Quinta-feira, 11.2.1982
Meus queridos amigos
O hino “Prova de Amor” surgiu na ocasião exata do assassinato, do trucidamento do nosso Padre Antônio Henriques. Da Matriz do Espinheiro, passando pela Matriz da Torre, seguindo para o Cemitério da Várzea, atravessando, inclusive, toda a Avenida Caxangá — o hino mais cantado e cantado com mais entusiasmo e mais amor, foi a prova de amor que parecia composto para celebrar o martírio do nosso irmão Sacerdote.
“Prova de amor maior não há Que doar a vida pelo irmão. Eis que eu vos dou o meu novo mandamento Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.
Vós sereis os meus amigos se seguirdes meu preceito Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado!
Permanecei em meu amor e segui meu mandamento Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado!
E chegando a minha Páscoa, vos amei até o fim Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado!
Nisto todos saberão que vós sois os meus discípulos Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado!”
O que tornou o enterro do nosso Padre Antônio Henrique uma enorme demonstração de fé, de esperança e de amor é que o sequestro e a imolação do amigo dos jovens, de um ângulo puramente humano poderia levar a um clima de exaltação, de sede de castigo e de vingança…
Longe disso, a multidão cheia de fé não se cansava de repetir a palavra de Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos tenho amado”.
Duas vezes, o cortejo foi cortado. Não houve exaltação, nem queda de serenidade. Não houve pânico, nem sombra de medo.
Os cantos continuaram — sem provocação, mas sem covardia.
No cemitério, havia proibição terminante de discursos. Lembrei a meu povo que não podia haver nada de mais expressivo e de mais eloquente do que aquela caminhada de quilômetros, cantando e rezando, sem parar.
Disse, à beira da sepultura aberta: Vamos rezar um Pai Nosso, na certeza de que o nosso mártir já contempla o Pai face a face. E depois voltaremos em silencio. Nenhuma palavra. Nenhum canto.
Sobretudo nenhum grito. E acrescentei: Nada gritará mais alto do que o nosso silencio. Jamais pude esquecer o milagre da partida silenciosa.
Era realmente o mais válido clamor contra as impunidades de um crime bárbaro que continuava clamando ao céu como o sangue dos mártires sem número da Igreja de Cristo!
Um comentário sobre “UM OLHAR SOBRE A CIDADE: SEPULTAMENTO DO PADRE HENRIQUE”
Não conheço a história do Pe. Henrique e nem o lugar do seu sacrifício. Gostaria de conhecer.