UM OLHAR SOBRE A CIDADE: OS MÉDICOS E A POBREZA

Hoje, 18 de outubro, é o dia do médico. Queremos prestar nossa homenagem a todos que exercem a medicina com  paixão, dedicação e, acima de tudo, com o empenho de lutar para que, um dia, todos homens, mulheres e crianças no Brasil tenham acesso aos meios que proporcionem uma saúde de qualidade e uma vida digna.

Quinta-feira, 15.7.1982
 
Meus queridos amigos
 
Na noite de hoje, espero em Deus ter a alegria de celebrar na Matriz do Espinheiro a Missa de formatura de novos médicos que se diplomaram pela Universidade Federal de Pernambuco. Com o avanço da tecnologia e da eletrônica — quando há recursos — os médicos de hoje dispõem de toda uma aparelhagem, que torna bem mais fácil e seguro o diagnóstico do que se passa com quem busca o socorro da medicina. Mas também os médicos dos nossos dias, não podem esquecer condições terríveis para a saúde, criadas pelo egoísmo que reduz mais de 2/3 da humanidade a uma condição sub-humana…
 
Nada como alguns exemplos concretos para fazer entender o que
estou afirmando: quem não sabe que hoje a tuberculose é perfeitamente curável? Mas pode-se imaginar o sofrimento do jovem ou da jovem formada em medicina, quando lhe surge nas filas intermináveis do *Inamps uma jovem ferida pela tuberculose?
A tuberculose é perfeitamente curável se duas condições puderem existir: o remédio certo em quantidade suficiente e superalimentação.
 
Ora, o próprio remédio, nas clínicas pobres, raramente pode
ser distribuído na quantidade necessária. O jeito é dividir por dois ou três a dosagem que seria necessária para um. E mesmo que o remédio exista, em lugar de superalimentação haverá subalimentação, quando não abertamente fome.
 
Quando vem crianças ao consultório, quem não sabe que qualquer que seja a doença, já é a segunda — a primeira é a fome. E é duro saber que se a fome cobrir os três primeiros anos da criança ela ficará ferida de debilidade mental para o resto da vida? Que saúde pode haver para as multidões sem casa ou sem casebres, mergulhados na lama, sem água nem esgoto ou com água poluída, sem emprego, sem alimentação adequada?
 
Por mim, longe de achar que então é um erro jurar defender a vida em circunstâncias tais, acho apaixonante. Entre economistas, engenheiros, médicos, assistentes sociais e outros especialistas ligados diretamente – estamos precisando de um pacto sagrado para traduzir em termos concretos o juramento de unir esforços para acabar com condições sub-humanas de vida, para criar para todos possibilidade efetiva de utilizar de modo pleno o dom da vida recebido de Deus.
 
* Hoje SUS.

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