Causos do Dom: Arcebispozinho Comunista
Prof. Martinho Condini
O jornalista Marcos de Castro relata um episódio que aconteceu em relação a Dom Helder na redação da revista Manchete onde ele trabalhava no Rio de Janeiro:
Eu trabalhava na revista Manchete em 1970, então uma das maiores do país, quando a redação recebe da sucursal do Recife uma foto (de Carlos Weick) maravilhosa de Dom Helder: ele, de braços abertos, sorrindo, prepara-se para abraçar duas crianças que correm em sua direção. Ora, Manchete sempre teve na categoria das chamadas revistas ilustradas. Profissional de visão, seu então editor, Zévi Ghivelder, viu que tinha de aproveitar tal foto, embora não houvesse nenhum fato importante a justificar a publicação. Era a foto pela foto, isto é, pelo valor da imagem em si – e isso é importante nas revistas ilustradas, um fenômeno já então em fim de circuito, a começar pela maior delas, o Life, dos Estados Unidos. O editor pediu então a um redator de alta categoria, Narceu de Almeida, que preparasse um texto-legenda, e abriu a foto tomando quase que duas páginas cheias, só restando um espaço branco para o pequeno texto. Sem poder fugir da evocação bíblica óbvia que a foto sugeria (“Deixai vir a mim as criancinhas”), Narceu conseguiu fugir da mesmice e produziu um texto-legenda de primeira qualidade. A foto teve a maior repercussão. Um dia depois de ter ido às bancas a revista daquela semana, um dos diretores da empresa, Murilo Melo Filho, foi chamado ao Ministério do Exército. A revista não passava por censura prévia, mas de vez em quando recebia “recomendações”. Quando Murilo voltou do encontro com os chefes militares, contou rodeado pela curiosidade dos redatores, que estivera reunido numa sala com alguns coronéis (o Ministério do Exército ainda funcionava basicamente no Rio, na ocasião) e que daquela vez as recomendações tinham sido várias.
– Mas e Dom Helder? – perguntaram os redatores.
Dom Helder ocupara realmente boa parte da conversa, explicou Murilo, contando que um dos coronéis, o da cabeceira da mesa (oficiais de inteligência não usavam crachá identificador), encerrara o assunto assim:
– Olha, Dr. Murilo, desse arcebispozinho comunista a revista não deve publicar mais nada, hem! Nem contra!
Nem contra, isso mesmo. Dom Helder por largo tempo não existiu no Brasil. Esteve morto dentro de seu próprio país, mas, como era de se esperar e não previram, cada vez mais vivo fora dele, exatamente nos países de mais peso, nos que mais contam no mundo.
E precisamente nesse mundo “ocidental cristão” a que o Brasil pertence e do qual depende.
CASTRO, Marcos de. Dom Helder: misticismo e santidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. p. 48 a 50.
* O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@gmail.com
2 comentários sobre “Causos do Dom: Arcebispozinho Comunista”
Bom dia ? o mistério da criança sempre presente . O mistério de quem compreende e sai abraçando à criançada, essa pessoa tem poder. Mas Herodes de todos os tempos temem esse poder e tentam em vão que a boa nova chegue ao mundo. O Natal se aproxima, dom Helder a interpelar, como estamos abraçando as crianças? Dom Helder nos pergunta sobre o mistério do menino Deus diante do poder dos homens de má vontade.
Bom dia ? o mistério da criança sempre presente . O mistério de quem compreende e sai abraçando à criançada, essa pessoa tem poder. Mas Herodes de todos os tempos temem esse poder e tentam em vão que a boa nova chegue ao mundo. O Natal se aproxima, dom Helder a interpelar, como estamos abraçando as crianças? Dom Helder nos pergunta sobre o mistério do menino Deus diante do poder dos homens de má vontade.