais intensamente a religião, para que o enfrentamento dos problemas comuns e da defesa dos direitos de todos, tenham bases de fé — Deus é Pai de todos, então todos são irmãos”.  Dom Helder Camara

Reginaldo Veloso esteve sempre ao lado de Dom Helder, inclusive no dia em que foi preso, no aeroporto, no embarque de dois padres que haviam sido expulsos do Brasil e, para evitar que Dom Helder entrasse em uma sala que lhe causaria problemas, Reginaldo gritou para ele não entrar. Resultado? Foi preso.

Amigo de Pe. Henrique, acompanhou todo o trajeto do cortejo fúnebre, do espinheiro ao cemitério da várzea, entoando com a multidão com o canto Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Em 1973 foi um dos conselheiros do encontro dos bispos do Nordeste e participou da elaboração do documento “Eu ouvi os clamores do meu povo”.

O dom de fazer música o acompanhou até o fim. Sua voz mansa, suave, tinha uma força especial quando pregava, fazia uma mística, celebrava a palavra.

Na noite do dia 19 de Maio, sua voz silenciou, mas as sementes que ele espalhou, com suas músicas, suas palavras e seus escritos, continuarão a ecoar, na caminhada de cada um de nós, incentivando, empurrando até, a seguirmos em frente na luta pela libertação.

Vamos colocar, nessa página, algumas das homenagens escritas para Reginaldo Veloso, representando as tantas e mensagens de amor, saudade e carinho, que foram escritas com a sua partida.

Queridas irmãs e queridos irmãos,

“Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”

Este cântico retoma a palavra de Jesus no evangelho que lemos e meditamos nesta manhã (da 6ª feira da 5ª semana da Páscoa).

Na noite de ontem, Reginaldo Veloso, nosso querido irmão e mestre partiu para o Amor Maior. Eu o tinha visitado na UTI anteontem e o quadro já era muito grave. Durante mais de um mês, lutou e agora repousou no seio amoroso de Deus.

 Não há palavras para expressar a dor que sinto pela partida deste irmão, amigo desde que éramos, eu criança e ele adolescente.

Nós que cremos na Vida e amamos a Vida, temos imensa dificuldade de lidar com a partida de pessoas que nos são mais queridas, principalmente, quando se trata de alguém, com a presença forte e a atuação sempre vibrante nas melhores causas da humanidade, como Reginaldo vivia e nos ensinava a viver. 

Certamente, muitas pessoas vão lembrar e elogiar os muitos campos de sua imensa e eficaz atuação social. Para Edileuza, sua esposa, o seu filho João José e as pessoas mais próximas, a dor da partida é mais profunda e mais gratuita: é como dizia uma antiga canção de Sergio Bittencourt: “Naquela mesa, tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim”.

 Conforme o evangelho, o próprio Jesus, nosso Salvador viveu isso e chorou quando soube que o amigo Lázaro tinha falecido.

Ele que disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida fortaleça a nossa esperança e console nossa tristeza”.

Há mais de 50 anos, em 1969, as primeiras melodias que Reginaldo compôs foi a meu pedido, quando estávamos juntos, preparando a Vigília Pascal vivida a partir da reforma litúrgica. Agora, neste tempo pascal, ele vive plenamente a sua Páscoa com o Cristo Ressuscitado na outra dimensão da vida.

Uno-me a vocês, a Edileuza, João José, Artur Peregrino que foi um anjo da guarda para Reginaldo e sua família em todo este tempo mais recente de sua enfermidade e me uno a todas as pessoas que sentem a sua falta. Peço a Deus que nos mantenha unidos no esforço de manter viva a memória dele e o exemplo que ele nos deixou. Que do céu ele nos abençoe.

Abraço saudoso do irmão Marcelo Barros

Padre Reginaldo Veloso, Boca de povo!

P. Ademir Guedes Azevedo, cp.

Sou da nova geração que ainda teve o privilégio e a sorte de conhecer Reginaldo Veloso, graças a Deus! Recordo que em 2007, em Lagoa Seca/PB, o encontrei no congresso sobre canto e música litúrgica. Franzino, educado, linguagem acessível, inteligência brilhante, perspicácia, sensibilidade com o interlocutor…mas sobretudo ousado, subversivo, profeta, solidário, e homem perigoso porque muitos temiam o Evangelho que ele pregava, exatamente aquele de Jesus de Nazaré: um Evangelho que liberta e que interrompe a falsa ordem do dia que faz de conta que não existe pobre, desempregado, operários famintos, crianças abandonadas, marginalidade…Reginaldo fez a radical opção pela Sequela Christi até o fim. “Servo Bom e fiel toma parte na minha alegria!” Tenho certeza de que agora é o Mestre Jesus quem canta esse refrão para ele.

