UM OLHAR SOBRE A CIDADE: LUTA PELA TERRA

 
Sexta-feira, 20.7.1979
 
Meus queridos amigos
 
Amanhã, em nossa Universidade Católica, na Rua do Príncipe, aqui no Recife, vai haver, se Deus quiser, uma cantata que eu desejaria que fosse assistida tanto pelo povo de nossas comunidades de base, como pelos professores da universidade e até pelas autoridades do governo. A entrada é franca e o espetáculo começa às 8h da noite. O espetáculo se chama Cantata pra Alagamar.
 
Alagamar fica na Paraíba. Lá também, como aqui em Pernambuco, o povo está sendo mandado embora de fazendas, como Alagamar, Mucatu, Coqueirinho, Cachorrinho, Retirada, Lameiro… A Cantata pra Alagamar conta como o povo foi ameaçado de expulsão.
 
Mas o povo se uniu, não para pisar direitos dos outros, mas para não deixar que ninguém viesse pisar direitos dele, que não foram dados nem pelo governo, nem pelos ricos. Os direitos do povo, o povo sabe, vem de Deus. É Deus quem dá.
 
Não faltou provocação em Alagamar. Ameaça em cima de ameaça.
 
Acusação de que o povo estava fazendo subversão e era comunista. Vinha força armada dando tiros para o ar, chegando a ferir um homem.
 
Mas os admiráveis cristãos da Paraíba, animados por padres e religiosos que aprenderam a não só trabalhar para o povo, mas com o povo, os cristãos da Paraíba, sustentados por seus bispos apostólicos, como Dom José Maria Pires e Dom Marcelo Carvalheira a frente, aprenderam que a força do povo é a união, é a resistência pacífica, apoiada por Deus que hoje, como sempre, continua a escutar o clamor do seu povo.
 
A Igreja de Cristo que está na Paraíba, como a que está em Olinda e Recife, e em todo o Brasil e em toda a América Latina, não prega ódio. Nosso povo canta: “Eu acredito que o mundo será melhor quando o menor que padece acreditar no menor.”
 
Esta atitude evangélica da Igreja, de estar aberta a todos, mas estar, sobretudo, com os pobres, como Cristo, esta atitude da Igreja, mal julgada e atacada por preferir ficar com os oprimidos e explorados, está despertando atenção, respeito e simpatia até de não cristãos e não crentes.
 
Quem assistir amanhã, às 8h da noite, em nossa Universidade Católica a Cantata pra Alagamar, vai ter a surpresa de saber que o autor do texto, Waldemar José Solha, pensa que não tem fé. E vai ter a surpresa de saber que Kaplan, que musicou o texto de Solha e compôs a Cantata, é um judeu.
 
A Cantata de Kaplan e Solha vai ser muito bem entendida e aceita em nossa cidade, onde temos numerosos lugares que enfrentam os mesmíssimos problemas de Alagamar.

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