Padre João Pubben: Presente!
Prestamos aqui a nosa homenagem ao nosso querido Padre João Pubben, através de textos e imagens que retratam um pouco do que significa para nós, esse sábio e inesquecível pastor.
PADRE JOÃO PUBBEN, Congregação da Missão
Em abril de 2015, quando estávamos organizando o blog Dom Helder Camara-IDHeC, solicitamos ao Padre João Pubben que nos contasse um pouco da história das missas dominicais nas Fronteiras, para podermos compartilhar no blog.
Com muita alegria ele escreveu, com a sua maneira objetiva, porém rica nos detalhes importantes:
“O que me consta é que dom Helder começou a celebrar a Eucaristia aos domingos em ‘sua’ Igreja depois de ele se tornar arcebispo emérito da Arquidiocese de Olinda e Recife, o que ocorreu em 10 de abril de 1985. As missas nas Fronteiras, aos domingos, tiveram início a partir de 15 de julho de 1985, às 8 horas da manhã.
No mês de julho de 1994, Dom Helder, enfermo, ficou hospitalizado. Depois de receber alta e voltar para casa, sua dedicada secretária, dona Zezita, pediu a alguns padres para acompanhá-lo em suas celebrações diárias em sua própria casinha, os participantes sentados em torno da mesa. Eu iniciei este serviço fraterno no dia 25 de julho de 1994.
Na continuação da história aconteceu que o próprio Dom, no mês de outubro do mesmo ano, sugeriu retomar as Missas dentro da Igreja, e em determinado momento me perguntou se queria ajudá-lo, também, aos domingos às oito horas. Respondi que aos domingos, sim, mas o horário seria um pouco difícil para mim.
Então, ele falou: “Diga você a hora”. Retruquei: “Às onze horas?”. E assim aconteceu. Celebramos com o Povo de Deus, pela primeira vez, no domingo 30 de outubro de 1994.”
A partir daquela data e até a partida do Dom, Padre João celebrou ao lado dele, cada domingo, até agosto de 1999.
Há nove anos, em 30 abril de 2013, Padre João fez as malas e, com o coração carregado de saudades, voltou à sua terra natal, onde viveu com alegria, e pôde ter uma velhice tranquila.
Ao cair da noite desse sábado, na Holanda, preparando-se para a vigília pascal, nosso querido padre João fez, ele próprio, a sua Páscoa, indo ao encontro do Pai. Ele que adotou como lema em sua ordenação sacerdotal: “Para ser testemunha da ressurreição do Senhor” (Atos 1,22), retornou ao Pai no dia da ressurreição de seu Filho. Com certeza foi recebido com muita festa por seu querido Dom, por Assuero e por todos os irmãos e irmãs aos quais serviu durante sua caminhada.
Por certo estão celebrando a Páscoa juntos, com muita alegria e animação. Quem sabe, até, não estão fazendo um carnaval no céu?
As pessoas, por onde passam, deixam marcas, as mais diversas marcas. As marcas deixadas por Padre João são daquelas profundas, que a gente não esquece, sente muita saudade e agradece a Deus o privilégio de tê-lo conhecido e convivido com ele.
Que a nossa saudade seja o nosso alento. Pois só se tem saudade de quem se ama. Que as lembranças, boas ou difíceis, sejam a força que nos impulsionará a seguirmos sempre em frente.
PADRE JOÃO PUBBEN! PRESENTE.
Lido na Missa do dia 17/04/2022 – Domingo da Ressurreição
Homenagem de Irmã Vanda Araújo e Marcelo Barros – enviado à Holanda
“Nós sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos os nossos irmãos” (1a carta de João 3, 14).
