Foi, sem dúvida nenhuma, mas uma noite realmente memorável nas Fronteiras a celebração dos 55 anos da chegada de Dom Helder Camara à Arquidiocese de Olinda e Recife. Sem dúvida alguma estava à altura das noites memoráveis que Dom Helder promovia no Solar de São José dos Manguinhos.
Se ainda estivesse entre nós, teria batido palmas e cantado com os presentes e abraçaria a todos e todas com muita alegria e carinho.
Provavelmente se emocionaria com o final, ao ver o seu discurso apresentado de maneira tão brilhante e, quem sabe, até faria seus próprios comentários durante a apresentação.
Mesmo não estando mais fisicamente entre nós, a sua presença está impregnada nas paredes da igrejinha onde tantas vezes celebrou a sua tão amada missa e onde, no dia 11, celebramos a sua vida, o seu legado, o seu exemplo e tudo de bom que ele nos deixou.
Com uma igreja lotada, o diretor executivo do IDHeC, Antônio Carlos Aguiar fez acolhida, falando do trabalho exercido pelo IDHeC na preservação e divulgação do legado de Dom Helder Camara e de seu braço social, A Casa de Frei Francisco e seu excelente trabalho de promoção da vida e cidadania com adolescentes de 12 a 17 anos.
E foram alguns desses adolescentes que abriram o Sarau cantando a música UM MUNDO BEM MELHOR, versão de \”We Are the World\”, de Michael Jackson, música tema da campanha contra a fome na África, que realizou dos concertos gigantescos, um nos Estados Unidos e outro na Inglaterra, transmitidos para o mundo todo, via satelit, onde astros como Elthon John, Queens, Michael Jacson e muitos outros cantores e bandas de Rock participaram gratuitamente, com o intuito de arrecadar dinheiro para combater a fome. A escolha da música não poderia ter sido melhor.
Com Raul ao violão e as vozes de Matheus guerra, Kauã David , Alisson Pereira, Evelin Monique, Nalanda, Brenda Nicolle, Tainara , Paloma e Pollyana, os meninos e meninas da Casa de Frei Francisco deram o seu recado, com uma bela apresentação, que encantou a todos presentes.
Anderson Guimarães contou para os presentes a história das nomeações de Dom Helder, que, de janeiro a março de 1964 foi designado para três locais diferentes.
Foi exibido um vídeo do Projeto Memória Viva, lançado no primeiro Sarau, no dia 07 de fevereiro, na celebração dos 110 do nascimento de Dom Helder. O Projeto Memória Vive tem o objetivo de coletar depoimentos de pessoas que tenham convivido com Dom Helder ou que tenham sido tocados por seu exemplo de vida e palavras proféticas e que queiram compartilhar suas histórias e experiências com Dom Helder ou sobre ele. O vídeo mostrou pequenos trechos dos vídeos já coletados de Chico Buarque, Cylene Araújo, Frei Betto, Leda Alves, Leonardo Boff, Marcelo Barros, Márcia Miranda e Pe. João Pubben.
O projeto não tem prazo para acabar. Quem tiver uma experiência para partilhar é só entrar em contato conosco através do e-mail: memoriaviva.idhec@gmail,com.
O projeto não tem prazo para acabar. Quem tiver uma experiência para partilhar é só entrar em contato conosco através do e-mail: memoriaviva.idhec@gmail,com.
A noite foi animada ainda com as bela voz de Isaura e pelos violões de André e Gabriel, cantando Porta Estandarte e Um Povo Novo ou, como é também conhecida,quando o Espírito de Deus Soprou.
Vera Scheidegger falou um pouco sobre o famoso “discurso de posse” de Dom Helder.
Até então bispo auxiliar na arquidiocese do Rio de Janeiro, Dom Helder chegou ao Recife no dia 11 de abril de 1964, para ser empossado, no dia seguinte, 12 de abril, como o sexto arcebispo residencial à sede de Olinda e Recife, em plena efervescência do recente golpe militar que se instalara no Brasil, há dez dias. Com fama de conciliador, foi saudado pelos militares que estavam no comando e que, ao longo do tempo, passaram a vê-lo com outros olhos, olhos que não aprovavam a sua atuação.
