Causos do Dom:Medellín uma Esperança

Causos do Dom:Medellín uma Esperança

Prof. Martinho Condini

Medellín foi uma graça na caminha de Dom Helder, que considera a reunião do CELAM, em 1968, naquela cidade colombiana, um marco na vida da Igreja na América Latina. Sobre Medellín ele afirmou:

– Porque nós, aqui desta parte cristã do mundo pobre, nós da América Latina, repetimos aqui as mesmas injustiças que os países ricos cometem em relação aos países pobres. Temos aqui em nosso continente o colonialismo interno. Ricos de nossos países obtêm a própria riqueza esmagando concidadãos. E o grave é que nós, homens da Igreja, padres e sobretudo bispos, com as melhores intenções, vivíamos de tal maneira preocupados com a chamada ordem social que nem percebíamos as tremendas injustiças que se escondiam – por trás da pseudo-ordem social, que é muito mais uma desordem social estratificada.

                Em Medellín, Deus permitiu que se visse isso com clareza, que se corrigisse o erro de tanto tempo – isso é que dá àquele encontro uma importância tão transcendental, lembra Dom Helder. Sobretudo porque não se tratava de um encontro de meia dúzia de bispos exaltados. Não. Tratava-se de um encontro oficialíssimo (o superlativo é dele mesmo), convocado pelo papa Paulo VI, aberto por ele, em que todos os bispos presentes tinham sido eleitos por suas conferencias episcopais. E as conclusões foram examinadas cuidadosamente em Roma e aprovadas pelo papa. Foi a proclamação oficial de que nesse continente cristão existe o pior dos colonialismos: o colonialismo interno.

A reação à Medellín é um capítulo importante:

– É claro que uma reação iria ocorrer – e nada mais lógico. Se vivíamos sendo suportes de uma falsa ordem social e, de repente, conscientes, sentimos a necessidade de denunciar as injustiças e de encorajar a promoção humana, governos e grupos privilegiados da América Latina tinham que reagir, porque evidentemente não podiam ficar satisfeitos. O que surpreendeu foi a inteligência da reação. Porque os grupos privilegiados e os governos jamais combatem o cristianismo. Isso nunca. Pois se são defensores da civilização cristã…. Eles combatem é infiltração comunista na Igreja. O que não deixa de ser uma saída inteligente.

                Que ao mesmo tempo, entretanto, proporcionou a esses bispos que se levantaram contra as injustiças aquilo que Dom Helder considera um imenso privilégio: viver a oitava bem-aventurança. Pois quando Cristo descreve as bem-aventuranças, a oitava é sofrer por amor à justiça.

CASTRO, Marcos de. Dom Helder: misticismo e santidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 46 a 47.

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