Irmãos e irmãs, reunidos pela partida do padre João Pubben:
Neste momento em que nos despedimos do nosso querido irmão João Pubben, essas palavras do apóstolo nos provocam duas convicções importantes:
A primeira certeza é que este nosso irmão João cumpriu essa palavra e literalmente passou da morte para a vida. Não pode ser acidental ou meramente circunstancial o fato de que ele partiu no Sábado Santo à tarde quando já se preparava para celebrar a Vigília Pascal. Foi celebrá-la no céu. Por quase 60 anos, a sua vida foi claramente um exercício de amor aos irmãos e especialmente, como São Vicente de Paulo, o patriarca cuja escola espiritual ele seguiu com tanta fidelidade, o cuidado amoroso com as pessoas mais empobrecidas deste nordeste do Brasil que ele adotou.
O padre João gostava de dizer que ele chegou no Brasil pela primeira vez como padre jovem no dia 16 de novembro de 1965, a mesma data na qual, em Roma, mais de 40 bispos e padres conciliares, inclusive Dom Helder Camara, celebravam nas Catacumbas de Santa Domitila e assinavam o Pacto das Catacumbas. João compreendia essa coincidência como sinal de Deus e de fato o modo como desde o começo ele exerceu o seu ministério presbiteral sempre foi como se ele mesmo tivesse assumido como linha do seu modo de ser padre a proposta da pobreza, simplicidade de vida e comunhão com os mais pobres, que os bispos assumiram viver naquele documento.
Desde este momento, sejam os seus primeiros anos, em Fortaleza, seja a maior parte da sua vida pastoral no Recife, João Pubben sempre foi o irmão de todos, especialmente dos mais pobres e dos que a eles se colocam solidários.
Foi essa sensibilidade que o fez assumir o ministério de cuidador de Dom Helder Camara, quando este já não exercia mais o cargo de arcebispo e tanto pela idade, quanto pela doença, se encontrava fragilizado, sem poder, sem ter mais a influência e o prestígio que tinha nos anos 60 e 70 e, acima de tudo, muito empobrecido. Naqueles anos, João Pubben foi mais do que cuidador. Foi um anjo da guarda e protetor de Dom Helder. Assim representou junto ao Dom a todos nós que éramos gratos por tudo o que, durante décadas, o profeta e pastor Helder Camara fez pela Igreja, pelo povo brasileiro e também pela Paz e pela Justiça em toda a humanidade.
De 1985, quando renunciou à função de arcebispo até agosto de 1999, quando partiu desta vida, Dom Helder Camara viu o arcebispo que o sucedeu destruir sistematicamente todo o trabalho pastoral da arquidiocese junto às categorias mais oprimidas e perseguir e punir os padres e agentes de pastoral que insistiam em prosseguir a caminhada da Igreja dos pobres. Diante disso, Dom Helder assumiu viver o seu tempo de silêncio e de apagamento, mas isso lhe fez sofrer muito. E João Pubben foi nestes anos todos, o seu Anjo Consolador.
Mas a palavra da carta de São João, citada no início desta partilha, nos comunica outra certeza: é que a semente plantada por Dom Helder Camara e pelo padre João Pubben floresce, hoje, na proposta do papa Francisco de uma Igreja em saída, da valorização positiva do diálogo do qual o papa dá exemplo com migrantes e com movimentos sociais e a proposta da Sinodalidade como forma de ser normal e permanente da Igreja. Podemos confiar que o padre João, do céu, junto com Dom Helder Camara e outros profetas dos pobres nos ajudem a firmar este novo modelo de Igreja que o papa propõe.
Diante disso, só podemos agora, diante do corpo deste nosso irmão, dizer a ele, em nome de todos os irmãos e irmãs do Brasil, aos quais ele tanto amou e serviu o nosso profundo e muito sincero agradecimento – muito obrigado – e podemos, sim, retomar a palavra que, conforme a parábola de Jesus, o Senhor diz ao seu servo:
– Muito bem, servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor (Mt 25, 23).
Maria Vanda de Araújo, filha da caridade.
Marcelo Barros, monge beneditino e teólogo.
O Sábio Madrugador
Conheci padre João Pubben em 1998, talvez 1997, não lembro com certeza, quando o Igreja Nova ousava realizar a sua primeira Jornada Teológica e queria homenagear Dom Helder, colocando o seu nome. Foi preciso toda uma aproximação com Zezita e uma delicada negociação, para podermos usar o nome de Dom Helder.
