Quarta-feira, 31.3.1982
Meus queridos amigos
Digam-me como entender “Maria, Maria” de Milton Nascimento…
Digam-me de que Maria ele fala:
“Maria, Maria é um dom…
Uma certa magia…
Uma força que nos alerta!
Uma mulher que merece
Viver e amar
Como outra qualquer do planeta…
Maria é o som, é a cor, é o suor…
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri
Quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta!
Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo esta marca
Maria, Maria
Mistura a dor e a alegria!…
Mas é preciso ter manhã
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida!”
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Acho este canto belíssimo. É maior do que Amélia, mulher de
verdade. Quem nao conhece Maria, que nao vive, apenas aguenta?
Vai longe esta observaçao: Aguenta! Nao vive! Quem traz no corpo
esta marca, mistura a dor e a alegria!
Milton, querido amigo, quando voce diz de Maria que ela é a
dose mais forte e lenta de uma gente que ri, quando deve chorar e
acha que para isso Maria precisa ter força, precisa ter raça, precisa
ter garra sempre. Eu acrescento que, sabendo ou sem saber, Maria
tem é um bocado de fé no coraçao!
O nosso querido Joao de Deus me disse, aqui, olhando a nossa
gente sofrida: “Sua gente tem pouca teologia na cabeça, mas tem
muita fé no coraçao!” Daí a estranha e bela, belíssima mania — de
ter fé na vida! Ter fé e nos transmitir fé, e coragem, e esperança, e
alegria de viver!