Enquanto escrevo estas linhas me vem em mente a sua famosa canção de 1991, Boca de povo-povo. Era o hino da Campanha da Fraternidade daquele ano que abraçava a causa dos trabalhadores de um Brasil esquecido e sucateado pela política (não muito diferente de agora!) e que golpeava seriamente a classe desempregada. Reginaldo, com sua fineza teológica e tomado por uma espiritualidade inculturada, alimentava a esperança e a justiça, fazia arder o coração quando os lábios cantavam suas canções, era possível pensar ainda em futuro, em direitos humanos, justiça para o menor…Boca de povo, ou melhor, boca do Evangelho! Boca de Boa notícia!

Nem precisamos elencar a sua herança litúrgica, nem as teses acadêmicas que foram feitas sobre a sua teologia. Basta ouvir o hinário da CNBB e qualquer um se dará conta dos ritmos que revelam uma espiritualidade totalmente centrada na carta Magna da Constituição Dogmática do Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium). Reginaldo levou a sério o que o Concílio refletiu sobre participação plena, ativa e frutuosa. E o Canto e a música foram os canais do Espírito Santo que devolveram ao povo a sua expressão nas eucaristias.

Reginaldo fez da norma da oração a sua norma de fé (Lex orandi, lex credendi) como ele sempre gostava de repetir. Ele viveu a fé envolvido numa oração que o jogava diante das necessidades humanas que gritavam aos céus. Sempre me pergunto se as eucaristias que eu presido tem essa força centrífuga, ou seja, de fazer-me enxergar o meu próximo com os olhos de Jesus que se fez Eucaristia para servir os menores deste mundo. Reginaldo é aquele tipo de parábola viva do Evangelho que nos questiona se realmente somos cristãos ou se celebramos o Mistério Sagrado como um ato pagão, sem solidariedade, e sem responsabilidade com a vida. A norma da oração é a norma da fé, ou seja, eu acredito do jeito que celebro e isso nos causa perplexidade e até um certo tremor. E o que dizer das nossas eucaristias separadas da vida? Não é uma tentativa de privatizar a fé e reduzi-la às nossas falsas explicações que justificam a indiferença diante do drama da vida? Nem precisa aprofundar tanto, basta ouvir o magistério da Igreja e dali ecoa a voz do Papa Francisco clamando por uma Igreja em saída, samaritana e comprometida com os acidentados nas estradas deste mundo.

Padre Reginaldo, patriarca das Comunidades de Base e exemplar pai de família. Nunca abandonou a Igreja de Jesus e o seu Evangelho, ele apenas mudou de trincheira, mas sempre lutando para fazer ecoar a libertação e a fraternidade, chaves para o Reino. Amado por Dom Helder e respeitado pelos pobres, gozava de uma autoridade inquestionável, porque sempre viveu revestido do avental do serviço em meio às periferias e comunidades. Fica um legado para as novas gerações. Oxalá seja honrada a sua memória e que sua causa, o Evangelho, seja também a nossa. Reginaldo, Boca de Povo, intercede por nós. Continuamos por aqui com gratidão e celebrando as muitas lutas que ainda teremos pela frente.

Poema de Cynthia Santos

Padre Reginado Veloso

O teu canto profético não terá fim

As verdades que no tempo entoaste

Gritam e brotam como flor num jardim

A crepitar acordes e poesias

De justiça, paz e libertação

Hoje contemplas na eternidade

A divina Ruah, a quem tanto amaste

E cantaremos juntos esta louvação.

Padre Reginaldo Veloso, presente, presente, presente!

Recebemos a notícia com muito pesar sobre o falecimento de um grande amigo do MST, que cerrou as fileiras pela vida do povo e pela Reforma Agrária!

Viva a memória e o legado de Reginaldo Veloso nosso companheiro e profeta! Viva essa bonita, que tanto nos ensinou. Ele é luz e inspiração na construção do caminho da nossa libertação. ??

Desejamos que a família de Reginaldo supere com alegria e paz este momento de dor e saudade. Seguimos unidos na luta por um mundo como Reginaldo nos ensinou! ????

Boa passagem, companheiro!

Sua vida é semente de esperança na construção do Reino de Deus! ?

