UMA NOITADA MEMORÁVEL NA IGREJA DAS FRONTEIRAS


Celebrar o nascimento de uma pessoa como Dom Helder é sempre um desafio. Como homenagear à altura um profeta? E como prestar uma homenagem à altura de um profeta que seja dentro da simplicidade pregada e  vivida por esse profeta?

Um centenário e mais uma década de uma vida plena de amor, sabedoria e doação, merecia ser celebrado de uma maneira marcante, alegre, repleta de luz e alegria, como o Dom gostava.

A incumbência de organizar a comemoração, ao lado do IDHeC,  coube ao Fórum Articulação de Leigos e Leigas da AOR. E, de repente, inspirada no que escreveu Marcelo Barros em seu livro “Dom Helder Camara – Profeta para os nossos dias, surgiu a ideia de fazer um sarau, recriando as Noitadas no Solar de São José dos Manguinhos. Proposta mais que aprovada, pesquisas feitas, ideias efervescendo e, acima de tudo, um trabalho de equipe, o sarau tomou forma, ganhou corpo e virou realidade, no dia 7 de fevereiro, na Igreja das Fronteiras.

Cobertura da imprensa, matérias na Tv, rádio, jornal, divulgação nas mídias sociais e a mágica se fez, superlotando a igreja de Dom Helder, para comemorar os 110 anos de seu nascimento. Cerca de 500 pessoas passaram pela igreja na noite da quinta-feira, curiosos sobre o sarau mas, acima e tudo ansiosos por prestar a sua homenagem ao arcebispo. Pessoas de todos os seguimentos, movimentos, grupos, instituições e  ONGs.

A Cultura também esteve presente, representada não apenas pelos artistas, mas pela secretária municipal, Leda Alves e, no âmbito estadual, pelo secretário Gilberto Freyre Neto, pelo presidente da Fundarpe, Marcelo Canuto e pelo Vice-presidente Severino Pessoa que aproveitaram o momento para conhecer a Casa Museu.


A realização do evento foi um verdadeiro trabalho de equipe, da qual fizeram parte o IDHeC, o Fórum Articulação de Leigos e Leigas da AOR e a Casa de Frei Francisco. E, claro, os convidados que fizeram o brilho da noite, no palco, digamos assim e na plateia.

A apresentação ficou por conta da Articulação e Antônio Carlos, diretor-executivo do IDHec fez a acolhida e os agradecimentos pela presença de todos e todas e abriu as comemorações. Ainda na abertura foi lida a crônica escrita por Dom Helder para o programa de rádio Um Olhar sobre a Cidade “Mocambos – Cristo na Lama”.




A primeira parte do evento foi o lançamento do Projeto Memória Viva, que surgiu inspirado no vídeo produzido em 1999, em comemoração aos 90 anos de Dom Helder, contendo depoimentos colhidos de pessoas que conheciam o Dom e que falaram sobre ele, de todo  Brasil e também do exterior. Exibido uma única vez no dia 07 de fevereiro de 1999, a cópia final do vídeo nunca foi recebida pelo IDHeC, tendo ficado perdidos esses preciosos depoimentos, inclusive de pessoas hoje já falecidas.

Percebendo a importância de preservarmos a história de Dom Helder através de quem o conheceu ou de quem teve algum tipo de experiência inspirada por ele, surgiu a ideia de iniciar um acervo coletando depoimentos, que serão postados no canal dp youtube MEMÓRIA VIVA – IDHeC, com divulgação através das mídias, tradicionais e mídias sociais do IDheC – blog, twitter, Facebbok e Instagran.

Os depoimentos podem variar de entrevistas a “contação” de histórias vividas com Dom Helder, fatos interessantes da vida dele ou simplesmente falando sobre como o Dom, de alguma forma, teve influência em sua vida. Os vídeos poderão ser gravados por celular, enviados por e-mail e, caso seja necessário, faremos a edição antes de publicar. Para os residentes em Recife que tiverem dificuldade em gravar o vídeo, podemos ir até a pessoa e fazer a gravação.

O Projeto foi lançado no dia 07 de fevereiro e não tem prazo para encerramento sendo, portanto, um projeto contínuo.

Todos e todas podem colaborar seja gravando depoimentos, seja conseguindo mais vídeos e nos encaminhando, seja divulgando o projeto.

As solicitações já estão sendo encaminhadas e já começaram a chegar os primeiros vídeos como do Pe. João Pubben, diretamente da Holanda, de Frei Betto, Leonardo Boff e do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, de quem Dom Helder era um grande e confesso fã e que foi o vídeo exibido na noite do lançamento.


Quem gravar o depoimento e quiser enviar é só colocar o nosso endereço eletrônico: memoriaviva.idhec@gmail.com

Vamos construir a Memória Viva de Dom Helder? Estamos aguardando o seu vídeo.

A segunda parte do evento, o sarau propriamente dito, foi aberto pelo professor da Unicap, Newton Cabral, organizador, ao lado da historiadora do IDHeC Lucy Pina, do livro “A Relação de Dom Helder com as Artes”.


