Foi Dormir Bispo do Maranhão e Acorodou Acerbispo em Pernambuco: Quando o Espírito de Deus Soprou e Mudou a História da Arquidiocese de Olinda e Recife
De janeiro a março de 1964 o Vaticano transferiu Dom Helder do Rio de Janeiro para Salvador onde ele exerceria a função de Administrador Apostólico, mas antes de sequer ser enviado a Salvador, outra transferência foi anunciada, Maranhão, para arcebispo de São Luís.
Ao 27 anos, em 1936, chegou ao Rio de Janeiro. Em 1952 foi sagrado bispo auxiliar. Quando saiu de lá em 1964, já contava com mais anos vivendo no Rio, 28, do que a idade com a qual ali chegara, 27. Entretanto jamais esqueceu de suas raízes nordestinas.
Totalmente consagrado ao Evangelho ele tinha decidido ir para onde fosse enviado. No entanto sentia antecipadamente a saudade de tudo que construíra na chamada “Cidade Maravilhosa”, das obras sociais às boas e queridas amizades que tanto prezava.
Foi aí que o Espírito Santo que resolveu dar um daqueles sopros memoráveis, que desarruma tudo, tira tudo do lugar para, em seguida, rearrumar, de forma primorosa, como só Ele sabe fazer.
Dom Helder estava em Roma desde o 1º mês de março, ainda se acostumando à ideia da nova moradia. Na metade do mês lhe chega nova e surpreendente notícia: Nem Salvador, nem São Luís. Novo endereço: Olinda e Recife. Motivo da mudança, o falecimento do arcebispo Dom Carlos Coelho.
Na madrugada do sábado 14 de março, na sua 15ª Circular, ele relata como foi o encontro com o papa Paulo VI, após o recebimento da notícia de sua mais nova transferência.
Dom Helder conta que o papa o recebeu de braços abertos. Abraçou-o paternalmente. E seguida, agradeceu a Dom seu amor à Igreja, pelos trabalhos realizados no Rio de Janeiro, trabalhos que viu com os próprios olhos e o fizeram feliz ao ver como os pobres conheciam Dom Helder e o amavam.
Agradeceu ainda pela Conferência dos Bispos, por toda a ajuda que ele estava dando na realização do Concílio, e acima de tudo, por sua atitude perfeita em face da transferência, inclusive referindo-se a Salvador, São Luís e Recife.
Paulo VI afirmou:” Sei que lhe custará muito arrancar-se de seu Rio e que aos seus colaboradores será também penosíssimo vê-lo partir. Quero que eles saibam que o Papa também sofreu. Mas tenham certeza de que tudo vai correr bem: quando uma criatura fica assim nas mãos de Deus opera maravilhas…”
Dom Helder respondeu que sentia-se tranquilo em saber que o papa em pessoa, examinou tudo, julgou e decidiu para onde ele devia ir.
Paulo VI o interrompeu e disse: “Fique tranquilo. É evidente a mão de Deus sobre a sua cabeça. A Providência se tornou tangível”.
Na tarde daquele mesmo sábado, ele escreveu a 16ª Circular, a sua primeira circular para a “Família Mecejanense”. Ele a inicia dizendo:
“A Rádio Vaticano acaba de anunciar minha transferência para a Arquidiocese de Olinda e Recife”.
Em sua primeira narrativa à Família Mecejanense, ele conclui: “O gesto de oferenda se tornou tão fácil, tão espontâneo e tão feliz, que, em horas assim, não há abalo. Não há surpresa.
A única sombra de sombra continua sendo pensar no abalo e na possível tristeza de vocês.
Quem sabe, no entanto, como as circunstâncias atuais tão especiais – isso afaste qualquer dúvida dos mais céticos quanto à intervenção direta da Providência e torne mais fácil a aceitação?!…
Não me canso de dizer a Deus que não basta que Ele dê força e alegria. É a família toda que precisa de assistência especial. Nossa senhora, cada vez mais amiga e mais solícita, velará especialmente por nós, nesta hora”.
Foi essa pessoa especial, com o coração cheio de bondade e amor ao próximo, com uma visão profética do mundo e das pessoas, que a Arquidiocese de Olinda e Recife recebeu de presente, no dia 11 de abril de 1964, escrevendo, a partir de então, uma nova história para o povo de Deus, não apenas dessa Arquidiocese, mas, por que não de dizer, de todo o Brasil e até do mundo.
Temos como duvidar que foi um sopro do Espírito Santo?