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Adeus Comapnheiro Reginaldo

Estive a noite no velório de Padre Reginaldo, muita emoção nos cantos e depoimentos, prestei o meu testemunho, quase não consegui concluir, reportando-me a luta de Reginaldo pelos direitos humanos, lembrei-me do carinho e amizade que minha saudosa  mãe tinha por ele, resultado da imensurável solidariedade e o inestimável apoio recebido, quando do sequestro e assassinato de seu filho Fernando. Infelizmente, hoje amanheci com muita dor de cabeça e aparentemente gripado, por motivo de precaução em relação a saúde dos outros, fiquei de resguardo em casa. Espero que seja algo passageiro, decorrência do abalo emocional provocada pelas recentes três grandes perdas para igreja católica e movimento social : Padres Thiago, João Pubben e agora, Reginaldo Veloso, refletindo, quanto custa para termos padres que vivam o evangelho subversivamente no bom sentido , especialmente, quando estamos carentes de padres com formação social, comprometidos com os excluídos.Esteve também Antônio Carlos , fez um bom resgate da participação e compromisso de Padre Reginaldo com a refundação da nossa Comissão de Justiça e Paz e generosamente, trouxe-me em casa em Olinda.

Estou triste com o encantamento de Padre Reginaldo Veloso, contraditoriamente, por outro lado, muito alegre, nesta oportunidade encontra-se refestelado nos braços de DEUS, na companhia de tanta gente querida, que como ele, viveram a radicalidade e a subversividade como consequência do evangelho em Cristo.  Padre Reginaldo, deixa um legado de compromisso social da Igreja Católica na sua fé e prática ecumênica, tornando-o imortal, presente em nossas memórias. Seremos sempre dignos e verdadeiros dos ensinamentos de Padre Reginaldo Veloso – Presente Agora e Sempre . Estamos irmanados  e solidários com sua querida companheira Edileuza e de seu filho muito amado João José

Marcelo Santa Cruz – 20/05/2022

Inspiração Divina

A inspiração divina de Reginaldo transparece na radicalidade do seu profetismo: mestre, anunciava os desejos de Deus para conosco, cantando, cativando as crianças e trazendo-nos o sotaque e o cheiro do povo; denunciava com voz firme a opressão, mazelas e falsidades já foram das Igrejas, dos poderosos, de qualquer um de nós ou do seu estimado Partido dos Trabalhadores; nos ensinava, e ia junto, para lutar por um mundo sem injustiçados, sem oprimidos nem opressores; unia, reunia, refletia e orava em comunidade para que a mensagem de Jesus iluminasse nosso dia a dia e contribuísse a transformar a sociedade; amava, vivia no amor. Deixa-nos esse precioso legado. Na dor, agradeço o presente de ter podido conviver com ele e de sentir-me seu discípulo desde recém chegado ao Brasil há mais de cinquenta anos.

Miguel Espar

Homilia de Marcelo Barros na Celebraçãode Corpo Presente

Evangelho de Jesus Cristo segundo João. (Jo 17, 24 – 26).

Na véspera da sua Páscoa, após cear com os discípulos e discípulas, ainda na mesa, Jesus orou assim:

“- Pai, eu quero que aonde eu estiver, estejam comigo as pessoas que me deste, para que vejam a minha glória que me deste, porque me amaste antes da criação do mundo.

Pai santo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci e estas pessoas que me deste descobriram que Tu me enviaste. Eu lhes dei a conhecer o teu nome, e lhes darei a conhecer mais ainda, para que o amor que me amaste esteja neles e nelas, assim como eu também esteja neles e nelas”. Palavra da Salvação. 

Queridas irmãs e queridos irmãos,

Cada vez que escutamos o evangelho de Jesus na comunidade cristã, essa palavra deve ser para nós uma boa notícia e um novo chamado de Deus para as nossas vidas. Esta palavra que acabamos de ouvir agora é o final da oração que, conforme o quarto evangelho, Jesus fez ao Pai na última ceia. Portanto, no evangelho de João, esta é a oração eucarística de Jesus e aliás a única oração da qual o quarto evangelho narra o conteúdo; a única, na qual o evangelista revela o que Jesus teria dito no seu diálogo com o Pai. E o que, nesta oração, Jesus pede é que todas as pessoas que o Pai lhe deu possam estar com ele, isso é, participem de sua Páscoa, vivam com ele a experiência da sua hora e recebam como ele, Jesus, recebeu a glória do Pai, isso é, o sinal forte e visível da presença e da ação  divina em suas vidas.

