Após-Concílio
Recife, 31.12.1966/1.1.1967
182ª Circular
Vigília do ano novo de 1967!
A querida Família Mecejanense
O que não é possível e que a Universidade continue desinteressada de tudo o que move as Massas. O que não tem sentido e que ela não tenha olhos para as Massas que vegetam em situação infra-humana, por vezes localizadas na vizinhança das dependências universitárias, nem seja sensível as Massas que brincam o Carnaval, que vibram e sofrem com o Futebol, e invadem as praias para, no Ano Novo, levar flores a Iemanjá.
Claro que não se trata apenas de promover estudos folclóricos sobre os interesses e as atrações das Massas. Trata-se de a Universidade rever, com urgência, o seu próprio conceito de cultura.
Se entre os direitos universais e inalienáveis do homem se acha o direito a cultura, a Universidade tem que colocar em pauta, tem que enfrentar corajosamente o desafio de matar a fome e a sede de cultura que as Massas começam a manifestar – fome e sede que se agravarão sempre mais.
Estude a fundo a Universidade, neste preludio de século XXI, como utilizar as forças enormes e ambivalentes, lembrados aqui: jornais, revistas, rádio e TV; desportos como o próprio futebol; diversões populares como o próprio Carnaval; manifestações religiosas como a própria macumba.
E há outras forças poderosíssimas que a Universidade caberá mobilizar a serviço da cultura, do humanismo. Duas entre outras: o teatro e a Música.
Para citar um exemplo entre muitos: honra seja ao Serviço de Censura que entendeu a lição enorme de civismo e de democracia transmitida, de modo inesquecível, por peças como Liberdade, Liberdade.
Quanto a Música, na cerimônia de formatura de nossos Colegas da Escola de Química da Universidade Federal de Pernambuco, não vacilei em declamar “Pedro pedreiro” e “Disparada”, como lições vivas de conscientização e democracia.
A Universidade ganharia em examinar como método educativo, de forca mundialmente comprovada, o método lançado pela JOC e utilizado por toda a Ação Católica: ver, julgar e agir.