Um Centenário, Dois Paulos
O ano de 1921 foi um ano abençoado. Fomos presenteados com dois Paulos muito especiais.
Separados por apenas 5 dias e pelas regiões em que nasceram, tão diversas uma da outra, um no Sul e outro no Nordeste, seguindo também caminhos diversos, um, o da religião, o outro, o da educação, como diria um outro Paulo, o de Tarso, “combateram o bom combate”.
Um trazia o P de pastor, pastor que conduzia seu rebanho com sabedoria e acolhimento e que, mesmo que não conhecesse a cada pelo nome, conhecia os seus males e as suas dores. E sabia que, como pastor, deveria ajudá-las a se tornarem livres, das prisões da tortura, da fome e da injustiça.
O outro, trazia o P de professor, que ensina, mas que também aprende com cada aluno, com cada aluna. Também tinha uma missão, libertar seus discípulos das prisões da ignorância e mostrando a Pedro a uva, mostrou-lhe os caminhos do conhecimento e da liberdade, através da educação.
Combatendo a opressão, um lutava ao lado dos perseguidos e presos políticos, enquanto o outro era perseguido e exilado de sua pátria.
Muito embora tenham passado boa parte de suas vidas morando distante um do outro, teve, exatamente, a cidade de São Paulo, o privilégio de receber seus dois xarás ilustres, para nela viver, até o final de suas vidas.
Celebrando no dia 14 o centenário de Dom Paulo Evaristo Arns e, no dia 19, o de Paulo Freire, rendemos aqui a nossa homenagem a esses dois Paulos Guerreiros, que escreveram a história recente do Brasil com as tintas da bravura e da esperança, do verbo esperançar.
Chamado por Dom Helder de meu sobrinho, o pastor soube fazer jus à herança deixada por seu tio, de semear sementes de amor e esperança. Esperança do verbo esperançar, e não do verbo esperar, como dizia o professor.
O professor dizia que “Amar é um ato de coragem”. E, os dois Paulos souberam, como ninguém, viver e amar com a coragem própria dos que sabem que cada vida vale a pena, cada vida vale a luta.
Podemos afirmar que os dois se tornaram símbolos na luta pela libertação e, sem medo de errar, podemos ainda dizer que o Arns evangelizou educando e que o Freire, educou evangelizando.