De fato, isso que, nesta oração, Jesus pediu ao Pai, sabemos que o Pai atendeu plenamente e a vida de Reginaldo é um testemunho disso. Todos e todas nós aqui somos testemunhas de como esta identificação com Jesus e sua missão ocorreu quase ao pé da letra na vida de nosso irmão Reginaldo. O seu corpo que contemplamos aqui é como o final desta oração eucarística, é como o Amém de uma longa eucaristia ou seja uma vida de comunhão com o projeto divino, de total entrega de si mesmo e de ação de graças na alegria do louvor e no amor, do amor à Edileusa, sua esposa, na felicidade de ter visto o seu filho João José crescer neste amor e era incrível como ele sempre enchia os olhos de emoção só ao pronunciar o nome João José e as queridas comunidades e grupos dos morros, becos e córregos que anteciparam para Reginaldo o céu da comunhão eucarística do Cristo.

Como toda eucaristia contém o memorial da vida e da Páscoa de Jesus, este memorial hoje aqui não é proclamado e encenado, de forma convencional, por um padre, no altar de um templo, com o pão e o vinho. A eucaristia é sinal, como um abraço e um beijo são sinais de amor, mas o que adianta o sinal se não tiver por trás uma realidade que torne sempre o sinal verdadeiro? Hoje a matéria dessa eucaristia é toda a vida de Reginaldo. O pão e o vinho dessa eucaristia laical é  esse corpo que hoje plantamos na terra como semente, para que germine em nossa vida e em um Brasil novo e mais justo para o qual Reginaldo sempre lutou. Hoje o memorial eucarístico é a própria história e a vida de Reginaldo.

Assim, nós colocamos aqui neste altar da Terra e do céu, neste altar que é este grupo escolar aqui no coração do Morro, as inumeráveis histórias que cada um, cada uma que conviveu com ele tem para lembrar e para contar. Uns podem contar coisas de mais tempo, como eu que o conheci quando ainda era criança e ele adolescente. E desde então sempre fomos amigos. Outros com mais tempo, outros com menos. O importante não é o tempo quantitativo e sim sermos todos e todas testemunhas da realização do projeto divino no mundo. E aí este evangelho que escutamos agora nos lembra que Jesus, na véspera da Paixão, sabendo que iria ser preso e ser morto, ora não por si mesmo, mas pelos outros e pela continuidade da missão no mundo. Oração de profunda esperança, mesmo em momento tão duro e aparentemente sem saída. Essa sempre foi a fé de Reginaldo, a fé pascal que ele viveu e sempre nos testemunhou. Esta é sua herança.

No Sínodo sobre a Amazônia, o documento preparatório pedia que se abrissem novas formas de ministério presbiteral e missionário e o papa Francisco na exortação Querida Amazônia faz ressoar este desejo. Reginaldo Veloso antecipou isso e durante toda a sua vida foi como ele dizia “presbítero leigo das comunidades”. E uma das formas através da qual ele viveu isso foi nos ajudando a prolongar essa oração de Jesus tornando eucarísticas toda a nossa vida, nossas relações e nossa forma de louvar a Deus.

Ao trazer o seu corpo para este espaço e fazer esse momento de despedida neste estilo, Edileuza e João José sinalizam que nos guiarão na continuidade da eucaristização do mundo que a Páscoa de Reginaldo aponta e que nós aqui nos comprometemos a completar: Como disse o apóstolo Paulo: “completo em minha carne o que falta às tribulações de Cristo, por seu corpo que é a Igreja, isso é, a comunidade de fé” (Cl 1, 24).

Nesta mesma data em que hoje plantamos na terra o corpo de Reginaldo, no 21 de maio de 1998, o povo Xukuru do Ororubá plantava na serra sagrada o corpo do cacique Xicão, mártir na luta de reorganização do seu povo e na luta pela retomada do seu território sagrado.

Proponho que compreendamos estas tribulações do Cristo, hoje, contemplando os sofrimentos do corpo de Cristo que é o povo crucificado nas periferias de nossas cidades, nas aldeias indígenas, nas comunidades negras, no martírio que sofre cada dia o povo da rua em nossas cidades e o Brasil inteiro, crucificado por esta política de morte e de ódio que nos governa.

Em nome de Reginaldo e como legado da eucaristia que por sua vida e sua Páscoa, ele celebra conosco vamos nos empenhar e lutar para que o Brasil inteiro possa voltar a sorrir, sem medo de ser feliz

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