Causos do Dom: Encontro com o Presidente
Prof. Martinho Condini
Dom Helder se lembra bem de seu primeiro encontro com um presidente da República, foi com Getúlio Vargas, em 1953. Ele foi ao presidente, a mando do cardeal Dom Jaime de Câmara Barros, conversar sobre a concessão do aterro da Glória para a realização do 36º Congresso Eucarístico Internacional, a ser realizado no Rio de Janeiro em 1955.
Disse Dom Helder,
– Presidente, o cardeal não tem nenhuma intenção de apresentar ultimatos, coisa de que, aliás, tem horror. Mas, no caso, não se trata de um ultimato apresentado pelo cardeal ao presidente, mas de um ultimato apresentado pelo tempo aos dois, desde que ficou acertado que o terreno do Aterro da Glória será cedido à Igreja para a realização do Congresso, e só para a realização do Congresso. Acontece que há um prazo, o cardeal assumiu um compromisso, e se a obra do Aterro não começar já, o Congresso Eucarístico não poderá se realizar no Rio.
O presidente Vargas mostrou imediata preocupação e Dom Helder retomou a palavra,
– Até aqui, transmiti o recado que o cardeal me incumbiu de trazer-lhe, presidente. Apenas me permita que eu acrescente que o cardeal considera uma vergonha tão grande o fato de ter assumido a responsabilidade de realizar o Congresso em sua arquidiocese e depois de tanto tempo, ter que devolver essa responsabilidade ao papa, que sem dúvida nenhuma se julgará na obrigação de renunciar ao cargo de arcebispo do Rio de Janeiro.
Era um sábado, o Palácio do Catete estava vazio, mas imediatamente, Getúlio mandou chamar o embaixador Coelho Lisboa, que era o homem nomeado para ser o elo entre o governo e a Igreja para os assuntos do Congresso Eucarístico. Logo, o embaixador estava a frente do presidente e Dom Helder, Getúlio disse:
– Procure o prefeito Mendes Morais (era um general que foi prefeito da cidade do Rio de Janeiro no governo de Eurico Gaspar Dutra e mantido por Getúlio. Na época ele construiu o estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de futebol em um ano e onze meses) agora, esteja onde estiver, e diga-lhe que eu assumi com o cardeal o compromisso de iniciar na segunda-feira as obras do Aterro.
Dom Helder sai do encontro com a satisfação do dever cumprido. Em 1955 é realizado o 36º Congresso Eucarístico Internacional, sob o comando e organização de Dom Helder e a participação de mais de um milhão de pessoas.
CASTRO, Marcos de. Dom Helder: misticismo e santidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.p. 106 a 108
O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@gmail.com