O Prf. Newton falou sobre “As Noitadas no Solar de São José dos Manguinhos”, sua origem, quem participava, mostrando um lado de Dom Helder que muita gente não conhecia: sua sensibilidade às artes. Toda a pesquisa e as descobertas dele foram através de pesquisas nas Obras Completas. O Professo falou também da admiração de Dom Helder por Chico Buarque e leu um trecho de uma das cartas conciliares onde Dom Helder escreveu à Família Mecejanense sobre o cantor, em dezembro de 1967: “Ontem, tive uma inesperada e original preparação para a Grande Noite: indo ao Canal 2, tomar parte num programa, encontrei, nos bastidores, os dois Chicos: o Anysio e o Buarque. Era a primeira vez que eu encontrava, em pessoa, o Chico.

Tive a feliz inspiração de ficar para ouvi-lo. Valeu por uma Vigília de prece. “Roda Viva” é meditação profunda sobre o destino (claro que o entendo como força misteriosa e invencível, mas a serviço dos planos de Deus). “Carolina” tem o dom de comover-me, profundamente. Quantas vezes, a gente faz tudo para tentar que ela veja!… Nascem rosas lindas, surgem estrelas, nascem mundos e Carolina não vê…

De Chico, não se perde uma. Dependesse de mim e quando os líderes da atual classe dirigente (políticos ou empresários) fossem dormir, irromperia, no quarto, “Pedro pedreiro”. Quando fossem acordando, outra dose de “esperando, esperando, esperando…”.

E finaliza a carta dizendo: ”Pedi tanto pelos jovens, ouvindo o Chico. Ele disse, de público, que estava perturbado por ver, no Auditório, o Dom, de quem se proclamou fã incondicional. Pedi tanto pela nossa música que vive momento tão alto!”

A parte musical foi aberta pelo cantos e compositor Silvério Pessoa, que esbanjou simpatia, conquistando a todos os presentes e começou cantando, à capela, Valores do Passado … “Bloco das Flores, Andaluzas, Cartomantes Camponeses, Apôis Fum…”

Pau de Arara foi a segunda música que cantou e encerrou sua participação cantando Coração Bobo, sempre acompanhado pela plateia, que cantava e batia palmas o tempo todo.


A homenagem seguinte foi feita por Reginaldo Veloso que leu um texto que escreveu para Dom Helder em 2000: HELDER, “CÉU CLARO”, OU SEJA, DA RELIGIÃO DO SAMARITANO. A homenagem continuou com a música também de sua autoria, Chacina Geral, com a participação de Heloísa.

A artista plástica Érica, convidada por Reginaldo,  também homenageou o Dom com um desenho feito em grafite e que ela levou para mostrar no sarau. Um belíssimo trabalho admirado por todos e todas presentes.


Uma outra homenagem para Dom Helder foi feita pelo professor da Unicap e membro do MPC – Movimento dos Trabalhadores Cristãos Drance, que escreveu um texto especialmente para o evento.


Para a noite de música e poesia, foram escolhidos alguns poemas de Dom Helder, que foram apresentados por Fátima Glasner e pelos meninos da Casa de Frei Francisco Cauã e Alanda.


E para intercalar com os poemas quatro músicas de Chico Buarque fora apresentadas, por um grupo muito especial formado por André e Gabriel, no violão, Luís na percussão e pela voz de Isaura, começando com Roda Viva e seguida por Valsinha, Quem Te Viu e Quem te Vê e A Banda, que quando começou levou os presentes a se levantarem e dançarem, acompanhando o seu ritmo animado.


Durante toda a noite foram projetadas, na parede da igreja, fotos de Dom Helder, permitindo que os presentes pudessem vê-lo, em tamanho grande, como grande era o seu amor pelos irmãos e irmãs, sua solidariedade, bondade e sabedoria.


Depois do principal homenageado da Noite, Dom Helder, com certeza, o segundo grande homenageado foi o Chico, tão falado pelo Dom sem suas crônicas e cartas.

Após o último poema da noite – Morreu em pleno Carnaval, o monge Marcelo Barros leu o texto que também escreveu especialmente para essa noite de homenagens e que imagina Dom Helder escrevendo uma de suas Cartas Conciliares nos dias de hoje. O texto será postado aqui no blog posteriormente.


E o sarau foi encerrado com a participação da cantora e compositora Cylene Araújo que deu um belo testemunho de sua convivência com Dom Helder e de sua humildade.


Cylene, acompanhada na guitarra por Jorge Coêlho, iniciou sua apresentação cantando o “Xote das Meninas” e encerrou com Madeira do Rosarinho, com a entrada do Bloco Lírico Artesãos de Pernambuco e juntos puxaram os presentes para o pátio da igreja das Fronteiras, 
onde já esperava a banda de Pau e Corda  Evocações,  com o maestro Marcos Barbosa, onde a animação tomou conta de todas, transformando o final da festa em uma prévia carnavalesca.


Nossos agradecimentos a todos e todas que participaram do evento, desde a divulgação, matérias na imprensa,  até montagem da estrutura, homenagens, apresentações musicais um agradecimento especial a fotógrafa Vitória que nos presentou com uma cobertura completa de imagens e que estamos usando nessa postagem.


Podemos, portanto, dizer que o sarau foi, realmente, uma noitada memorável, onde velhos amigos e companheiros de caminhada se reencontraram, trocaram abraços, atualizaram suas vidas e, juntos, como antigamente e inspirados pelo Dom, se permitiram sonhar novamente com um mundo onde todos e todas tenham vida em abundância.
 GALERIA DE FOTOS

Fotos: Vitóriaclic #photography

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