113ª Circular – Vigília da ultima Dominga do Advento.




Recife, 19/20.12.64

A querida Família Mecejanense

 

Quem e de zona de seca e já olhou, angustiado, o céu, esperando que uma nuvem se formasse dando esperança de chuva, entende melhor o Introito da Missa de hoje: “Céus, orvalhai e que as nuvens chovam o Justo”.

Chegamos ao cumulo de chamar de bonito o tempo nublado, tal a falta que a chuva nos faz. E o céu de tempo de seca e tão sem nuvem… As noites de lua chegam a doer, pela impressão tremenda de placidez do alto, ante a miséria e a fome…

Há de haver almas, e almas, e almas (quem sabe, povos inteiros) precisando do Salvador.

Como não nos abrimos todos para a misericórdia se a liturgia nos lembra sempre – como o faz ainda a oração de hoje – nossos pecados e a precisão que todos temos da indulgencia divina!?…

Ser humilde e misericordioso, antes mesmo de ser virtude que atrai bençãos divinas, e questão de bom gosto e inteligência…

Na Epístola, São Paulo nos recorda que a Cristo e só a Cristo cabe julgar (“Nem o Pai julgara, porque todo julgamento Ele entregou ao Filho”). Não nos metamos, pois, a julgar até que venha o Senhor…

Lição dificílima e na qual todos nós ainda nos achamos muito crus. Passos importantíssimos: • convencer-nos, por dentro (não para simples efeito externo) de nossa fraqueza essencial e de nossa incurável mediocridade. A saída, para não perdermos tempo, julgando-nos indignos de falar a Deus e de viver mergulhados n’Ele, e avivar, sempre mais, a lembrança da união com Cristo (unidade com Ele);

• quem e, essencialmente, fraco e incorrigivelmente medíocre, tem que ter paciência com os irmãos de fraqueza… O que não representa conivência no mal, nivelamento por baixo… Trata-se de ajudar-nos, mutuamente, a subir, mas já sabendo que todos somos fracos.

• quando a graça nos leva a ter (como Sao Paulo) entranhas de misericórdia, então, instintivamente, julgamos com largueza e bondade, o que não e julgar…

Releiam o Gradual pensando nos milhões e milhões de chamados não-cristaos …

Quem é não-cristão? Por desventura, alguma criatura humana, deixou de contar com a morte de Cristo? Como a todos abraçou em seu sacrifício, como em todos pensou do alto da Cruz, não vejo criatura humana que não seja cristã…

O Evangelho nos apresenta a figura do Precursor. Sejamos Joao com alma de Joao!… Joao Batista com alma de Joao XXIII… Dar testemunho da luz; preparar os caminhos do Senhor; ir, na frente, anunciando; viver a vocação de segundo; diminuir, para que o Mestre avulte e cresça – tudo isto e perfeito em João.

Mas ele ha de entender (cada um tem sua medida e sua missão) que eu prefira tentar fazer tudo que ele faz, mas com espirito de Giovanni…

O Ofertório nos recorda (e como não recordar!?) Nossa Senhora. Quanto mais se aproxima a Grande Noite e a hora suprema entre todas as horas, mais e um encanto unir-nos a Virgem Santíssima que adora, em silencio, seu Filho e Salvador…

Havia tanto Manuel no meio do povo (o Mane que o diga!). Será que se media o alcance do nome e era mesmo homenagem ao Salvador?… De certo modo, Manuel somos todos nos…

Mesmo que a Carta chegue depois do Natal, como para nós deve ser sempre Advento, estudem as Antífonas em Oh! O povo fiel tinha devoção a Nossa Senhora do Oh! O ideal seria que a espera, o desejo, o espanto feliz, fossem atitudes instintivas em nós (o que não quer dizer naturais, não iluminadas pela graça) … Nascessem, de dentro, e rebentassem como forca irresistível… Como adoração e esperança…

O’ chave de Davi, que abres sem que ninguém possa fechar e fechas sem que ninguém possa abrir… Vem e tira da prisão o homem que está assentado nas trevas e na escuridão da morte…

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