Natal (R.G.N.), 16/17.1.65
Vigília da IIª Dominga depois da Epifania
A querida Família Mecejanense
No introito da Santa Missa de hoje repetiremos o versículo 4 do Salmo 65: “A terra inteira vos adore, o Deus, e cante em vosso louvor”.
Abençoada a Vigília que transforma em realidade o anseio quase impossível!
Uno-me a Ti, meu Irmão Jesus Cristo: ou melhor, acordo a lembrança de nossa unidade, e, juntos, emprestamos a voz a terra inteira para adorar o Pai!…
Daqui escutamos a voz de teu mar, como o órgão de nossa Vigília…
Aqui, Pai, reencontrei-me com frutas que eu não comia há anos e anos: mangas, atas (frutas de conde), sapotis, coco verde (sem falar em mamão e melões). Louvamos-Te, pela doçura que escondeste nas frutas nordestinas, nas frutas do mundo inteiro…
Louvamos-Te pela rede, cujo embalo amaciador talvez esteja na raiz de minha incapacidade de odiar… A rede que e leito nupcial, berço infantil, descanso e sono, enfermaria e esquife…
Louvamos-Te pelas jangadas que contemplo lá fora, ao luar (Contemplamos!) jangada que, um dia, transformaremos em peça de museu e em símbolo de heroísmo, quando, com a ajuda divina, tivermos arrancado o Nordeste do subdesenvolvimento…
Louvamos-Te pela visão pioneira de homens como D. Eugenio [Sales]: cocriador das Escolas Radiofônicas e do Piúm, dos artesanatos e cooperativas, de Sao Paulo de Potengi e de Nisia Floresta, de Ponta Negra e de sua Equipe maravilhosa, espiritualmente da mesma estirpe da Família Mecejanense…
Louvamos-Te pelo mistério que desenrolas aos nossos olhos: Não é o Acaso (ele não existe!) mas Tua Providência Divina que arranca nosso irmão daqui e o leva para a posição estratégica de Salvador, como não foi o Acaso (que não existe mesmo), mas tua Mao Divina.
Ajuda-nos, encoraja-nos na luta pelo desenvolvimento, que, para nos (para Nós) significa ajudar a arrancar milhões da miséria e da fome, mesmo enfrentando incompreensões e obstáculos como a visita da tarde de ontem: Coronel que veio em busca de um elemento subversivo que se infiltrara no Encontro dos Bispos (Marina Bandeira).
D. Eugenio repeliu-o com extrema violência e os Bispos resolveram enviar, ao Presidente da [fl. 2] Republica, D. Avelar, para denúncia desta e de inúmeras outras manifestações de má vontade e prevenção contra a Igreja…
No caso concreto, e irritação e medo contra uma possível Declaração que nem sei ainda se sairá ou não…
Dá-nos serenidade e firmeza… que nenhum absurdo nos perturbe a calma e nenhum obstáculo nos abata o ânimo! Se entrar nos teus planos divinos que a nossa cota seja humilhação e impossibilidade aparente de agir, aceitamos de antemão tua vontade divina, preferindo o que, por nós, com carta branca, preferires…
Na oração da Dominga, te pediremos a paz. Mas sabes como ninguém que a paz verdadeira se baseia na justiça…
A Epistola e um hino ao espírito de Ponta Negra… e da Vila Venturosa! Pedimos-Te que este seja o espírito dos três Regionais do Nordeste que estamos criando (espirito, sobretudo, dos três Centros Regionais que estão surgindo em Fortaleza, Recife e Salvador).
O Evangelho nos recorda que os milagres continuam. Pensei numa Vigília destas que iria chegar o tempo dos prodígios (são tais as dificuldades e tal a precisão de fé para muitos, que acabarias, Pai, dizendo a teu Filho que, através de nossa fraqueza, realizasse maravilhas). Ri a valer: de milagres se tece a vida de Ponta Negra, de Manguinhos, como de milagres se teceu a do Sao Joaquim e se tecera a da Vila… (já pensaram em adotar como hino a canção do Noel:
“Quem nasceu lá na Vila”?…).
Não cometeremos o absurdo de parar em nossas pequenas Famílias, mas envolveremos a Família humana (de todos os lugares e de todos os tempos), dizendo:
“Eu vos contarei quanto bem o Senhor fez a minha alma.” (Senhor, nesta altura da Vigília, irrompeu nos meus lábios o “zumzumzum
esta faltando um”
Está faltando uma! Cadê Nazira [Vargas]?… Tu me sopras que deve estar atravessando crise grave e precisando que eu Te leve até lá, meu Irmão Jesus Cristo).