Há cem anos, no dia 10 de novembro de 1918, nascia um pastor que, por 76 anos, dedicaria sua vida a cuidar de suas ovelhas, 45 anos dos quais dedicou à paróquia do Espinheiro.
Estamos falando do cônego Arnaldo Cabral, ordenado padre em 28 de novembro de 1943 pelo então arcebispo de Olinda e Recife dom Miguel Valverde. Entre as várias funções que assumiu após a sua ordenação foi secretário do arcebispo, professor no Seminário de Olinda, capelão do Carmelo, vice-reitor e diretor espiritual do Seminário, capelão da Sé e do Hospital Militar. Na década de 1960 foi professor do Colégio Marista e diretor espiritual do Seminário Regional São Carlos Borromeu. Durante o arcebispado de Dom Helder Camara foi vigário da Arfquidiocese.
O Cônego Arnaldo Cabral partiu para a Casa do Pai aos 99 anos, no dia 13 de maio de 2017.
O Cônego Arnaldo Cabral partiu para a Casa do Pai aos 99 anos, no dia 13 de maio de 2017.
Para prestar uma justa homenagem a esse a quem podemos, sem sombra de dúvida, chamar de Bom Pastor, nada melhor do que as palavras de seu grande amigo Assuero Gomes, pois quem, se não os amigos, conhecem melhor a alma um do outro?
ARNALDO E PAULO
Há dez anos exatamente, dez anos! Escrevi este artigo ao meu amigo e mestre. Hoje, se do tempo ainda dependesse, faria cem.
As palavras que se seguem permanecem atuais, pois no atemporal da eternidade ele mora conosco na lembrança.
Não é apenas porque muitas vezes apenas o médico, dileto amigo, se encontra junto a eles, nem porque um completa 90 anos e o outro 2000. Poderia chamar à semelhança o incansável trabalho na divulgação da Palavra do Cristo e a formação de comunidades, sementes da Igreja maior, única, de diversas matizes e cores, de denominações e confissões variadas, mas que mantém sua unidade na fidelidade do ensinamento, e não na roupagem das culturas nas quais estão inseridas.
Não seria também apenas porque a instituição de certa maneira colocou a ambos num ostracismo sutil, pois nenhum dos dois se envergou ante o peso do hierarca. Não será também porque a história fará justiça ao mais novo, como já fez ao mais antigo.
Nas diferenças entre ambos se encontram suas semelhanças também; se o mais novo é exímio pregador com homilias profundas e arrebatadoras o outro é veemente na palavra escrita.
Refuto como característica intrínseca que os une aqui e na eternidade a coerência na pregação com o testemunho pessoal e a altivez com que exercem seu ofício de semear a Palavra, chegando ao ponto do segundo afirmar que se um anjo em pessoa descesse do céu e ensinasse uma doutrina diferente daquela que ele ensina, seria mentira.
Os dois amigos poderiam ganhar seu sustento da atividade missionária, pois seria justo, mas nenhum deles assim o faz. Paulo, cidadão do mundo, ganha o pão de cada dia construindo tendas com as próprias mãos e Arnaldo, embora bem aquinhoado de berço, dedicou-se também ao ensino, construindo tendas do saber.
Quanto à conversão numa primeira vista são totalmente divergentes. Enquanto Arnaldo foi levado de maneira suave ainda criança e por si mesmo a se iniciar e persistir no caminho da vida dedicada ao Caminho, Paulo por sua vez teve um encontro com o Ressuscitado de maneira abrupta, impetuosa, quase violenta.
Ambos contam com uma legião de admiradores formados nas pessoas que ouviram ou leram suas palavras, ambos têm poucos amigos na proporcionalidade da influência de suas vidas, pois são poucos os que se aventuram a uma convivência mais próxima, talvez pela aura que cerca os formadores, talvez pela sinceridade de seus conceitos e suas palavras.
Nas devidas proporções ninguém poderia pensar Igreja no mundo sem vê-la através dos olhos de Paulo, assim como ninguém poderia pensar Igreja em Pernambuco sem os olhos de Arnaldo.
Assisto ao amigo nonagenário, assim como Lucas assistia a Paulo (na infinita desproporção entre os dois médicos), com admiração e respeito, e no alto destes 90 anos vividos na coerência e na fidelidade a Jesus, cada vez mais lúcido como um bom vinho que apura o sabor e sua capacidade de alegrar a vida da comunidade, e como um raro perfume que com o passar do tempo vai fixando suas qualidades e vai se tornando único, perfumando seu batismo com o sacramento da ordem (sacerdócio) que completa neste mês 65 anos.
A Igreja pode se alegrar na comemoração dos aniversários destes dois gigantes.
Comunidade do Espinheiro, o seu querido Seminário de Olinda, bispos e arcebispos, padres, seminaristas alunos seus, centenas e centenas de ex-alunos, familiares, recifenses, olindenses, povo de Escada, rejubilem-se, pois lhes foi dado a graça nesta terra de Olinda e Recife de se comemorar a Vida de um patriarca.
Assuero Gomes
Médico e Escritor
Dom Helder e Pe. Arnaldo celebrando juntos a da Missa de Ano
Novo na Matriz do Espinheiro, 31 de dezembro de 1995.
CELEBRAÇÃO DOS 90 ANOS DE PADRE ARNALDO |
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CELEBRAÇÃO DOS 90 ANOS DE PADRE ARNALDO