NÃO SE CONSEGUE CALAR A VOZ DOS PROFETAS

\”Eu digo a vocês\”, respondeu ele; \”se eles se calarem, as pedras clamarão. (Lucas 19,40)

 

No dia 28 de outubro de 1940 nascia uma criança que, ainda que seus pais nem desconfiassem, escreveria com dor e sangue, um capítulo da tenebrosa história do Brasil nos tempos da ditadura.

Nascia Antônio Henrique Pereira Neto, o padre Henrique, que, aos 28 anos de idade, teve sua vida ceifada, brutalmente, ao ser torturado e executado pelas forças da ditadura militar.

Seu crime? Dedicar sua vida à promoção da vida dos outros.

Ordenado padre aos 25 anos, na igreja da Torre, dedicou-se ao trabalho de orientação a jovens, na Arquidiocese de Olinda e Recife.

 

Sociólogo e professor, era o braço de Dom Helder no meio da juventude, nos locais onde ensinou e nos grupos que orientava. E, além disso, mantinha contato com estudantes cassados pela ditadura, manifestando-se, claramente, contra os métodos de repressão utilizados pelo regime militar.

 

Sua atividade ocasionou várias ameaças de morte, via telefone, procedentes do CCC – Comando de Caça aos Comunistas. Mas não se deixou intimidar, seguiu em frente em sua atuação junto aos jovens e, na noite do dia 26 de maio de 1969, foi sequestrado, após sair de uma reunião com jovens, em Parnamirim.

Seu corpo foi encontrado na manhã do dia seguinte, abandonado em um matagal na Cidade Universitária, com marcas de tortura.

As marcas eram de um assassinato brutal: hematomas por todo corpo, rosto desfigurado, tiros na cabeça, cordas no pescoço, sinais de facada. Um retrato sombrio da tortura. A revelação de um regime político de recessão que não poupou nem mesmo a Igreja.

 

O seu assassinato causou uma comoção geral. Seu enterro foi acompanhado por milhares de pessoas que, apesar de atenderem ao pedido de Dom Helder, de seguirem o trajeto em silêncio, falavam através de suas faixas e cartazes, onde responsabilizavam a ditadura militar e seus órgãos de repressão pelo crime.

 

A morte de padre Henrique intensificou o movimento político em Pernambuco contra a ditadura, mesmo com as perseguições à sua família e aos estudantes ligados a ele.

Segundo o historiador Diogo Cunha a missão de Padre Henrique não era exatamente política, de enfrentamento ao regime, mas assim foi vista, porque trabalhava junto a jovens e, sobretudo, porque estava ligado a Dom Helder. Era tempos de ditadura, revolução estudantil, mas sua missão, segundo Cunha, era aproximar a família, promover união e paz entre pais e filhos.

Assim Dom Helder descreveu o sepultamento de Padre Henrique: “O que tornou o enterro do nosso Padre Antônio Henrique uma enorme demonstração de fé, de esperança e de amor é que o sequestro e a simulação do amigo dos jovens, de um ângulo puramente humano poderia levar a um clima de exaltação, de sede de castigo e de vingança…

 

 

Longe disso, a multidão cheia de fé não se cansava de repetir a palavra de Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado”.

Hoje, ás 17 horas, na Fazenda da Esperança Pe Antônio Henrique Pereira, em Jaboatão dos Guararapes, houve uma Celebração da Eucaristia, presidida pelo arcebispo Dom Fernando Saburido, neste dia em que o Pe Henrique estaria completando 80 anos de vida.

 

“Nada gritará mais alto do que o nosso silencio. Jamais pude esquecer o milagre da partida silenciosa.

Era realmente o mais válido clamor contra as impunidades de um crime bárbaro que continuava clamando ao céu como o sangue dos mártires sem número da Igreja de Cristo!” Dom Helder Camara

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