Causos do Dom: A Aeromoça

Causos do Dom: A Aeromoça

 “Caras amigas e amigos, a partir de hoje inicio uma deliciosa aventura literária com vocês,  que denominei “Causos do Dom”, onde reúno aproximadamente cinquenta histórias coletadas ao longo de um quarto de século pesquisando a vida e obra do nosso querido “Dom”, que serão contadas semanalmente neste blog.

Os mais velhos com certeza conhecem algumas dessas histórias, e irão desfrutar das deliciosas e saudosas lembranças do bispo emérito de Olinda e Recife.

Os mais jovens terão a oportunidade de conhecê-lo por meio de histórias incríveis do “bispo dos pobres”, como foi chamado pelos seus admiradores, ou “bispo vermelho”, denominado pelos seus opositores.

Acredito que seja um momento oportuno lermos e pensarmos sobre as histórias e atitudes do mais importante membro da igreja católica brasileira e latino-americana no século XX, Dom Helder Camara, o santo rebelde. A vocês boas leituras, boas reflexões e boa sorte!”

                                   *Prof. Martinho Condini

A AEROMOÇA

Em 1981 Dom Helder encontrou sua amiga, a professora Margarida de Souza Neves no aeroporto de Guarulhos, há muitos anos não se falavam. Ficaram conversando até embarcar e viajaram juntos. Entraram no avião e continuaram a conversar, falaram sobre vários assuntos: a polarização da Igreja entre conservadores e progressistas, as tensões sociais da época, as divergências dentro da PUCRJ, onde ambos lecionaram e falaram muito sobre os familiares.

Antes de o avião decolar a aeromoça começou a explicação dos procedimentos de segurança (utilização da máscara de oxigênio em caso de despressurização da cabine). Então Dom Helder interrompeu a conversa com a sua amiga e disse:

– Um minutinho, minha filhinha. Agora você para um minutinho que eu quero prestar   atenção.

A amiga olhou para ele, pasma, e disse:

– Você vai prestar atenção?! Quantos milhares de vezes você ouviu essa lengalenga?

Ele disse:

– Claro que quero prestar atenção! É o trabalho dela! E esse trabalho é muito importante, é a segurança de todos nós. Eu faço questão de prestar atenção.

E prestou tal atenção que a aeromoça sentiu-se extremamente gratificada.

Enquanto que sua amiga professora, ao freqüentar aeroportos, nunca mais deixou de prestar atenção, nas orientações das aeromoças antes da decolagem.

NEVES, Margarida de Souza. Algumas trilhas de memória. In MONTENEGRO, Antônio; SOARES Elda e TEDESCO Alcides. Dom Helder: peregrino da utopia: caminhos da educação e da política. Recife: Prefeitura de Recife e EdUFPE, 2002, p. 73

 *  O Prof. Martinho Condini é historiador, mestre em Ciências da Religião e doutor em Educação. Pesquisador da vida e obra de Dom Helder Camara e Paulo Freire. Publicou pela Paulus Editora os livros ‘Dom Helder Camara um modelo de esperança’, ‘Helder Camara, um nordestino cidadão do mundo’, ‘Fundamentos para uma Educação Libertadora: Dom Helder Camara e Paulo Freire’ e o DVD ‘ Educar como Prática da Liberdade: Dom Helder Camara e Paulo Freire. Pela Pablo Editorial publicou o livro ‘Monsenhor Helder Camara um ejemplo de esperanza’. Contato profcondini@gmail.com         

Deixe uma resposta