“O segredo de ser sempre jovem – mesmo quando os anos passam, deixando marcas no corpo – o segredo da perene juventude de alma é ter uma causa a qual dedicar a vida”.
A ação profética e corajosa dos 152 bispos do Brasil que escreverem e assinaram a CARTA ABERTA AO POVO DE DEUS, gerou polêmica dentro da área mais conservadora da Igreja Católica, sob diversas formas de protesto, mostrando que, infelizmente, ainda persiste um pensamento medieval em parte dos católicos, que ainda não se livrou das amarras das cruzadas, missões e da inquisição.
Mas como a esperança é um dos princípios que norteiam a doutrina cristã, a Carta encheu de alegria e de entusiasmo, a outra parte da Igreja Católica que acredita que a libertação dessas amarras fortalece o cristianismo, expressou seu ânimo renovado e reacendeu a chama da vida que ressuscita no pão partilhado e no altruísmo buscado na vida cotidiana.
Reproduzimos abaixo o manifesto da ANPB – Associação Nacional do Presbíteros do Brasil – em apoio à CARTA AO POVO DE DEUS.
MANIFESTO DA ANPB EM APOIO À CARTA AO POVO DE DEUS.
A Diretoria da Associação Nacional de Presbíteros do Brasil – ANPB vem a público manifestar seu apoio à CARTA AO POVO DE DEUS, assinada por 152 bispos, uma representação significativa do episcopado católico brasileiro.
Compreendemos a coragem profética em testemunharem a eclesiologia de comunhão do Concílio Vaticano II em consonância com o Magistério do Papa Francisco e com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB ao denunciarem os desmandos do atual governo, diante da crise gerada pela PANDEMIA DO CORONAVÍRUS COVID-19, bem como diante de outras reformas políticas que afetam a economia, a política, a saúde, a educação, a segurança, a previdência social, entre tantos outros direitos e necessidades do povo desta amada nação.
Temos certo que a reflexão dos bispos, em seu ministério de pastores, está fundamentada na Sagrada Escritura, cuja pedra angular é Jesus Cristo, o amor encarnado. Nenhum outro interesse está ali manifestado, senão a coerência com o múnus profético, procurando lançar luzes sobre a realidade, na certeza de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176).
A concepção política de Estado Laico não impermeabiliza os poderes legitimamente constituídos do anúncio do Evangelho, bem como do confronto com a doutrina social da Igreja, o que mobiliza o episcopado a se pronunciar no contexto de crise pela qual passa o Brasil, bem como todo o mundo. O fechamento ideológico, partidário, etnocêntrico de gestores públicos inviabiliza o diálogo e cria um caos sem precedentes nos âmbitos da economia, da saúde, da segurança, bem como da educação e demais setores da sociedade civil.
Como presbíteros, em nossa caminhada histórica, vivemos imersos nas realidades do mundo, procurando de forma zelosa e autêntica sermos “pastores com cheiro das ovelhas” (Papa Francisco), atentos aos mecanismos de exploração e morte nesta sociedade. Percebemos de perto, o sofrimento de diversos setores que perderam suas referências, sobretudo o do trabalho, o que afeta diretamente a subsistência das famílias.
Junto com o Povo de Deus, vivemos as dores, as angústias, incertezas e inseguranças. Acompanhamos de perto nossas comunidades restringindo o acesso às celebrações eucarísticas, suspendendo todo trabalho de evangelização presencial, aumentando muito o trabalho de assistência social que é “dever do Estado e direito do cidadão” (Constituição Federal de 1988). Procuramos de todo modo fazer nossa parte com fidelidade e Fé.
O sofrimento de pais e mães de famílias, sem trabalho, sem teto, sem moradia digna, com problemas de saúde, desassistidos pelo Estado, nos afetam diretamente; suas dores se tornam nossas dores; suas orações e súplicas também são nossas. Acompanhamos de perto o choro, a angústia, o desespero, o grito dos que não tem para quem apelar. Cristo deseja que a humanidade tenha vida em abundância (Jo 10,10)
Confiamos no Episcopado Brasileiro e concordamos com a proposta de que haja um grande diálogo nacional para refletir todas questões que são ali manifestadas de forma coerente e justa.
Como presbíteros no Brasil levantamos nossa voz profética na esperança de que o Reino de Deus se instaure neste mundo, Reino de Justiça, de Amor e de Paz!
João Pessoa, 04 de agosto de 2020
Pe, Antônio Paulo Cabral de Melo Pe. Anselmo Matias Limberger
Presidente Vice-Presidente
Pe. José Maria da Silva Ribeiro Pe. Edson Marques de Alcântara
Primeiro Secretário Segundo Secretário
Pe. Lázaro Silva Muniz Pe. Maciel Bezerra da Silva
Primeiro-Tesoureiro Segundo Tesoureiro