Logo em sua primeira fala, ao apresentar sua proposta de atuação à frente da Arquidiocese, ele a define como um serviço voltado para a defesa dos direitos humanos, a organização e conscientização das comunidades de baixa renda.
No dia da posse eclesiástica não houve discurso e sim uma Celebração Eucarística na Concatedral da Madre de Deus. Infelizmente não temos, em nosso acervo, a transcrição da homilia feita por Dom Helder naquele dia.
Entretanto a mensagem que Dom Helder falou para o povo da Arquidiocese de Olinda e Recife ficou conhecida como “Discurso de Posse”, que mostrou, logo de início, a tônica de como seria o seu arcebispado.
Os atores Júnior Aguiar e Daniel Barros apresentaram uma maravilhosa performance para o discurso.
Os dois atores protagonizaram, ao lado de Márcio Fecher, a peça \”Pro(fé)ta – O bispo do povo\”, fruto do projeto Trilogia Vermelha iniciado em 2014 pelo Coletivo Grão Comum e a Gota Serena Produções. A proposta do projeto é contar através do teatro a vida de três nordestinos que marcaram a história do país: Glauber Rocha, Paulo Freire e Dom Helder Camara.
Em 2018, na celebração dos 19 anos da partida de Dom Helder, Júnior e Daniel estiveram aqui e encenaram um trecho resumido da peça, resumindo várias falas de Dom Helder. E hoje eles voltam para nos presentear com a performance do Discurso do dia 11 de abril.
Júnior Aguiar dando vida ao discurso do Dom com muita propriedade e Daniel Barros, representando um homem do povo, empolgaram e emocionaram os presentes e foram efusivamente aplaudidos. A escolha dos dois atores para uma releitura da apresentação do discurso não poderia ter sido mais feliz. Também neles percebia-se a emoção nos gestos e na maneira como apresentaram a performance. (conf. Discurso: http://institutodomhelder.blogspot.com/2016/04/mensagem-de-d-helder-camara-no-dia-da.html)
Já encerrando a noite memorável, uma surpresa que promete ser uma obra de arte para guardar e rever sempre: o projeto da Fotobiografia de Dom Helder Camara – O Santo Revelado. O organizador do projeto, Augusto Lins Soares, apresentou o projeto, exibindo um “boneco” do livro e falando da importância dessa fotobiografia, que contará, através de votos, a vida de Dom Helder.
Augusto é o autor do projeto da fotobiografia de Chico Buarque – Revela-te Chico – uma belíssima obra que está fazendo muito sucesso.
O projeto O SANTO REVELADO precisa de parceiros e colaboradores para sua realização. Foi anunciada, para breve, uma pré-venda do livro, que ajudará a custear o projeto.
Para fechar a noite tivemos algumas palavras do monge Marcelo Barros que resumiu, em poucas palavras, o que significou a vinda de Dom Helder para a arquidiocese de Olinda e Recife e a força de sua atuação como defensor dos oprimidos e excluídos da sociedade.
Para finalizar o monge convidou a todos e todas presentes para rezar de uma maneira diferente, cantando todos juntos, a música EU SÓ PEÇO DEUS.
Com certeza, ao cantar a música/oração, ressoava nos ouvidos de cada um, de cada uma, uma das frases mais marcantes do discurso de Dom Helder no dia de sua chegada:
“Que depois de tanta maravilha que anda realizando, a humanidade não se divida em blocos, não se arme como nunca, não brinque com forças que amanhã poderão arrasar a terra. Que, ao invés de tanto medo e de tanto sobressalto, o homem saiba que, nos momentos mais difíceis, na escuridão mais escura, na noite mais noite, há o começo de uma luz… Que o homem, meu irmão de grandeza e de miséria, reencontre a Esperança!” – Dom Helder Camara, 11.04.1964
GALERIA DE FOTOS