Terça-feira, 21.10.1975
Meus queridos amigos
É célebre, em Roma, uma das janelas do Vaticano. Altas horas da noite, os romanos e os peregrinos, vendo luz por dentro dela, sabem que ainda está desperto, trabalhando ou rezando, o Santo Padre.
Quantas outras janelas no mundo, sem terem a fama da janela que corresponde aos aposentos do Papa, guardam, ao menos para alguns olhos e alguns corações, uma história, um romance, uma saudade…
Quem acompanhou a novela “Gabriela” sentiu a reação violenta do farisaísmo da alta sociedade de ateus contra a janela que era, para Glorinha, descanso, recreio, cinema e TV.
Quem caminha no interior em estrada pouco trafegada ou até meio deserta, quem caminha de noite por estrada escura, vibra de emoção ao avistar, ao longe, uma janela aberta, luz que é indicação certa de presença humana.
Janela aberta, janela fechada. Já experimentaram chegar a uma casa toda fechada e, de repente, ao abrir-se uma janela, sentir a casa invadida de luz e de nova rajada de ar?
Sabem, quando penso no Papa João XIII e no Concílio Vaticano II, a impressão mais forte que me fica é a de que Deus confiou ao bom e querido Papa João o encargo de abrir janelas na Igreja de Cristo.
Janelas que andamos fechando… Janelas de ferrolhos enferrujados dado ao tempo grande em que não eram movidas. João XIII abriu janelas! E como abriu! Ainda hoje há quem reclame de tanta luz e tanta corrente de ar… Olhos já pouco afeitos à luz, viciados na penumbra, sentem a pupila dilatar-se… Os olhos chegam a doer… A claridade parece insuportável!
Janelas fechadas! Há pessoas que nem se contentam em fechar janelas: ainda vedam as frinchas! Quando eu era criança, em minha Fortaleza iluminada a lampiões de gás, cheguei a sonhar em ser acendedor de lampiões! Ainda hoje me parece uma profissão linda: difundir luz, semear luz, criar luz! Não é menos comovente a profissão de abridor de portas e janelas.
Quando um jovem se preparava para ser padre, uma das ordens que recebia era a do porteiro! Na minha cabeça, a ordem do porteiro que eu recebia era um convite não tanto a fechar portas e janelas. Mas a abri-las e escancará-las. Porteiro que torne tão agradável a Casa de Oração, que dê a todos a vontade de nela entrar e de ali receber as inspirações de Deus. Não basta abrir portas e janelas de madeira das igrejas de pedra. O ideal é abrir as portas dos Templos vivos que somos nós, criados não para as delícias do nosso egoísmo… Que todos se sintam criados para Deus e para o próximo, para Deus e para os outros. Pois todos são nossos irmãos…