Sexta-feira, 24.10.1975
Meus queridos amigos
Para separar fazenda de fazenda, granja de granja, casa de casa, costuma haver cercas e muros. Como dói! Como aflige! A haver cerca, por que não pensar numa cerca viva, com plantas, as vezes até com plantas que se carreguem de flores? A haver muros, por que não fazer muros simbólicos, baixinhos, amigos, fraternos?
Há muros agressivos, de altura a deixar bem claro que não devem ser escalados. E ainda há quem arme os muros com cacos de vidro, arame farpado. E há até quem chegue ao absurdo de proteger os muros com fios elétricos e com corrente ligada! Se estou lembrando cercas e muros visíveis é para recordar que os piores muros e as piores cercas são invisíveis.
Há muros célebres! Para os judeus é sagrado o Muro das lamentações.
Peregrinos do mundo inteiro visitam a Terra Santa e se detém diante do muro de tão grande significação.
Muro tristemente célebre foi o Muro da Vergonha que impedia os habitantes de Berlim Oriental, sob o controle da Rússia, passar para Berlim Ocidental, sob o controle dos Estados Unidos, da Inglaterra e da França. Quantos alemães foram fuzilados ao tentar escapar de Berlim Oriental?
Mas há muros invisíveis. O que são os racismos senão muros invisíveis que impedem as pessoas de cor a frequentar os lugares reservados aos brancos? Há ou não muros invisíveis separando a classe C, não só da classe A, mas até da classe B?
Um sem emprego, um faminto, roído por doenças, sem futuro, sem esperança, ao chegar diante de um rico, se conseguir chegar, chega como um mendigo. Não tem condição de falar de igual para igual, de irmão para irmão. Aparentemente estão muito próximos, mas há muros invisíveis entre eles…
E quando há muros separando pessoas do mesmo país, crentes da mesma religião, membros da mesma família e até moradores da mesma casa? Há imobiliárias que constroem casas numerosas em várias regiões do país. Sabe qual é a maior construtora de muros invisíveis? Egoísmo Companhia Limitada.
Na impossibilidade da derrubada das cercas e dos muros visíveis, como seria bom se fossem derrubados e para sempre, ao menos as cercas e os muros invisíveis, construídos pelo Egoísmo Companhia Limitada…