Zezita, com razão, preserva o nome do Dom, para que não fosse usado indevidamente. E, padre João intermediou toda essa negociação.
Alegre, brincalhão, não esquecia nunca as datas importantes na vida dos amigos. Quando estava ainda em Recife, no meu aniversário ou no de Sérgio, era certo que, pontualmente, às seis horas da manhã, o telefone tocaria e ele nos daria os parabéns. Da mesma forma no dia de nosso aniversário de casamento, o telefone tocava, impreterivelmente, no mesmo horário.
Quando voltou para a Holanda, não telefonava, mas enviava e-mail, todos os anos, em nossos aniversários e no aniversário de casamento.
Dono de uma memória privilegiada, foi meu grande suporte durante a montagem do blog do IDHeC, em 2015. Era o meu consultor oficial, fosse para fatos, fotos, datas, bastava enviar um e-mail pedindo ajuda e logo que lia, ele retornava. E, ao longo dos anos, continuo sendo esse suporte que me socorria nas minhas dúvidas sobre uma história ou sobre quem estaria em uma foto ao lado do Dom.
Lembro de que, certa vez, no dia do meu aniversário, ele ligou e estava muito gripado e comentou da profunda tristeza que estava por não poder comer um pedaço do bolo. No dia seguinte eu e Sérgio fomos à sua casa, lá em Dois Unidos, levar bolo pra ele e a cara de alegria que ele fez, por termos ido visitá-lo, foi o melhor presente de aniversário que ganhei.
O telefone tocava também, ao raiar do dia seguinte à distribuição da nova edição do jornal Igreja Nova. Por mais que eu e Bete lêssemos e relêssemos e imaginássemos ter corrigido tudo, não éramos páreo para a correção minuciosa e precisa do holandês que falava um português impecável.
O telefone deixou de tocar em abril de 2013, mas o e-mail passou a ser nosso meio de comunicação regular. A partir de um mesmo abril, nove anos depois, também ele, o e-mail, vai ficar calado. Mês que vem, não vou acordar e ver um e-mail dando parabéns pelo aniversário de casamento, não haverá mais as consultas, os pedidos de informação, o envio de links… só haverá a saudade e a lembrança de ter tido a alegria de conviver com meu querido sábio madrugador.
Rejane Menezes
Homenagem do CENDHEC ao Padre João Pubben
“É urgente fazer aumentar a chama da esperança (ou, quem sabe, reacendê-la) em relação a um mundo mais justo e mais humano. É necessário renovar os compromissos para com os sofredores, os marginalizados e os excluídos”. O trecho é parte da Saudação de Entrada feita pelo Padre João Pubben no primeiro aniversário de falecimento de Dom Helder Camara.
O Padre João Pubben partiu neste último sábado, 16, enquanto se preparava para a celebração da Vigília Pascal, na Holanda. Desde que foi acolhido por Dom Helder Camara e Pe. Arnaldo Cabral, na vinda a Recife, em 1968, acompanhou o Dom da Paz na missão pela fé e pela justiça, até o último dia de sua vida.
O Pastoreou e evangelizou por mais de trinta anos na Igreja de São Vicente de Paulo, em Dois Unidos. Associado do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social tornou-se Sócio Honorário, após se aposentar.
O Na solenidade em que homenageou Dom Helder, o Padre ressaltou que “é justo parabenizar aquelas e aqueles que continuaram, de um ou outro modo, as lutas do Dom”.
O Cendhec saúda a memória e partilha o sentimento de gratidão ao Padre Pubben, pela continuidade à caminhada do daquele ao qual carregamos o nome com orgulho. Agradecemos, também, por sua contribuição à luta rumo a justiça social.
O Assista, um pouco da trajetória do Padre com Dom Helder Camara.
Link do vídeo completo:
Memória Fotográfica